São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Empresa toma empréstimo por meio do Citibank no Japão e consegue R$ 750 milhões com lançamento de debêntures

Petrobras obtém US$ 180 mi no exterior

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A Petrobras conseguiu furar o bloqueio de crédito externo que o Brasil enfrenta desde maio e que reduziu drasticamente o financiamento de exportações e o refinanciamento de dívidas de empresas brasileiras. A empresa vai receber recursos externos no valor de US$ 180 milhões para desenvolver a produção em campos de gás para o abastecimento de usinas termelétricas. O dinheiro virá de um empréstimo coordenado pela filial japonesa do Citibank.
Essa captação, segundo a Petrobras, estava sendo negociada desde dezembro do ano passado.
Trata-se de uma das maiores linhas de crédito externo para uma empresa brasileira desde o início da crise cambial brasileira e da disparada do risco-país.
É também o primeiro financiamento externo conhecido desde o encontro do ministro da Fazenda, Pedro Malan, e do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, com 16 bancos estrangeiros, na segunda-feira passada, em Nova York. Malan e Fraga foram aos EUA tentar convencer os bancos estrangeiros a manterem seus financiamentos para o Brasil. Conseguiram apenas uma promessa informal de que o volume das linhas de crédito não iria diminuir.

Empréstimo em reais
A Petrobras também concluiu ontem operação inédita de lançamento de debêntures -títulos de empresas-, com a qual conseguiu captar recursos no valor de R$ 750 milhões. Foi a primeira vez que a estatal vendeu esse tipo de papel, que é destinado exclusivamente ao mercado interno.
Debêntures são títulos de empresas, que, ao contrário das ações, não representam uma participação no capital da companhia. Seu atrativo é a remuneração, dada por uma taxa de juro pré-determinada, acrescida, em geral, pela correção da inflação. Pelas regras brasileiras, as debêntures só podem ser vendidas a investidores nacionais.
A Petrobras só não captou mais recursos porque não quis. Recebeu propostas dos interessados no papel para vender até R$ 1,360 bilhão. Mas preferiu limitar a oferta aos R$ 750 milhões. A maior demanda permitiu que o juro pago caísse de 11,5% para 11% ao ano.
Segundo a Petrobras, o objetivo da captação foi conseguir recursos para capital de giro e também alongar o perfil da dívida da empresa com papéis de prazo maior.
Além do juro de 11% ao ano, os papéis serão remunerados também pela variação do IGP-M (Índice de Preços ao Consumidor -Mercado), que nos últimos 12 meses (até agosto) está em 11,01%. O prazo dos títulos é de dez anos.
Trata-se de debêntures simples, ou seja, não poderão ser convertidas em ações da companhia após o prazo de vencimento.
A Petrobras informou que havia 39 investidores interessados em adquirir as debêntures. Decidiu, porém, aceitar proposta de apenas 25, sendo 7 pessoas físicas -fato inédito nos lançamentos da companhia. Os maiores investidores desse tipo de papel são fundos de pensão.
Intensiva em capital como todas as empresas do setor de petróleo, a Petrobras teria optado, segundo analistas de mercado, por lançar debêntures no mercado nacional por causa do cenário de aversão internacional a investimentos de risco.
Apesar de conseguir dinheiro no exterior com taxas melhores do que o governo brasileiro, a Petrobras sofreu também com o aumento do risco-país e poderia ter o juro de seus empréstimos externos aumentado num novo lançamento. De acordo com analistas, o banco Pactual, que é o líder da operação, teria procurado a Petrobras e mostrado a ela que existia uma forte demanda por debêntures da empresa no país.
Também participaram da emissão dos papéis a CEF (Caixa Econômica Federal), o Bradesco e o Itaú.


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