São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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BC dos EUA agora anima os mercados

Taxa de juros no país sobe de 5% para 5,25% anuais, 17ª alta, mas Fed usa tom mais suave ao falar de novos aumentos

Bovespa dispara 4,74%, dólar cai 2% e Bolsas dos EUA e da Europa têm altas expressivas, mas Kawall diz que volatilidade pode seguir

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) elevou ontem, pela 17ª vez consecutiva, a taxa de juros norte-americana. Porém, mais importante que o já esperado aumento dos juros de 5% para 5,25% anuais foi o tom mais suave da nota que o Fed emitiu após sua reunião.
No comunicado, de seis curtos parágrafos, o comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) afirma que "os dados da inflação de base estiveram altos nesses últimos meses". "Os últimos indicadores levam a pensar que o crescimento está se tornando moderado. Mesmo que a moderação do crescimento possa ajudar a limitar as pressões inflacionárias, o comitê estima que persistem alguns riscos de inflação."
O tom menos incisivo sobre a inflação teve uma resposta rápida dos mercados globalizados, com as Bolsas subindo com força nos principais centros financeiros. A Bolsa de Valores de São Paulo disparou 4,74%, sua mais expressiva alta em um mês. O real também refletiu a melhora do humor internacional e ganhou terreno. O dólar desceu a seu mais baixo nível em 40 dias, vendido a R$ 2,175 no fim do dia (baixa de 2,07%). O risco-país brasileiro recuou 2,31%, a 254 pontos.
Nos EUA, a Bolsa eletrônica Nasdaq teve expressiva valorização de 2,96%. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, ganhou 1,98% -maior alta desde abril do ano passado.
Na Europa, o resultado não foi diferente: em Frankfurt, alta de 2,29%; em Paris, de 2,23%; e em Londres, de 1,99%.
Uma pequena parcela do mercado apostava em que o Fed subiria os juros do país para 5,5% na reunião encerrada ontem -o que favoreceu o ajuste positivo dos ativos.
O mercado entrou na atual turbulência após a reunião anterior do Fed, em 10 de maio, quando a instituição americana mostrou estar bastante preocupada com a inflação e o aquecimento econômico no país.
O Índice de Preços ao Consumidor americano acumulado em 12 meses ficou em 4,2% em maio, e o núcleo desse índice, que exclui alimentos e energia, foi de 2,4%. O resultado ultrapassa o nível considerado adequado pelo Fed, que, segundo o mercado, é de 2%.
Esse cenário levou investidores a preverem que os juros americanos ainda não haviam encontrado seu teto. Assim, nas últimas semanas, passaram a se desfazer de ações e de ativos de emergentes, fugindo do risco e procurando investir em títulos do Tesouro dos EUA.
"Logo após a divulgação da nota da reunião do Fed, que veio bem tranqüila, o mercado acelerou seus ganhos", afirmou Alex Agostini, economista da Austin Rating. "Acho que pode haver uma nova alta de 0,25 ponto em agosto, mas, dependendo do desempenho da economia americana até lá, pode até não haver", diz.
Alguns economistas vêem a possibilidade de a taxa chegar a 5,75% antes de parar de subir, porque o Fed estaria preocupado com o aumento de preços de matérias-primas e salários.
O atual ciclo de elevações de juros nos EUA começou em junho de 2004, quando o índice estava em 1% ao ano.
O secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, afirmou que, apesar do otimismo do mercado ontem, ainda não é possível dizer se a onda de volatilidade já passou.
Juros mais altos nos EUA diminuem a liquidez global que impulsiona mercados de países emergentes como o Brasil ao atrair mais capital para ativos norte-americanos.


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