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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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Ministro da Fazenda mantém prestígio com presidente, apesar das críticas à política monetária dentro do próprio governo

Sob ataque, Palocci segue firme com Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Desde 1º de janeiro, os adversários no governo e no PT de Antonio Palocci Filho tentam minar nos bastidores e até publicamente a política econômica, mas ainda não abalaram o prestígio do ministro da Fazenda com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula tem deixado claro que eventuais inflexões na atual estratégia econômica, como a pressão neste mês para a queda de 1,5 ponto percentual na taxa básica de juros, passam por seu ministro da Fazenda. Se os juros voltarem a cair, será via Palocci. Ou seja, é Palocci quem opera e operará a política econômica.
Lula fez três defesas de seu ministro da Fazenda no intervalo de uma semana. Na sexta-feira passada, quando o líder do MST João Pedro Stedile culpou Palocci pela demora na reforma agrária, Lula respondeu: "O Palocci não tem culpa, graças a Deus a gente tem o Palocci no ministério".
No final de semana passado, em dois encontros com governadores, prefeitos, ministros e dirigentes do PT, Lula disse que a política econômica era uma opção de governo feita antes da posse e que os críticos atiravam pedras em Palocci por não ter coragem de atacar o presidente.
Apesar do apoio de Lula e de dois pesos-pesados da cúpula do governo, os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Palocci sofre críticas o tempo todo de integrantes do próprio governo e de políticos do PT. O "fogo amigo" tem desde razões ideológicas, de petistas que vêem na atual política econômica uma repetição do que chamavam de "neoliberalismo de FHC", a disputas por espaço.
Na terça-feira, foi selada trégua entre Palocci e Carlos Lessa, presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que está fadada a ter fôlego curto.
Para Lessa, há exagero de Palocci na dosagem do aperto fiscal e monetário. Acha que a Fazenda está submetida a demasiada influência de economistas tidos como liberais. Na visão de Palocci, Lessa é um sobrevivente de uma linha de pensamento nacional-desenvolvimentista típica de uma esquerda que julga ultrapassada. Aplicadas as políticas de Lessa, voltaria a ameaça inflacionária e o desequilíbrio, crê a cúpula da Fazenda.
No time de Lessa, entram a economista e ex-deputada federal Maria da Conceição Tavares, o vice-presidente do BNDES, Darc Costa, e o ministro Guido Mantega (Planejamento). Maria da Conceição, madrinha da indicação de Lessa, já disparou contra os "liberais" da Fazenda, como se refere ao secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, e ao secretário do Tesouro, Joaquim Levy. Darc atacou a Fazenda, chamando-a de "Secretaria da Tesoura", em entrevista à Folha.
Quanto a Mantega, apesar das alfinetadas que recebe do colega, Palocci defende a sua manutenção no Planejamento. É que o ministro da Fazenda prefere manter o Planejamento sob controle de um petista afinado com Lula e a cúpula do PT a entregar a pasta a um estranho no ninho petista, como Ciro Gomes (Integração Nacional). Lula chegou a ouvir sugestões para deslocar Ciro para o Planejamento.
Ciro, aliás, é antigo crítico do que, em conversas reservadas, também chama de dose de exagero nas políticas fiscal e monetária.
Adversários de Ciro dizem que ele sonha com a volta à área econômica -foi ministro da Fazenda em 1994, no governo Itamar Franco. Esse retorno poderia pavimentar nova tentativa presidencial em 2010, na hipótese de Lula se reeleger em 2006.
E 2010 pode ser o ano de disputar com Palocci à sucessão de Lula, se o presidente obtiver novo mandato. Por isso estaria marcando diferenças desde já, com muito jeito e como aliado. Palocci, ao lado de Dirceu, é visto como eventual opção de Lula em 2010.

Linha de frente
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), saiu da linha de frente dos ataques a Palocci. Ele foi advertido por Lula a jogar mais em equipe. E tem feito isso. Mas, assim como Ciro, Mercadante, que também sonha com uma candidatura à Presidência em 2010 e ao governo paulista em 2006, busca marcar diferenças com Palocci. Mercadante já disse, nos bastidores, que acha que Palocci exagerou na dosagem do arrocho fiscal e monetário.
Projeto político é o que leva o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), a fazer jogo duplo nos bastidores em relação a Palocci. Para tentar se reeleger na Câmara, João Paulo dá corda às críticas da esquerda petista ao ministro da Fazenda. Isso também serve para desgastar Palocci numa eventual disputa pela candidatura ao governo paulista.
Hoje, porém, é pequena a chance de João Paulo ter sucesso. A cúpula do PT não vê com bons olhos sua idéia de reeleição na Câmara e avalia que ele seria um nome fraco para disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2006.
O assessor especial de Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, faz parte do grupo mais inclinado a defender o pensamento tradicional do PT em economia. E, na disputa do governo para a negociação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), alia-se a setores do Itamaraty que vêem em Palocci excesso de pragmatismo comercial. (KENNEDY ALENCAR)


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