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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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Não-adesão estagnou a carreira, diz bancário

DA REPORTAGEM LOCAL

Há 30 anos, Jaime Jorge Melim de Freitas, 64, não optou pelo FGTS. Tudo o que aconteceu em sua vida profissional de lá para cá foi pautado por essa decisão, diz.
De um cargo de confiança na área de cobranças de uma agência do Itaú em Santa Cecília (centro de SP) a auxiliar de escritório em um prédio do banco ao lado do metrô Conceição (zona sul), Freitas viveu o oposto do que é considerado evolução no emprego.
Na época em que o fundo de garantia entrou em vigor, Freitas, que nasceu na ilha da Madeira, em Portugal, era funcionário do Banco Português do Brasil -incorporado pelo Itaú em 73- havia cinco anos.
"Pouco antes de o Itaú chegar, houve pressão para que todos os funcionários optassem. Fui escapando, eu tinha amizade com a gerência e era um bom funcionário. Queria garantia no emprego, tinha acabado de me casar."
De acordo com ele, quando o Banco Português foi comprado pelo Itaú, a pressão para que os funcionários optassem pelo FGTS aumentou.
"No final de 74, de não-optantes só sobramos eu e um contador. Na época, eu era encarregado na área de cobranças", relata.
Ele e o contador, diz, foram transferidos para uma outra agência, onde foram rebaixados de cargo como uma forma "de pressão", porque ambos eram não optantes do fundo.
"Puseram-me em um balcão de dez metros para organizar os livros com os documentos assinados pelos gerentes de todas as agências do Itaú. Senti que minha carreira como bancário terminou ali", afirma.
Desde então, Freitas passou por inúmeras agências em inúmeros departamentos do Itaú sem nunca, segundo ele, ter tido aumento ou promoção no emprego.
Ele move hoje três processos trabalhistas contra o banco. Dois relativos a horas extras trabalhadas e um terceiro por não ter tido direito a um prêmio após 30 anos de trabalho -o que, segundo ele, é praxe no Itaú.
De acordo com o idoso, o banco já ofereceu a ele algumas vezes o pagamento da indenização a que tem direito se for mandado embora: dois salários por ano trabalhado como não-optante do fundo de garantia.
"Mas quero mais do que o dobro da indenização, porque entendo que tive a minha carreira prejudicada por ser um não-optante", afirma.
Hoje, Freitas diz que "está meio encostado". Casado e com duas filhas, trabalha com fotocopiadora e no almoxarifado do banco.
(MP)


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