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Juro do cartão sobe e assusta investidor
Medida tomada por operadoras de cartão de crédito nos EUA alimenta especulação sobre se crise já chegou ao setor
Além dos juros, operadoras elevam as provisões com perdas; a despeito do corte na taxa pelo Fed, redução de crédito chega ao segmento
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Há duas semanas, John
Smith recebeu uma carta da
BillMeLater. Nela, a operadora
de cartões de crédito virtuais
avisava que aumentaria a taxa
de juros anuais cobrados do
profissional liberal (o nome é
fictício; ele não quer ser identificado). Passariam de 12,99%
para 19,99% -1,67% ao mês. Se
ele não aceitasse, teria de cancelar a conta e pagar um mínimo mensal até zerar o débito.
O aumento ocorria na mesma semana em que o Fed, o
banco central dos EUA, baixava
a taxa básica de juros da economia do país pela sexta vez consecutiva desde setembro, numa
tentativa de baratear o crédito
disponível à população e de
afastar a recessão que ameaça
engolfar o país. Como Smith,
milhares de norte-americanos
receberam cartas semelhantes.
Não só da BillMeLater, empresa baseada em Maryland
que financia as compras em
mais de 700 sites: o Bank of
America, que tem 40 milhões
de usuários de cartões de crédito físicos, vem fazendo o mesmo com alguns titulares. Muitos destinatários das cartas
criaram blogs, em que reclamam do banco e de outras instituições financeiras.
As ações acontecem no momento em que analistas financeiros especulam quem será a
"próxima vítima" da crise econômica nos EUA, que começou
no setor imobiliário e atingiu
recentemente os bancos. O
problema é que o cartão de crédito é a modalidade principal
escolhida pelo consumidor
norte-americano, que, por sua
vez, é responsável por fazer girar 70% do PIB norte-americano, de cerca de US$ 15 trilhões.
O envio das cartas aos clientes acontece na esteira da divulgação de fatos que guardam
semelhança com o efeito dominó que originou a chamada
"crise do subprime", detonada
pelo não-pagamento de financiamentos imobiliários feitos a
consumidores com crédito duvidoso. Dois deles chamam a
atenção. O primeiro é que gigantes da área como a American Express e a Capital One aumentaram recentemente suas
provisões destinadas a perdas
com maus pagadores.
No caso do Amex, esse aumento de provisões foi de 70%,
para US$ 1,5 bilhão. "Estamos
obcecados sobre quão pior essa
situação pode ficar", disse Richard D. Fairbank, CEO do Capital One, em reunião com analistas em janeiro. "Mas a verdade é que ninguém sabe." O segundo é que os papéis das operadoras começam a preocupar
o mercado. Em fevereiro, o
UBS recomendou a seus clientes a venda de ações de três das
principais operadoras: além da
American Express e da Capital
One, receberam essa classificação as ações da Discover.
Diminuição de crédito
Os americanos devem hoje
US$ 950 bilhões no cartão de
crédito, ou 15% mais do que
cinco anos atrás. Isso dá uma
fatura mensal de US$ 9.000 por
família. Ao juntar as hipotecas
na equação, o total que um lar
americano deve pulou de 80%
da renda em 1983 para os atuais
133% -ou seja, na média, se um
casal recebe por mês US$ 10
mil por mês, deve US$ 13 mil.
O aumento no endividamento seria resultado direto da crise do "subprime", pois muitos
devedores usaram os limites
dos cartões para fechar as contas. Mas pesquisa do Fed com
as principais instituições financeiras em fevereiro aponta que
a redução de crédito atingiu
também operadoras de cartão
de crédito, daí o medo da crise.
Avalia-se que essas instituições estejam usando o dinheiro
barato que resulta das consecutivas baixas dos juros da economia para zerar de seus balanços
os prejuízos com maus pagadores, em vez de usar para facilitar o crédito ao consumidor final, como esperava o Banco
Central dos EUA.
Nos EUA, o cartão de crédito
tem função semelhante ao limite do cheque especial brasileiro. Mas os juros cobrados de
cada cliente são determinados
pela pontuação do titular segundo uma de três principais
agências avaliadoras de risco. É
como se a pessoa física fosse
uma empresa, que oferece mais
ou menos perigo ao tomar dinheiro emprestado. Na mais
usada pelas instituições, a Fico,
os mais mal-avaliados estão
próximos dos 600 pontos; os
mais bem-avaliados, dos 800.
Até então, as operadoras
abaixavam ou aumentavam os
juros cobrados seguindo a flutuação da pontuação dos clientes. Esses perdiam pontos segundo critérios definidos, como pagamento de conta em
atraso ou manutenção do saldo
devedor muito próximo do limite. Nas últimas semanas, juros anuais pularam para até
28% sem que esses critérios tivessem sido utilizados.
Segundo a assessoria de imprensa do Bank of America, as
medidas estão dentro do normal, já que os contratos de seus
associados prevêem "revisões
periódicas" dos juros cobrados.
Mas o banco está entre os que
anunciaram aumento de provisões para créditos ruins.
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