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Taxa aumenta 223% em oito anos
da Reportagem Local
A marca dos anos 90 no Brasil será o desemprego. Em nenhum outro período da história recente do
país a taxa cresceu tanto e tão rápido. Apenas entre 1989 e 1997, o número de desempregados cresceu
223% no país.
Incorporando-se a estimativa de
1998, esse aumento vai a 263%. E,
dependendo do tamanho da recessão de 1999, o crescimento do desemprego na década pode oscilar
entre 301% e 460%. Por comparação, nos anos 80 o desemprego
cresceu apenas 6% no país.
O motivo dessa explosão do desemprego, segundo Marcio Pochmann, é a desestruturação do mercado de trabalho no Brasil. O fenômeno, iniciado nos anos 80, se
agravou rapidamente nos 90.
O economista da Unicamp explica que, após a Segunda Guerra
Mundial, os países desenvolvidos
iniciaram um processo de estruturação do mercado de trabalho. Em
1970, de cada 10 trabalhadores, 9
eram assalariados registrados.
O Brasil seguiu a mesma tendência, mas em menor grau. De 1/3 de
trabalhadores assalariados com
registro em carteira na década de
40, o país chegou a 2/3 de trabalhadores registrados em 1980.
Nesse período, a cada 10 postos
de trabalho criados no Brasil, 8
eram de assalariados. E desses 8, 7
tinham carteira assinada. A partir
de 1980, entretanto, a tendência
muda e começa a desestruturação.
O resultado é que, apesar do
crescimento da PEA, há menos
trabalhadores com carteira assinada hoje (22,8 milhões) do que em
1980 (23 milhões).
O que aconteceu nesse período
foi a chamada precarização dos
postos de trabalho: nos anos 90, a
cada 10 novas ocupações, 8 eram
de não-assalariados (autônomos,
biscateiros etc.). E os 2 postos assalariados não tinham carteira de
trabalho assinada.
As causas desse processo, segundo Pochmann, foram basicamente
duas. De um lado, houve uma estagnação econômica que já dura
duas décadas. A renda per capita
brasileira em 1998 é praticamente
igual a de 1980. 'È sem crescimento
econômico não dá para pensar em
emprego", diz o economista.
Por outro lado, a década de 90
marcou a mudança do modelo
econômico. Mesmo crescendo entre 1993 e 1997, o país não conseguiu produzir mais empregos.
O motivo, afirma Pochmann, foi
a abertura às importações em um
contexto competitivo desfavorável
às empresas nacionais: juros mais
altos do que os internacionais e sobrevalorização do câmbio.
Um bom exemplo prático disso
foi o que aconteceu com o setor de
bens de consumo duráveis. Entre
1993 e 1997, o setor cresceu 66%,
quase três vezes mais do que o PIB.
Mas, mesmo assim, não puxou o
crescimento do nível de emprego.
No segmento automobilístico, as
empresas que estavam na parte anterior da cadeia produtiva foram
desnacionalizadas ou fechadas,
provocando a importação de autopeças. Não se produziu assim mais
empregos para metalúrgicos nem
na produção de aço.
E na parte posterior da cadeia,
não houve investimentos públicos
em infra-estrutura (construção de
estradas) que originassem mais
empregos na construção civil.
Diretor-executivo da Fundação
Seade, Pedro Paulo Martoni Branco acrescenta outros pontos à explicação de Pochmann sobre o aumento do desemprego na década.
Ele lembra que, em 1990, houve a
recessão provocada pelo confisco
do Plano Collor, ao que se seguiu
uma política de abertura às importações que provocou muitas falências. Esse quadro prosseguiu até o
final de 1992, elevando a taxa nacional de desemprego de 3%
(1989) para 6,9%.
Com o impeachment do ex-presidente, houve um aumento da
confiança dos agentes econômicos
e uma retomada do crescimento.
Mas este foi insuficiente para a recuperação do nível de emprego da
década anterior por causa da
ameaça da inflação.
Em 1994 vem o Plano Real, o fim
da inflação e uma redistribuição de
renda que reacendem o consumo.
Esse processo de recuperação conduz a uma pequena queda do desemprego, que cai a 6,4% em 1995.
A partir daí, entretanto, o efeito
da segunda onda de abertura às
importações se estende a outros
setores da economia além da indústria: os bancos demitem e o comércio se reestrutura, cortando
funcionários. O desemprego chega
a 7,2% em 1996.
No ano seguinte, as restrições externas e o desequilíbrio cambial
provocam uma nova alta dos juros
que, combinadas à reestruturação
produtiva, elevam o desemprego a
8,2%. Desde então, esses problemas só se agravaram.
Martoni Branco e Pochmann
têm a mesma conclusão: a retomada do crescimento não será o bastante para diminuir o desemprego.
"Sem políticas sociais compensatórias, como a bolsa-escola, não
tem jeito", diz o diretor do Seade.
"Além das políticas sociais, é
preciso mudar o modelo e fazer as
reformas agrária e tributária", diz
Pochmann.
(JRT)
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