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Paraguai quer vender excedente de Itaipu
País quer assumir venda de energia no Brasil, hoje feita pela Eletrobrás
Para diretor paraguaio de
Itaipu, não há impedimentos
legais; lado brasileiro não
concorda e especialista diz
que energia subiria no Brasil
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Carlos Mateo Balmelli, diretor paraguaio de Itaipu, passou
a última semana se encontrando com representantes de empresas privadas de energia, em
São Paulo. Segundo Balmelli,
diversas distribuidoras e comercializadoras estão interessadas na proposta de que a Ande (Administração Nacional de
Eletricidade do Paraguai), em
vez da Eletrobrás, passe a vender a energia excedente do Paraguai no Brasil.
"Pleiteamos acesso ao mercado brasileiro, já que atuamos
num sistema de co-gestão paritária, e por preços justos", diz
Balmelli. "Queremos que a Ande venda no Brasil a energia do
Paraguai pelo preço médio praticado pelo mercado regulado e
também possa vendê-la no
mercado livre."
Segundo Balmelli não há
qualquer impedimento legal ou
no tratado bilateral que impeça
a vinda da Ande ao Brasil.
"A Ande é proprietária de
Itaipu como a Eletrobrás e há o
conceito de binacionalidade no
acordo", diz ele. "Se a Eletrobrás pode vender a energia no
mercado brasileiro e a Ande
não, há iniqüidade", afirma.
Hidrelétricas paraguaias
Balmelli afirmou ainda que o
Paraguai pretende atrair empresários brasileiros para investir em usinas hidrelétricas
naquele país e transformar o
setor numa importante fonte
de receita nacional. "Itaipu foi
criada para ser um instrumento de fomento ao desenvolvimento, mas pode se transformar num negócio", diz ele.
Procurada, a Eletrobrás direcionou o pedido de entrevista a
Itaipu. Por meio da assessoria
de imprensa no Brasil, a Itaipu
respondeu por e-mail que a Ande não poderá vender a energia
paraguaia no Brasil.
"O que o Paraguai não consome deve ceder ao Brasil. O que
o Balmelli fala é uma interpretação paraguaia do tratado", escreveu a assessoria. "Nenhuma
das empresas estrangeiras [do
setor de energia presentes no
Brasil] é regulamentada por
um tratado binacional, aprovado pelos dois governos e Congressos dos respectivos países."
Ainda segundo a assessoria,
Itaipu não foi concebida para
ter lucro, mas para cobrir o seu
custo de serviço. O tratado teria
de ser mudado para permitir
que a usina se transformasse
num negócio.
Segundo Balmelli, as contrapartidas oferecidas pelo governo brasileiro para atender as
reclamações do governo paraguaio em relação ao preço da
energia de Itaipu não entram
em seu pleito.
"São coisas diferentes que
não devem ser misturadas.
Confiamos na liderança do presidente Lula, que já falou em integração regional do setor
energético", diz. "Não interessa
ao Brasil ter um vizinho pobre."
Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, acredita
que o governo brasileiro não
atenderá ao pedido dos paraguaios. "É evidente que as empresas de energia brasileira vão
querer negociar com eles porque há forte pressão de preços
no mercado livre", diz Castro.
"Porém essa energia está contratada nas distribuidoras até
2023. Além disso, haveria um
impacto enorme nas tarifas do
mercado cativo."
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