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Hora de crescer nos EUA é agora, diz analista
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
A crise gerada pelo temor de
recessão nos Estados Unidos
tem ao menos um aspecto positivo para os demais países,
aponta o especialista em investimentos Karl Sauvant.
Para o economista, ex-diretor da Divisão de Investimentos da Unctad (Conferência da
ONU sobre Comércio e Desenvolvimento) e atualmente diretor-executivo do Programa de
Investimento Estrangeiro da
Universidade de Columbia, o
momento difícil é muito oportuno para empresas estrangeiras fazerem aquisições e se expandirem nos EUA, graças ao
dólar desvalorizado e à grande
oferta de empresas à venda
com a necessidade de levantar
capital internamente.
Para ele, com a alta demanda
global por commodities, o investimento estrangeiro direto
continuará alto, com leve queda sobre o valor de 2007, que
foi recorde: U$ 1,5 trilhão.
FOLHA - Há algum aspecto positivo
na crise dos Estados Unidos?
KARL SAUVANT - É claro que uma
recessão nos Estados Unidos
afeta negativamente todos os
países, principalmente os que
exportam muito para o país, como o Brasil. Mas há, sim, uma
implicação positiva. O acesso
aos Estados Unidos, com o declínio do dólar e a sede por capital, torna-se muito barato.
FOLHA - Acesso para aquisições?
SAUVANT - Sim. Acesso para
empresas estrangeiras que
querem fazer aquisições aqui
com a estratégia de crescer
dentro do mercado americano.
Isso é muito importante porque muitas empresas brasileiras, da Vale a vários bancos,
querem entrar com força no
mercado dos EUA. Este pode
ser um bom momento, por
duas razões. Primeiro, pelo declínio do dólar, que facilita muito comprar uma companhia já
existente ou construir fábricas.
Segundo porque, com a crise
interna, mais negócios estarão
à venda ao longo da crise, e a
competição gerada com a oferta derrubará os preços.
FOLHA - Isso se aplica a empresas que
não são gigantes como a Vale?
SAUVANT - Pode ser a Vale, pode ser um banco como o Bradesco, pode ser uma empresa
bem menor. Para quem tem
uma boa estratégia e euros ou
reais nas mãos, o momento de
crescer nos EUA é agora.
FOLHA - E para vender produtos
aqui nos EUA? Há exceção para o
prejuízo geral das exportações?
SAUVANT - É difícil. Não vejo
nenhuma. O consumidor americano precisa de mais dólares
para comprar roupas do Brasil,
por exemplo, do que um ano
atrás, e isso afeta as exportações de modo geral.
FOLHA - No ano passado, o investimento estrangeiro direto no mundo
foi recorde, apesar da preocupação
com a crise imobiliária. O sr. mantém projeções otimistas para 2008?
SAUVANT - A projeção é bem
boa. Quando escrevemos o documento ["Projeções de Investimento Mundial até 2011", publicado pela Economist Intelligence Unit], no ano passado, a
crise financeira já tinha começado, então a projeção já a considerava. Se a crise piorar mais
do que o previsto, afetará o investimento internacional, claro, mas hoje em dia eu mantenho as previsões otimistas de
setembro de 2007 [pouco abaixo de U$ 1,5 trilhão].
FOLHA - Mas, se esse bolo diminuir,
que países continuarão atraindo dinheiro mesmo assim?
SAUVANT - O país mais atraente
nos mercados emergentes em
qualquer cenário continua sendo a China. Depois aparecem
Brasil e Índia, que permanecem muito fortes. Mais do que a
Rússia.
FOLHA - Quais os temores de quem
quer investir no Brasil?
SAUVANT - O maior desafio para quem quer investir é encontrar boa infra-estrutura. Rodovias, transporte, eletricidade,
coisas como essas, que são sempre determinantes para abrir
um negócio. Não é que a infra-estrutura do Brasil seja ruim.
Só não é tão boa quando deveria ser para o crescimento econômico deslanchar de verdade.
FOLHA - O sr. costuma citar índices
de educação como chave para atrair
investimentos. Eles são considerados pelas empresas ao escolherem
onde colocar dinheiro?
SAUVANT - A qualidade de educação é muito importante. Força de trabalho altamente qualificada é muito atraente para todos os investimentos. Pode ser
um fator decisivo para fazer um
investimento.
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