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Saída de Rodrigues nada muda, diz Lula
Presidente afirma que não vai oferecer Agricultura a partidos aliados e que não vai alterar índices para desapropriações
Ministro, que deve oficializar
hoje saída do cargo, disse
ao presidente que temia
prejudicar campanha ao
relatar crise no campo
EDUARDO SCOLESE
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem a auxiliares que a saída do ministro
Roberto Rodrigues (Agricultura) não irá modificar a atual política do governo federal ao setor produtivo.
Além disso, para tranqüilizar
por ora os fazendeiros, prometeu não oferecer a pasta a partidos aliados e disse que manterá
na gaveta a portaria que atualiza os índices de produtividade
para a desapropriação de terras
para fins de reforma agrária.
Segundo auxiliares diretos de
Lula, ele não quer comprar briga com os ruralistas em plena
campanha eleitoral.
Rodrigues deve oficializar
hoje pela manhã sua saída da
pasta, em conversa com o Lula
no Palácio do Planalto. Ontem,
o ministro já limpou as gavetas
de seu gabinete numa sinalização de que, a partir da próxima
segunda-feira, não fará mais
parte do primeiro escalão do
governo federal.
A Folha apurou que Lula não
gostou das declarações de Rodrigues ao confirmar, anteontem, sua saída. Avaliou que, ao
falar que não havia motivo pessoal, Rodrigues deu a entender
que haveria divergências políticas e as expôs publicamente.
Até a entrevista, Lula ainda
considerava a possibilidade de
ele permanecer no governo.
Campanha
Na conversa que teve com
Lula na última terça à noite, no
Palácio da Alvorada, Rodrigues
usou a questão eleitoral para
fortalecer seu pedido de demissão. Segundo a Folha apurou, o
ministro disse ao presidente
que, se permanecesse no cargo,
poderia prejudicá-lo na campanha eleitoral ao relatar a realidade da crise do campo e a falta
de apoio do governo federal ao
setor ruralista.
Por conta disso, Lula preferiu não insistir na permanência
de Rodrigues, que alegou ter
cumprido sua missão na pasta,
como repetiu ontem em visita à
Conab (Companhia Nacional
de Abastecimento). Na prática,
após seguidos atritos com a
equipe econômica do governo,
Rodrigues deixa o cargo desgastado com os fazendeiros por
não ter conseguido renegociação total das dívidas do setor.
Substituto
A tendência é que Lula indique o atual secretário-executivo da pasta, o engenheiro agrônomo Luís Carlos Guedes Pinto, para ocupar interinamente
a vaga de Rodrigues. O presidente da Embrapa, Sílvio Crestana, e os secretários da pasta
Ivan Wedekin (Política Agrícola) e Linneu Costa Lima (Produção e Agroenergia) também
apareciam na lista de cotados.
A estreita e antiga ligação de
Guedes com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) não será um empecilho a Lula, que, para agradar
aos fazendeiros, mantém até
hoje na gaveta uma portaria cobrada pelos sem-terra.
Em abril de 2005, Lula prometeu ao MST editar uma portaria que atualizaria todos os
índices de produtividade usados por técnicos do Incra para
verificar se um imóvel rural é
ou não improdutivo. Com os
novos índices, o número de
áreas consideradas improdutivas cresceria, o que aumentaria
também a quantidade de fazendas desapropriadas para o assentamento de sem-terra.
Para tranqüilizar o setor, Lula usará o exemplo da economia. Lembrará aos fazendeiros
que a substituição de Antonio
Palocci Filho por Guido Mantega no Ministério da Fazenda
não modificou os compromissos e os rumos da política econômica do governo. Não só pelas ações e antigas promessas
de reforma agrária radical mas
também por suas declarações,
Lula é visto com antipatia pela
maioria dos ruralistas. Recentemente, o presidente petista
afirmou que há "cretinices" e
"ações oportunistas" entre representantes de fazendeiros.
No Planalto, com o pedido de
demissão do ministro, Lula
lembrou dos alertas que recebeu de alguns assessores críticos do ministro sobre o lado
"sindical" de Rodrigues. Eles
viam no ministro um comportamento de presidente do "sindicato do agronegócio", e não
um administrador da agricultura. Já os aliados de Rodrigues
dentro do governo lamentam
sua saída e alegam que, sem ele,
a situação do setor estaria pior.
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