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Para analistas, dívida deve recuar
Estimativa é que juro menor derrube relação entre endividamento e PIB
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A despeito de ter atingido seu
maior nível histórico e de o superávit primário não ter sido mais
que um paliativo, a sustentabilidade da relação dívida/PIB não
está comprometida. Para especialistas, se não houver nenhum novo evento (leia-se crise), essa relação recuará neste ano. Mas há
quem se coloque no outro lado.
José Cézar Castanhar, professor
do Ebape/FGV, argumenta que
desta vez parte-se de um patamar
"mais confortável" do que em
2003: em janeiro do ano passado,
os juros nominais estavam em
26% -agora, estão em 16,5%. Se
confirmada a previsão feita pelo
ministro José Dirceu (Casa Civil)
de que os juros cairão três pontos
no ano, a taxa média de juros será
de 14,5% -embora a real permaneça hoje próxima a 10%.
Pelos cálculos de Castanhar, se o
país crescer 3,6%, mantido o atual
nível de superávit primário, o aumento nominal da dívida será R$
40 bilhões em 2004.
"Como o numerador [o Produto Interno Bruto] vai crescer,
quando se dividir pelo denominador [a dívida], teremos uma relação menor. Nisso estamos de
acordo, é elementar. E por isso
que é tão importante que o país
cresça. Do contrário, vamos continuar a fazer o que fizemos até
agora: que é enxugar gelo."
Para Castanhar, as condições de
crescimento são factíveis. Usa como comparativo o ano de 2000.
"Naquele período, a taxa básica
de juros caiu de 19% para 15,5%,
na média, e a inflação ficou em
6%, uma situação muita próxima
da que se espera para este ano. E o
país cresceu 4,5%", argumenta.
O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas,
afirma que o resultado de 2003
significa a "virada do morro". "A
partir de agora iniciamos a descida. Não vejo razão para a taxa de
juros reais médias ser maior que
nos anos precedentes. A não ser
que ocorra uma nova crise a relação dívida/PIB vai recuar."
Na avaliação da consultoria
Global Invest, em 2004 o governo
permanecerá vulnerável. O argumento dos economistas da entidade é que a dívida cresceu mesmo em um período em que houve
uma queda na taxa de câmbio e o
superávit primário foi recorde
-o maior desde 94. "Se num ano
em que os ventos sopraram a favor o governo não conseguiu reduzir a dívida, é pouco provável
que isso ocorra em 2004. Uma aumento no juro nos EUA poderá
gerar uma nova onda de crises
nos emergentes, o que prejudica a
dívida tanto pela elevação do
câmbio quanto pela do juro para
conter eventuais repasses de pressões de custos", diz o relatório.
O professor Geraldo Biasoto Júnior, da Unicamp, afirma que a
política fiscal brasileira é "insustentável". "Nossa política fiscal é
dura, o Brasil foi muito além do
que pediu o FMI. Mas daqui a
pouco alguém vai olhar para a relação dívida/ PIB, ver que aumentou e dizer que não nos esforçamos. Haverá gente propondo aumentar o superávit primário."
Biasoto diz que o governo deveria "reequacionar" a formação de
custos na economia, em referência à política de preços administrados e preços praticados pelos
oligopólios -o que conteria a inflação, logo a necessidade de juros
altos- e "balizar com mais segurança os movimentos cambiais".
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