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sociais & cia.
Empresas falham na divulgação de projetos
Apesar de investirem na área de responsabilidade socioambiental, muitas não dão informações adequadas aos consumidores
Ainda é reduzido o número de empresas que dispõem de serviço adequado para esclarecer as dúvidas dos consumidores e cidadãos
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O consumidor que procurar
informações sobre a atuação
das empresas na área socioambiental provavelmente terá dificuldade para encontrá-las.
Seguindo uma orientação das
cartilhas de consumo responsável (que recomenda procurar
as companhias para obter informações a respeito de sua
atuação na área), a Folha entrou em contato com 87 empresas que comprovadamente
possuem investimentos em
projetos socioambientais.
As ligações foram feitas para
o PABX das empresas e, quando possível, também para o
Serviço de Atendimento ao
Consumidor (SAC) de cada
uma delas. Em nenhum momento foi citado que se tratava
de uma reportagem.
O resultado impressiona: das
87 empresas, apenas 21 -pouco mais de 24%- souberam
responder ou encaminhar as
perguntas de maneira satisfatória. Na maior parte dos casos,
o consumidor é encaminhado
para áreas da empresa que não
guardam nenhuma relação
com o assunto, como a jurídica
ou a de reclamações. Ou, simplesmente, não obtém as respostas.
Ainda que não represente
uma pesquisa abrangente e de
metodologia definida, o levantamento revela o descompasso
entre o esforço de marketing
envolvendo os projetos de responsabilidade socioambiental
no mundo corporativo e o
atendimento aos consumidores e cidadãos.
"Não adianta a empresa ter
um departamento para cuidar
dos projetos socioambientais
ou alocá-los no marketing se o
assunto não está de fato incorporado ao seu dia-a-dia, se não
é entendido como uma ferramenta de gestão. Provavelmente, isso faria com que o
funcionário que tivesse atendido os telefonemas soubesse
tratar a demanda de maneira
adequada", afirma Eliane Belfort, diretora do Comitê de
Responsabilidade Social da
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"A responsabilidade socioambiental das empresas
tem de começar de dentro para
fora. Muitas vezes, infelizmente, o que vemos é muita gente
fazendo somente para fora, somente para sair bem na foto de
um movimento que ganhou
importância", completa.
Parte da falha no atendimento pelas empresas, ponderam
os especialistas, pode ser atribuída aos próprios consumidores, que ainda não têm o hábito
de cobrar das empresas as informações relacionadas ao tema da responsabilidade socioambiental. Isso, no entanto, não exclui a importância de os
serviços de atendimento dessas empresas estarem preparados para essa cobrança.
"O ideal é que as empresas
não pautem seu atendimento
de maneira reativa, ou seja, no
momento em que os cidadãos
comecem a cobrar isso, e sim
proativa. O simples fato de colocar essa informação para os
consumidores, preparando os
serviços de atendimento de
maneira adequada, revela uma
atitude responsável por parte
da empresa", afirma Sônia Favaretto, diretora de Responsabilidade Social e Sustentabilidade da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos).
Internet: outra realidade
A consulta aos sites das empresas na internet mostra uma
realidade bem diferente da observada no atendimento ao
consumidor. Em quase todos
eles existe uma área específica
dedicada ao assunto, com menção dos projetos socioambientais apoiados direta ou indiretamente, o número de beneficiados e, ainda que em menor
grau, os recursos envolvidos.
Essa constatação praticamente elimina a tese de que as
empresas não se preocupam
em informar para a sociedade
sua atuação na área socioambiental. Ao mesmo tempo, reforça a tese de que o tema não
está devidamente incorporado
em todos os seus escalões -os
sites geralmente são produzidos pelas áreas de comunicação
e marketing. E de que não há
um treinamento adequado das
áreas de atendimento -em boa
parte dos casos, prestado por
empresas de telemarketing terceirizadas- quando o assunto
em pauta é o investimento social.
Para Clarissa Lins, diretora-executiva da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento
Sustentável (FBDS), isso indica
que o problema não está relacionado tanto à disponibilidade
das informações em si, mas a
como as empresas as divulgam
para a sociedade. "Os canais
existem, as informações são conhecidas e mapeadas; o que é
preciso é um exercício de aprimoramento de como são tratadas as informações e de como
são construídos os seus canais
de acesso", sublinha Lins.
"O fato de a informação ainda
não estar na empresa como um
todo, de ficar restrita a uma
área ou à cúpula, gera esse tipo
de ruído. E acaba sendo um
prejuízo para a própria empresa", acrescenta.
Diálogo de uma via só
De acordo com a diretora da
FBDS, há ainda outra falha importante na relação das empresas e da sociedade no que se refere às informações na área de
responsabilidade: a possibilidade de o consumidor ou o cidadão se pronunciar, de maneira aberta, a respeito do que
acha da atuação da empresa e
de seus projetos, inclusive na
internet.
"O que temos hoje é muito
mais calcado em "receba aqui a
informação que eu, empresa,
estou te repassando". Ainda falta estabelecer mecanismos para que as empresas aceitem ser
questionadas sobre algo que
elas não se pronunciaram",
conclui Lins.
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