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Mão-de-obra degradante migra para o interior de SP
Com aperto da fiscalização, oficinas clandestinas se instalam fora da capital
Confecções que empregam
de forma irregular já foram
identificadas em cidades
como Americana, Araçatuba,
Indaiatuba e São Roque
DA REPORTAGEM LOCAL
A exploração da mão-de-obra de bolivianos em situação
irregular no país está migrando
da região metropolitana para o
interior paulista, após a fiscalização da Delegacia Regional do
Trabalho e do Ministério Público do Trabalho de São Paulo intensificar a sua atuação para
coibir a prática e regularizar o
trabalho desses estrangeiros.
Americana, Araçatuba, Indaiatuba e São Roque são algumas das cidades em que os fiscais e o Sindicato das Costureiras de São Paulo já identificaram a instalação de confecções
ou oficinas que empregam
mão-de-obra irregular.
Além da migração para o interior, o perfil de quem explora
os bolivianos está mudando.
"Ainda há empregadores de
origem estrangeira, como sul-coreanos, mas hoje os bolivianos regulares abrem microempresas e dão vagas aos conterrâneos irregulares", diz Regina
Haddad, fiscal do Trabalho. "O
salário deles está longe do piso
de R$ 659 garantido à categoria", afirma Eunice Cabral, presidente do sindicato.
Um tradicional lojista do
Brás, que prefere não se identificar, diz que outra forma encontrada por essas oficinas de
escoar a produção é via camelôs
e feiras clandestinas, como a
que ocorre de madrugada na
rua Oriente e imediações.
"Como temem serem denunciados à Polícia Federal, eles se
sujeitam a qualquer trabalho.
Recebemos em média 30 denúncias por mês. São bolivianos que contam que tiveram os
documentos apreendidos, relatam receber R$ 50 por mês e temem denunciar os patrões por
sofrerem ameaças", diz Paulo
Illes, coordenador-geral do
Centro de Apoio ao Migrante.
Bolivianos que estão irregulares no país e trabalham em
condições insalubres relataram
à reportagem que preferem trabalhar dessa forma a "passar fome" em seu país. "Aqui pagam
pouco, não tem registro em carteira. Mas é melhor do que lá",
diz Juan (o nome é fictício porque teme sofrer represálias).
Ele afirma cumprir jornada das
7h às 22h, de segunda a sexta.
Aos sábados, trabalha das 7h às
12h. Recebe R$ 0,50 por peça
costurada e envia parte do pagamento à família.
Na Barra Funda, um falso estabelecimento comercial é usado para ocultar duas oficinas
clandestinas. Famílias de bolivianos, com crianças, moram e
trabalham no local. O Ministério Público do Trabalho investiga o caso e deve tomar em breve medidas jurídicas contra os
que exploram os estrangeiros.
Para o juiz do Trabalho Marcos Neves Fava, as condições de
trabalho dos bolivianos são similares às dos chineses. "É um
padrão de emprego chinês. Salários baixos, jornadas longas e
sem direitos." No final de 2005,
ele atendeu a um casal boliviano, num fórum da cidade, cujos
documentos foram presos pelo
empregador. Eles costuravam
três peças inteiras por um prato de comida. Após fugirem de
uma oficina, abriram uma ação.
"Nós falamos do trabalho análogo ao escravo no Pará, mas tudo isso ocorre aqui debaixo do
nosso nariz."
(CLAUDIA ROLLI e FÁTIMA FERNANDES)
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