São Paulo, Sábado, 31 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Padilha tenta capitalizar o acordo

Lili Martins/Folha Imagem
O minstro Eliseu Padilha, que negociou com os grevistas


FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

Taxado de omisso por políticos ligados ao presidente da República, o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, acabou saindo como vitorioso da greve dos caminhoneiros. Com isso, teve sua posição reforçada dentro do governo.
As críticas sobre a omissão do ministro foram feitas porque algumas pessoas que vieram a liderar a greve dos caminhoneiros procuraram Padilha antes do movimento, mas não receberam atenção.
Dentro do governo, segundo a Folha apurou, o ministro se defendeu dizendo que sempre informou ao serviço de inteligência do Palácio do Planalto sobre os possíveis focos de protesto. E que houve falha na coleta de informações por parte dos agentes secretos, que não conseguiram identificar a data exata da greve.
O governo teve acesso aos panfletos divulgados pelo Movimento Brasil Caminhoneiro. Como essa panfletagem já tinha acontecido em outras oportunidades, sem maiores consequências, o monitoramento do serviço de inteligência não investigou com profundidade o que estava acontecendo.
Quando o protesto já estava nas estradas, na segunda-feira de manhã, dia 26 de julho, Padilha teve uma reação rápida. Por isso, acabou saindo do episódio melhor do que entrou.
No próprio dia 26 de julho, depois de ter sido avisado de madrugada sobre a possível greve, tomou um avião de Brasília para o Rio de Janeiro às 7h da manhã. Ao chegar no Rio, soube da greve. Deu uma entrevista se propondo a conversar com os líderes do movimento.
Padilha atuou sempre em contato com o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Foi o primeiro ministro a se dispor a fazer alguma coisa. Outros precisaram ser chamados a ajudar. Casos específicos do ministro da Justiça, José Carlos Dias, e do Trabalho, Francisco Dornelles.
Na última quinta-feira, quando foi selado o acordo para acabar com a greve, Padilha foi o principal interlocutor dos líderes do movimento. Naquele dia de manhã, houve uma reunião no Palácio da Alvorada.
Um ministro que deveria estar presente estava no Rio de Janeiro: Elcio Alvares, ministro da Defesa. Alvares acabou participando da reunião falando ao telefone do Rio, e sendo ouvido pelos participantes da reunião do Alvorada por meio do recurso viva-voz.
Depois que Padilha assumiu o comando das negociações, teve também atuação considerada satisfatória por FHC a nova dupla de ministros palacianos do presidente: Pedro Parente (Casa Civil) e Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral).
Nesse episódio da greve, Nunes Ferreira passou a assumir na prática algo que estava acertado para a sua função. Ele será o principal porta-voz do governo. O porta-voz do Planalto, Georges Lamazière, falará apenas em nome do presidente da República.
Depois de encerrada a greve, na noite de quinta-feira, Padilha capitalizou sua atuação. Ficou até as 2h da manhã de ontem falando para emissoras de rádio e de TV. Às 8h da manhã já estava de novo dando entrevistas: foi até o estúdio da Rádio Gaúcha, em Brasília, onde ficou por mais de meia hora falando para ouvintes de seu Estado, o Rio Grande do Sul.


Texto Anterior: Carvalho admite falha do governo
Próximo Texto: Reclamação sobre a aposentadoria é geral
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.