São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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Gás boliviano subirá 56% para a Argentina

Novo valor é de US$ 5 por milhão de BTU; Bolívia formaliza solicitação de reajuste ao Brasil e pedirá ao país ao menos US$ 8

Alegação é que brasileiros terão de pagar pelo preço equivalente a uma "cesta de combustíveis" em SP mais taxa de "ajuste ecológico"

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

A Argentina pagará até o final do ano pelo gás da Bolívia US$ 5 por milhão de BTU (medida britânica de potencial energético), 56% mais do que agora. O acordo foi anunciado ontem pelos presidentes Néstor Kirchner e Evo Morales em Buenos Aires. Para o Brasil, porém, os bolivianos pedem mais: US$ 8 por milhão de BTU para começar a negociar. A proposta foi lançada pelo ministro de Hidrocarbonetos boliviano, Andrés Solis Rada. Segundo ele, US$ 7,5 é o preço de mercado do gás boliviano em São Paulo e o Brasil teria de pagar também US$ 0,5 pelo que chamou de "ajuste ecológico". "US$ 7,5 é o valor de uma cesta de combustíveis ao qual se equipara o gás boliviano no mercado de São Paulo. Aos brasileiros, vamos pedir esse valor e um plus de US$ 0,5 do chamado ajuste ecológico. A proposta boliviana é US$ 8. Com ela, vamos negociar", afirmou Rada. Ontem, durante reunião técnica entre a Petrobras e a YPFB em La Paz, a estatal boliviana formalizou o pedido para aumentar o preço do gás vendido ao Brasil. Com isso, começa a contagem de 45 dias para que se chegue a um acordo. Caso haja impasse, será resolvido por um tribunal de arbitragem, com sede em Nova York, conforme prevê o contrato. A intenção do governo Morales é modificar a forma do cálculo do preço, hoje estipulado a partir de uma cesta de óleos combustíveis. O pedido de ontem ainda não fala em valores. No palco armado para o encontro dos presidentes na Grande Buenos Aires, Evo Morales comemorou o acordo com a Argentina, o primeiro desde a nacionalização dos hidrocarbonetos, em maio. "É um alívio para o nosso povo", disse ele, que afirmou que seguirá negociando com "outros governos". Em sintonia com Morales, em um ato com bandeiras e um enorme pingüim inflável -referências à sua campanha de reeleição-, Kirchner disse que o trato ajuda a "fechar a equação energética" da região e elogiou o governo boliviano. Além do gás, foram fechados acordos de cooperação técnica. Questionado sobre o caso brasileiro, Morales propôs ter um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Necessitamos de um encontro com o presidente Lula. Temos conversado bastante, em Viena, em Puerto Iguazú."

Sensibilidade
O presidente boliviano disse confiar na "sensibilidade do presidente Lula" e também nas discussões dos grupos técnicos para chegar ao novo preço. Disse considerar uma "abertura [ao diálogo]" ter lido na imprensa que a Petrobras está disposta a aceitar um aumento do combustível. Atualmente, a estatal importa da Bolívia cerca de 26 milhões de m3 de gás por dia. Paga US$ 3,43 por milhão de BTU até o volume de 16 milhões de m3/dia. Acima desse total, o custo sobe para US$ 4,21. Na semana passada, o preço sofreu um reajuste previsto em contrato de 10% (os novos valores passariam para US$ 3,77 e US$ 4,63 por milhão de BTU). O acordo obtido com a Argentina deu mais fôlego ao governo boliviano para defender a nacionalização dos hidrocarbonetos e para pressionar por maior preço o outro comprador, o Brasil. "O acordo prova que a nacionalização não estrangulou a produção de gás boliviana e que teremos mercado garantido, que as empresas podem investir em nosso país", disse Solis Rada. O contrato com a Argentina prevê um abastecimento por 20 anos. Por que a Bolívia quer obter do Brasil US$ 3 a mais do que cobrará da Argentina? Para o ministro, fatores como a distância influenciam nos preços pedidos, mas disse ter sido determinante para do valor cobrado à Argentina o financiamento que será concedido pelo presidente Kirchner para a construção de uma fábrica de separação de líquidos a partir do gás na Bolívia. "É o começo do nosso pólo petroquímico." A Argentina pode importar da Bolívia até 7,7 milhão de BTU/dia atualmente (menos de 5% do consumo do país). O trato prevê que a Argentina não poderá aumentar o volume de gás vendido ao Chile, para evitar "triangulação" do produto boliviano. O governo Morales quer usar o fornecimento de combustível para negociar com os chilenos uma saída marítima para o país.


Colaborou FABIANO MAISONNAVE, enviado especial a La Paz


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