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OPINIÃO ECONÔMICA
A economia brasileira mostra que está viva!
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A pesar de todo o peso da crise financeira, a economia brasileira mostra sinais evidentes de vigor e força na sua recuperação. Os setores ligados à agropecuária e às exportações apresentam um dinamismo extraordinário, apesar dos juros elevados, da falta de crédito interno e externo e de um sistema tributário que tira energia vital das empresas. A principal força desse aparente milagre é a taxa de câmbio real extremamente desvalorizada.
Com o dólar valendo R$ 3, as empresas que exportam estão tendo um estímulo muito forte para aumentar suas vendas, e as importações, agora muito caras, estão sofrendo a concorrência agressiva da produção interna. Além
disso, a recessão e a queda do consumo estão obrigando setores importantes, como o automobilístico, a direcionar parte de sua capacidade produtiva para os mercados externos. Da mesma forma, o
turismo ao exterior está sendo
substituído por viagens aqui mesmo no Brasil.
Os críticos de plantão vão desqualificar esse ajuste em curso argumentando que o preço desse
movimento de resposta à crise externa é a recessão e o sofrimento
do povo. Ignoram que as economias de mercado têm uma dinâmica, racional e conhecida, para
reagir a situações de desequilíbrio,
como a que estamos vivendo. O
desaquecimento momentâneo é
um mal necessário.
Esquecem, ou não conhecem
também, as lições que a história
nos ensina de maneira muito clara. Tomemos o exemplo da Coréia
do Sul. O país passou por uma crise externa gravíssima em 1997,
iniciada a partir da quebra da
Tailândia, e em um contexto político muito semelhante ao que estamos vivendo. A eleição de um
eterno oposicionista como presidente, crítico duro e superficial da
política econômica do governo
anterior e visto com desconfiança
pelos mercados, levou o país para
perto da insolvência externa. Como aqui a moeda nacional entrou
em colapso, os credores externos
abandonaram desastradamente o
país, provocando uma crise quase
terminal.
Um megapacote de ajuda internacional e uma política econômica lúcida trouxeram a economia,
depois de dois anos, novamente ao
leito do crescimento sustentado. O
novo presidente esqueceu suas
idéias exóticas do passado e liderou um programa ortodoxo de
ajuste macroeconômico e de reformas na institucionalidade microeconômica do país. Apesar do
ceticismo habitual do sistema
bancário internacional -como
dizia Keynes, um bando de ovelhas irracionais e assustadas em
momentos de crise-, o país acabou saindo mais forte daqueles
dias difíceis. No mundo conturbado de hoje, a Coréia do Sul é uma
ilha de prosperidade e o presidente Kim, um líder reconhecido pela
maioria de sua população.
O caminho a ser trilhado por
nós, brasileiros, deve ser semelhante ao da Coréia do Sul. A partir do programa já negociado com
o FMI e outras instituições multilaterais -a ser complementado
no próximo ano com os bancos
privados internacionais, principalmente com um acordo em relação às linhas de financiamento de
comércio- e com a credibilidade
de um governo comprometido
com uma política macroeconômica adequada, poderemos iniciar
nossa recuperação ainda em 2003.
Continuidade do ajuste fiscal,
mudanças inteligentes no sistema
de metas inflacionárias, que permitam uma redução importante
dos juros e compromisso com a redução estrutural e não apenas
conjuntural do déficit de transações correntes de nosso balanço de
pagamentos, devem ser as prioridades do novo presidente.
Como fez a Coréia do Sul, deveremos também promover reformas no nosso sistema produtivo e
definir uma agenda de ações efetivas para aumentar nossas exportações e reduzir o coeficiente de
importação atual. Enfrentar estrangulamentos de nossa infra-estrutura econômica, principalmente no setor de energia, iniciar a revisão da questão regulatória em
vários setores dos serviços públicos
e tratar de forma séria a reforma
tributária fazem parte dessa agenda.
Enfrentar os problemas atuais
trocando a racionalidade econômica pelo ativismo irracional e
demagógico da campanha eleitoral será o caminho mais curto para mergulhar o país em uma situação de caos. Como bem disse
em sua coluna o jornalista Elio
Gaspari, a história política do
Brasil mostra que temos tido dois
tipos de presidentes da República:
os que entram em uma crise grave
e saem dela com uma solução ou
com uma crise de intensidade
muito menor, e aqueles que, por
sua ação política e administrativa, acabam agravando a crise inicial. Felizmente para nós, dos três
candidatos competitivos nas próximas eleições, dois estão dando
sinais claros de que estão entendendo o cenário atual. Serra por
convicções próprias como economista que é e Lula por ter atrás de
si um partido que amadureceu
nas derrotas passadas e pelas experiências administrativas vividas em várias unidades da União.
As declarações do candidato do
PT, principalmente na suas segundas versões, têm surpreendido
pela sua lucidez. Agora mesmo, na
questão da política de compras de
plataformas marítimas pela Petrobras, podemos encontrar essa
nova maturidade do PT. Suas primeiras declarações, dadas no calor de uma visita a um estaleiro no
Rio de Janeiro, foram agressivas e
incorretas. Posteriormente, em
um programa de televisão, ele corrigiu-se e defendeu uma posição
absolutamente correta.
Quanto ao candidato Ciro Gomes, fica uma incógnita, na medida em que não temos informação
sobre o que ele pensa como devemos enfrentar a crise atual. A entrada do economista José Alexandre Scheinkman, com um pensamento econômico igual ao do malanismo em sua equipe, apenas agrava esse quadro de incertezas.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 59, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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