São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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Hora de crescer nos EUA é agora, diz analista

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

A crise gerada pelo temor de recessão nos Estados Unidos tem ao menos um aspecto positivo para os demais países, aponta o especialista em investimentos Karl Sauvant.
Para o economista, ex-diretor da Divisão de Investimentos da Unctad (Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento) e atualmente diretor-executivo do Programa de Investimento Estrangeiro da Universidade de Columbia, o momento difícil é muito oportuno para empresas estrangeiras fazerem aquisições e se expandirem nos EUA, graças ao dólar desvalorizado e à grande oferta de empresas à venda com a necessidade de levantar capital internamente.
Para ele, com a alta demanda global por commodities, o investimento estrangeiro direto continuará alto, com leve queda sobre o valor de 2007, que foi recorde: U$ 1,5 trilhão.

 

FOLHA - Há algum aspecto positivo na crise dos Estados Unidos?
KARL SAUVANT
- É claro que uma recessão nos Estados Unidos afeta negativamente todos os países, principalmente os que exportam muito para o país, como o Brasil. Mas há, sim, uma implicação positiva. O acesso aos Estados Unidos, com o declínio do dólar e a sede por capital, torna-se muito barato.

FOLHA - Acesso para aquisições?
SAUVANT
- Sim. Acesso para empresas estrangeiras que querem fazer aquisições aqui com a estratégia de crescer dentro do mercado americano. Isso é muito importante porque muitas empresas brasileiras, da Vale a vários bancos, querem entrar com força no mercado dos EUA. Este pode ser um bom momento, por duas razões. Primeiro, pelo declínio do dólar, que facilita muito comprar uma companhia já existente ou construir fábricas. Segundo porque, com a crise interna, mais negócios estarão à venda ao longo da crise, e a competição gerada com a oferta derrubará os preços.

FOLHA - Isso se aplica a empresas que não são gigantes como a Vale?
SAUVANT
- Pode ser a Vale, pode ser um banco como o Bradesco, pode ser uma empresa bem menor. Para quem tem uma boa estratégia e euros ou reais nas mãos, o momento de crescer nos EUA é agora.

FOLHA - E para vender produtos aqui nos EUA? Há exceção para o prejuízo geral das exportações?
SAUVANT
- É difícil. Não vejo nenhuma. O consumidor americano precisa de mais dólares para comprar roupas do Brasil, por exemplo, do que um ano atrás, e isso afeta as exportações de modo geral.

FOLHA - No ano passado, o investimento estrangeiro direto no mundo foi recorde, apesar da preocupação com a crise imobiliária. O sr. mantém projeções otimistas para 2008?
SAUVANT
- A projeção é bem boa. Quando escrevemos o documento ["Projeções de Investimento Mundial até 2011", publicado pela Economist Intelligence Unit], no ano passado, a crise financeira já tinha começado, então a projeção já a considerava. Se a crise piorar mais do que o previsto, afetará o investimento internacional, claro, mas hoje em dia eu mantenho as previsões otimistas de setembro de 2007 [pouco abaixo de U$ 1,5 trilhão].

FOLHA - Mas, se esse bolo diminuir, que países continuarão atraindo dinheiro mesmo assim?
SAUVANT
- O país mais atraente nos mercados emergentes em qualquer cenário continua sendo a China. Depois aparecem Brasil e Índia, que permanecem muito fortes. Mais do que a Rússia.

FOLHA - Quais os temores de quem quer investir no Brasil?
SAUVANT
- O maior desafio para quem quer investir é encontrar boa infra-estrutura. Rodovias, transporte, eletricidade, coisas como essas, que são sempre determinantes para abrir um negócio. Não é que a infra-estrutura do Brasil seja ruim. Só não é tão boa quando deveria ser para o crescimento econômico deslanchar de verdade.

FOLHA - O sr. costuma citar índices de educação como chave para atrair investimentos. Eles são considerados pelas empresas ao escolherem onde colocar dinheiro?
SAUVANT
- A qualidade de educação é muito importante. Força de trabalho altamente qualificada é muito atraente para todos os investimentos. Pode ser um fator decisivo para fazer um investimento.


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