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MERCOSUL
País envia mensagem velada de que a partir do ano 2000 tarifa de importação poderia ser igual à normal
Brasil usa carros para dobrar Argentina
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O governo brasileiro nem precisou usar a sua arma mais poderosa (impor tarifas elevadas para a
importação de veículos e autopeças) para fazer com que a Argentina recuasse na decisão de introduzir salvaguardas generalizadas
contra importações.
Bastou uma mensagem velada,
na forma da suspensão de todas
as negociações com os argentinos, para provocar o recuo.
É simples de explicar: hoje a Argentina vende ao Brasil com tarifa
zero de importação determinada
(e elevada) quantidade de autos e
autopeças. É um regime transitório que só vai até o fim do ano.
A partir do ano 2000, portanto,
o Brasil poderia cobrar tarifas
iguais às que valem para as importações de qualquer país, na
portentosa altura dos 70%, a menos que as partes estabeleçam um
novo regime.
Com a suspensão das negociações, não haveria maneira de chegar a um entendimento sobre o
novo regime automotivo.
Comparação
Para avaliar o peso da arma automotiva basta a seguinte comparação: o Brasil vende para a Argentina apenas US$ 400 milhões
em têxteis, calçados e aço (produtos que estão ou seriam protegidos pelos argentinos). Mas a Argentina exporta para o Brasil veículos e autopartes no valor de
US$ 2,6 bilhões (dados de 1998).
Talvez por isso, os diplomatas
brasileiros notaram visível constrangimento de seus colegas argentinos ao se apresentarem para
a reunião no Itamaraty.
O chanceler argentino Guido di
Tella logo anunciou:
"Nós vamos isentar os parceiros
do Mercosul das salvaguardas,
mas compreendam que precisamos ter alguma coisa para exibir
em Buenos Aires", disse di Tella.
Seu colega brasileiro Luiz Felipe
Lampreia rebateu: "Nós não somos nem insensíveis nem desinformados sobre a situação na Argentina", fórmula prática de demonstrar que o governo brasileiro sabe perfeitamente que a crise
econômica do parceiro é séria.
Mas, emendou Lampreia, "vocês ultrapassaram todos os sinais
vermelhos".
Barganha
Os representantes argentinos
nas negociações ainda propuseram uma barganha: suspenderiam as salvaguardas desde que,
sempre que as exportações brasileiras de um dado item ultrapassassem certo limite, a Argentina
pudesse se proteger.
Lampreia rebateu: é "desfazer o
Mercosul" o fato de a Argentina
auto-outorgar-se o direito de impor salvaguardas generalizadas.
Admitiu, no máximo, discutir caso por caso.
Para demonstrar a sensibilidade mencionada por Luiz Felipe
Lampreia, o governo brasileiro
concordou em uma reunião, na
semana que vem, em Montevidéu, Uruguai, do Grupo de
Acompanhamento de Conjuntura Econômica.
O grupo foi criado na mais recente cúpula do Mercosul (junho,
em Assunção), mas não chegou
ainda a reunir-se. Serve para examinar os fluxos de comércio e sugerir propostas de correção.
Mas as duas partes têm expectativas bem diferentes em relação
ao papel do colegiado.
Tribunal
Para os argentinos, trata-se de
um grupo destinado a funcionar
quase como um tribunal que
emitiria aviso antecipado de desequilíbrios nas relações comerciais e recomendaria medidas
imediatas para corrigi-los.
Os brasileiros encaram o grupo
mais como um foro de debates.
É razoável supor que, na reunião de Montevidéu, os argentinos repitam a queixa que fizeram
no encontro do Itamaraty.
Peso do Brasil
Disseram aos brasileiros que
não há bloco algum em que um
país tenha um peso tão preponderante como o Brasil tem no
Mercosul(representa cerca de
75% da economia total do bloco).
Por isso, prosseguiram os argentinos, uma desvalorização da
moeda brasileira, como ocorreu
em janeiro com o real, "muda tudo nos nossos países".
Consequência: a Argentina
quer válvulas de escape.
O governo brasileiro está até
disposto a fechar os olhos a medidas protecionistas desde que não
ultrapassem a "linha vermelha"
traçada pelo ministro Luiz Felipe
Lampreia. Ou seja, cotas (como
as impostas para os têxteis) e salvaguardas (como as agora revogadas) estão além dos limites toleráveis.
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