São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O dólar baixa, a indústria sobe


Mesmo com a alta do real e da quantidade de importações e redução de exportações, mais setores da indústria crescem

VAI SE SABER apenas amanhã se o Fed vai de fato baixar juros, mas a perspectiva para até meados do ano que vem é de divergência de taxas de juros brasileiras e americanas e de queda na percepção do risco de investir no Brasil -isto é, os juros brasileiros vão ficar relativamente mais altos, afora tragédias financeiras mundiais, no mercado de crédito ou na Bolsa chinesa.
Taxas de juros americanas mais baixas, dólar em baixa e desaquecimento ou lentidão econômica nos Estados Unidos vão espalhar capitais pelo planeta, no Brasil inclusive. Mesmo com a queda do saldo comercial brasileiro, os fluxos financeiros vão dar e sobrar para empurrar o dólar para baixo contra o real.
Dólar a R$ 1,65 no final do ano já diz presente em algumas planilhas. Embora o real não se fortaleça no mesmo ritmo contra as moedas dos demais parceiros comerciais do país, a indústria nacional tende a perder mercado nos EUA, seu principal consumidor externo. E a rentabilidade das exportações caiu um pouco em relação a meados do ano.
Ainda assim, cada vez mais setores da indústria brasileira crescem acima da média da indústria nacional; cada vez mais setores entram no azul ou recuperam terreno perdido.
A análise dos subsetores da indústria, mesmo os mais influenciados pelo comércio externo, não mostra relação estável entre câmbio e produção nacional. Sim, há setores em péssima situação, como os eletrodomésticos da "linha marrom" e os avariados faz mais tempo, como calçados, têxteis, madeiras, óleos, alguns plásticos, químicos e óleos vegetais em "recessão", mas alguns deles em recuperação ao longo do ano.
Entre os campeões de importação, estão vários setores com produção no limite, ou de máquinas e equipamentos (muitos sem similares aqui) e de muitos insumos industriais, produtos semi-elaborados que respondem à alta da procura doméstica de bens industrializados.
Em resumo, ficou ainda mais difícil dizer que a enorme valorização do real está produzindo desastre sistemático na indústria. Mas continua tão difícil quanto no início do ano dizer qual o tamanho da resistência dessa mesma indústria se o real permanecer no mesmo ritmo de alta.
Dado o parco conhecimento de detalhes de projetos de investimento e de seus efeitos na cadeia industrial, não sabemos também se e em qual medida haverá "desarticulação do encadeamento" industrial brasileiro. Por exemplo, qual será o efeito, nos fornecedores, dos megainvestimentos prometidos em siderurgia, construção civil, agricultura, petróleo e álcool? Menos ainda sabemos a respeito de quantas oportunidades de investimento em setores novos morrerão devido ao encarecimento dos custos de produção.
Sabemos apenas que a conjunção de política fiscal (gasto público excessivo) e monetária (juros demasiados) pode criar um excesso talvez volátil no câmbio, o que é mau para o planejamento econômico. Que os gastos do governo como um todo crescem muito mais que o investimento público. Que não há políticas para dar conta de coisas como falta de engenheiros e capacitação tecnológica. Apesar de alguns progressos no mercado de capitais, contas externas e inflação, ainda vivemos ao sabor da economia mundial.

vinit@uol.com.br


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