São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007 |
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BENJAMIN STEINBRUCH Nem silêncio nem omissão
EM ALGUNS momentos, durante a reunião convocada pelo presidente Lula com 96 empresários na semana passada, lembrei-me de uma pesquisa feita no início do ano pelo Instituto Ipsos, a pedido do Ciesp. O objetivo da iniciativa era mostrar o que a sociedade espera do empresário brasileiro. O resultado da pesquisa certamente explica por que aqueles homens e mulheres estavam ali no Planalto na quarta-feira. A maioria absoluta da população brasileira, 73%, acha que o principal papel do empresário é exercer responsabilidade social e investir no país. Isso talvez explique também o comportamento -que eu chamaria de civilizado- dos participantes da reunião. Por um momento, deixaram de lado seu espírito crítico e até posições político-ideológicas para pensar o país. Na pesquisa, apenas 4% dos entrevistados disseram que o principal papel do empresário é político. Mas o que é responsabilidade social para um empresário? Considero que, em primeiro lugar, é a obrigação de cuidar do próprio negócio, para que ele prospere em benefício da comunidade, por meio do aumento da produção e da geração do maior número possível de empregos. É socialmente inaceitável, por exemplo, o conformismo com o próprio negócio, aquela tentação que às vezes ataca o empresário acomodado, baseada na idéia de que já tem um empreendimento robusto que não precisa mais crescer. A garra empreendedora, que Keynes chamou de "espírito animal", é qualidade obrigatória no empresário socialmente responsável. Responsabilidade social, porém, é mais do que isso. Confunde-se, muitas vezes, o exercício da responsabilidade social com o assistencialismo, materializado em ações que visam a atacar problemas pontuais com injeção de recursos para resolvê-los de forma isolada. Essa atitude é necessária e útil para curar crises agudas. Responsabilidade social é mais abrangente. Consiste em procurar participar efetivamente do enfrentamento de causas e não apenas da extirpação de sintomas. Cabe ao empresário, grande ou pequeno, pelos recursos de que dispõe e até pela influência política que tem, procurar participar de ações para atacar os problemas sociais em sua raiz. E isso, de preferência, na comunidade em que está inserido, sem pretensão de se achar o salvador da pátria. Ao participar do encontro com o presidente Lula, de forma civilizada, os empresários atendiam a essa demanda da sociedade, de que devem assumir suas responsabilidades. Empresários conscientes não podem se negar a pensar o país. Faz parte dessas responsabilidades, porém, o firme engajamento em programas de crescimento econômico e desenvolvimento, que no longo prazo é o maior remédio para os problemas do país. É um erro considerar que a atitude comportada dos empresários na reunião do Planalto seja um sinal do advento de um período de omissão e silêncio a respeito de políticas econômicas equivocadas. De minha parte, voltarei a enfatizar, sempre que julgar necessário, a ortodoxia recessiva da política monetária e cambial, a falta de políticas industriais focadas nas vocações brasileiras, a ganância arrecadadora do governo, os gastos exagerados do setor público com despesas correntes e a urgência de investimentos em infra-estrutura. Essa pregação é necessária para combater mentalidades retrógradas, que retardam de maneira dramática o desenvolvimento. Reconhecer avanços é obrigação de qualquer cidadão. A economia melhorou. Mas, como pode melhorar muito mais, a luta continua. BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. bvictoria@psi.com.br Texto Anterior: Estatal diz que pode operar novo campo Próximo Texto: Com nova alta, Bolsa rompe 65 mil pontos Índice |
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