São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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Saída de Rodrigues nada muda, diz Lula

Presidente afirma que não vai oferecer Agricultura a partidos aliados e que não vai alterar índices para desapropriações

Ministro, que deve oficializar hoje saída do cargo, disse ao presidente que temia prejudicar campanha ao relatar crise no campo

EDUARDO SCOLESE
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem a auxiliares que a saída do ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) não irá modificar a atual política do governo federal ao setor produtivo.
Além disso, para tranqüilizar por ora os fazendeiros, prometeu não oferecer a pasta a partidos aliados e disse que manterá na gaveta a portaria que atualiza os índices de produtividade para a desapropriação de terras para fins de reforma agrária. Segundo auxiliares diretos de Lula, ele não quer comprar briga com os ruralistas em plena campanha eleitoral.
Rodrigues deve oficializar hoje pela manhã sua saída da pasta, em conversa com o Lula no Palácio do Planalto. Ontem, o ministro já limpou as gavetas de seu gabinete numa sinalização de que, a partir da próxima segunda-feira, não fará mais parte do primeiro escalão do governo federal.
A Folha apurou que Lula não gostou das declarações de Rodrigues ao confirmar, anteontem, sua saída. Avaliou que, ao falar que não havia motivo pessoal, Rodrigues deu a entender que haveria divergências políticas e as expôs publicamente. Até a entrevista, Lula ainda considerava a possibilidade de ele permanecer no governo.

Campanha
Na conversa que teve com Lula na última terça à noite, no Palácio da Alvorada, Rodrigues usou a questão eleitoral para fortalecer seu pedido de demissão. Segundo a Folha apurou, o ministro disse ao presidente que, se permanecesse no cargo, poderia prejudicá-lo na campanha eleitoral ao relatar a realidade da crise do campo e a falta de apoio do governo federal ao setor ruralista.
Por conta disso, Lula preferiu não insistir na permanência de Rodrigues, que alegou ter cumprido sua missão na pasta, como repetiu ontem em visita à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Na prática, após seguidos atritos com a equipe econômica do governo, Rodrigues deixa o cargo desgastado com os fazendeiros por não ter conseguido renegociação total das dívidas do setor.

Substituto
A tendência é que Lula indique o atual secretário-executivo da pasta, o engenheiro agrônomo Luís Carlos Guedes Pinto, para ocupar interinamente a vaga de Rodrigues. O presidente da Embrapa, Sílvio Crestana, e os secretários da pasta Ivan Wedekin (Política Agrícola) e Linneu Costa Lima (Produção e Agroenergia) também apareciam na lista de cotados.
A estreita e antiga ligação de Guedes com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não será um empecilho a Lula, que, para agradar aos fazendeiros, mantém até hoje na gaveta uma portaria cobrada pelos sem-terra.
Em abril de 2005, Lula prometeu ao MST editar uma portaria que atualizaria todos os índices de produtividade usados por técnicos do Incra para verificar se um imóvel rural é ou não improdutivo. Com os novos índices, o número de áreas consideradas improdutivas cresceria, o que aumentaria também a quantidade de fazendas desapropriadas para o assentamento de sem-terra.
Para tranqüilizar o setor, Lula usará o exemplo da economia. Lembrará aos fazendeiros que a substituição de Antonio Palocci Filho por Guido Mantega no Ministério da Fazenda não modificou os compromissos e os rumos da política econômica do governo. Não só pelas ações e antigas promessas de reforma agrária radical mas também por suas declarações, Lula é visto com antipatia pela maioria dos ruralistas. Recentemente, o presidente petista afirmou que há "cretinices" e "ações oportunistas" entre representantes de fazendeiros.
No Planalto, com o pedido de demissão do ministro, Lula lembrou dos alertas que recebeu de alguns assessores críticos do ministro sobre o lado "sindical" de Rodrigues. Eles viam no ministro um comportamento de presidente do "sindicato do agronegócio", e não um administrador da agricultura. Já os aliados de Rodrigues dentro do governo lamentam sua saída e alegam que, sem ele, a situação do setor estaria pior.


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