|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EM TRANSE
Pressionado pela alta do dólar, endividamento chega a R$ 819,4 bilhões, 61,9% do PIB , o maior nível desde 91
Dívida pública bate o 3º recorde seguido
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O endividamento do setor público atingiu valor recorde pelo
terceiro mês seguido, segundo dados do Banco Central. Pelos números fechados em julho, as dívidas de União, Estados, municípios e estatais, somadas, representam 61,9% do PIB (Produto
Interno Bruto).
É o nível mais elevado desde
1991, quando as estatísticas passaram a ser calculadas pela atual
metodologia. Em maio, a relação
entre dívida e PIB estava em
55,7%, que já era o patamar mais
elevado desde 1991. Em junho,
chegou a 57,9%.
Nos últimos meses, a alta do dólar fez com que o endividamento
continuasse a crescer. Em julho, a
dívida líquida do setor público
cresceu R$ 69,1 bilhões e chegou a
R$ 819,4 bilhões.
Esse aumento foi causado, em
grande parte, pela valorização de
20,54% registrada pela moeda dos
Estados Unidos.
Em janeiro de 1995, no início do
primeiro mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso, a
dívida líquida do setor público
(União, Estados, municípios e estatais) representava 30% do PIB
(Produto Interno Bruto).
A dívida líquida é formada por
tudo o que o setor público deve,
descontados créditos que o governo tem a receber. Aproximadamente metade dessa dívida é corrigida pelo dólar. Por isso, as oscilações da cotação da moeda têm
forte impacto no endividamento
do governo.
Entre janeiro e julho, a dívida líquida do setor público cresceu R$
158,5 bilhões, sendo que R$ 135,2
bilhões foram causados pela alta
de 48% registrada pelo dólar nesse período.
Em queda
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes,
afirma que, com a queda do dólar
ocorrida neste mês -na comparação com as cotações de julho-,
a relação entre dívida e PIB cairia
para 59% em agosto, se mantendo
nesse nível até o final do ano.
Lopes diz ainda que não considera um problema o fato de o próximo presidente assumir seu
mandato com uma dívida pública
dessas proporções. "Se ela estiver
estável [em 59% do PIB", vai ser
ótimo", afirma.
Não existe consenso sobre o nível máximo que a relação entre
dívida e PIB possa atingir sem que
surjam dúvidas em relação à solvência de determinado país. Em
1998, quando o governo criou o
Programa de Estabilidade Fiscal,
o objetivo era estabilizar essa proporção em 46,5% a partir de 2001.
Essa meta foi abandonada no ano
passado.
Ajuste fiscal
Para tentar conter a explosão do
endividamento, o governo recorre, desde 1998, ao ajuste fiscal. Esse ajuste se traduziu em cortes de
gastos e em aumentos de impostos para que o dinheiro economizado pudesse ser usado para abater parte da dívida.
Essa economia do governo é
chamada de superávit primário
(receitas menos despesas, exceto
gastos com juros). Entre janeiro e
julho, o setor público acumulou
superávit de R$ 32,9 bilhões
-equivalente a 4,54% do PIB do
período. Em julho, o superávit ficou em R$ 3,9 bilhões.
Diante do aumento inesperado
da dívida, o superávit primário
programado para este ano foi revisto de 3,5% para 3,75% do PIB.
Em reais, essa nova meta deve ficar próxima de R$ 48 bilhões.
Embora elevado, o superávit
primário registrado entre janeiro
e julho não foi suficiente para
conter o crescimento da dívida,
que passou de R$ 660,9 bilhões
-ou 53,3% do PIB- para R$
819,4 bilhões.
Por outro lado, um aumento do
endividamento não significa que
tenha ocorrido um crescimento
de igual proporção nos gastos do
governo, pois a dívida é paga em
várias parcelas ao longo do ano.
Em geral, o governo rola as parcelas da dívida que vencem, pagando apenas os juros referentes a esses compromissos.
Entre janeiro e julho, as despesas relativas a juros da dívida pública somaram R$ 51,5 bilhões.
Como o superávit primário não
foi suficiente para fazer todos esses pagamentos, o setor público
ficou com um déficit de R$ 18,6
bilhões nas suas contas.
Para financiar esse déficit, o governo precisa recorrer a novos
empréstimos -feitos, em geral,
pela emissão de títulos públicos-, o que provoca um aumento da dívida.
O problema é que, diante da
desconfiança do mercado, o governo está sendo obrigado a reduzir cada vez mais os prazos dos títulos vendidos no mercado nos
últimos meses.
Para 2003, a expectativa é que os
vencimentos da dívida em títulos
do governo federal cheguem a R$
168 bilhões, sendo que 23% desse
total se refere a papéis corrigidos
pela variação do dólar.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Entenda: Conversão é feita pelo dólar do último dia do mês Índice
|