São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

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Patrimônio das Bolsas em todo o mundo cai ao pior nível desde 2000

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

As Bolsas de Valores de todo o mundo tiveram em julho passado seu pior desempenho desde dezembro de 2000. O valor de mercado total das 33 principais Bolsas caiu 7,2% no mês passado, em relação a junho. E, apesar da pequena recuperação ensaiada em agosto, boa parte da riqueza perdida- que somava em julho US$ 12,8 trilhões desde março de 2000-não deverá ser recuperada.
Um sinal de que alguns prejuízos sofridos podem ser irreversíveis é o comportamento da Nasdaq, Bolsa que reúne ações de empresas de tecnologia nos Estados Unidos. Novamente, em julho, a Nasdaq voltou a cair no ranking das maiores Bolsas do mundo, indo parar, desta vez, no quarto lugar ao ser ultrapassada pelo mercado de Londres.
Desde março de 2000, a Nasdaq foi a Bolsa que mais perdeu patrimônio. O recuo em seu valor de mercado já soma US$ 4,39 bilhões. Segundo Fernando Ferreira, sócio da consultoria Global Invest, responsável pela pesquisa que revela todos esses dados, ficou provado que as altas do mercado de tecnologia não eram sustentáveis, a maior parte das empresas nunca chegou a dar lucros e muitas fecharam. Esses prejuízos não serão recuperados.
Mas a Nasdaq não foi a única responsável pela derrocada no valor de mercado das Bolsas de Valores. A crise corporativa provocada pela onda de fraudes contábeis também provocou ajustes que levaram os mercados para outro patamar. Os investidores também sofreram prejuízos na Argentina, o que os afastou dos mercados emergentes, principalmente os da América Latina.
Por tudo isso, o mercado mundial de ações teve mudanças que deverão durar muitos anos, segundo analistas. Inácio Ponchet, gestor de renda variável do banco CSFB (Credit Suisse First Boston), diz que os investidores não querem mais saber de altos riscos, apesar da baixa remuneração conseguida nos investimentos em renda fixa. Acabou o período de grandes oscilações.
"Ninguém quer saber de risco. E todas as Bolsas de Valores implicam riscos hoje", diz Ponchet.
Segundo o analista, até a ameaça de perder empregos tem contado para a moderação nos investimentos. Isso tem freado, por exemplo, as decisões de se aplicar dinheiro no Brasil.
"Se você apostar em algo que parecia tão óbvio que daria errado-como o Brasil neste momento- e acabar perdendo dinheiro, certamente também perderá o emprego", afirma Ponchet.
Por isso, segundo o analista, tem prevalecido a idéia de que é melhor comprar ativos mais caros no futuro, mas em um momento em que já exista uma tendência clara de recuperação.
Em agosto, os mercados chegaram a ensaiar o que parecia uma volta por cima, mas ainda não há tendências claras. A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), que vinha liderando a lista dos piores resultados nos últimos três meses, está com o melhor desempenho em agosto, entre as 33 Bolsas acompanhadas pela Global Invest. A alta em dólar acumulada até a última quinta-feira era de, aproximadamente, 20%.


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