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EM TRANSE
Estatal não pode repassar alta do dólar e do petróleo
Preço da gasolina só sobe após o fim das turbulências no mercado
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo determinou que a
Petrobras não repasse para o preço dos combustíveis qualquer variação do dólar e dos preços internacionais do óleo até que os mercado de câmbio e de petróleo se
acalmem e seja reduzido o atual
nível de volatilidade.
Segundo a Folha apurou, essa
orientação foi passada à direção
da estatal. Uma fórmula indicando em que patamar de preços internacionais do óleo e do dólar
poderiam ser adotados os aumentos não foi estabelecida. Essa
falta de definição, segundo especialistas, pode levantar especulações de que a Petrobras só irá aumentar seus preços após as eleições, quando se prevê uma maior
estabilidade da moeda dos EUA.
O próprio presidente da Petrobras, Francisco Gros, já repetiu algumas vezes que só seriam reajustados os combustíveis quando o
mercado de câmbio se acalmasse.
Nunca disse, porém, que isso foi
uma determinação do governo,
acionista controlador da estatal.
O fato é que a Petrobras está segurando um aumento de cerca de
4% para a gasolina e de 9% a 10%
para o diesel, segundo o ex-assessor da ANP (Agência Nacional do
Petróleo) Adriano Pires.
Segundo Pires, desde o último
aumento dos combustíveis, em 30
de junho, o dólar subiu 5,7% e a
gasolina, 2,1%, no golfo do México, principal referência para o
preço da Petrobras. No caso do
diesel, a alta no golfo foi maior:
15%. Essas variações não são repassadas integralmente, pois a
Petrobras inclui em seu preço a
Cide (Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico), que
é um tributo de valor fixo.
Sem realizar aumentos, a Petrobras pratica hoje preços menores
do que os internacionais. Na visão
de Pires, isso caracteriza prática
de dumping, ou seja, vender mais
barato para conseguir mercado.
Segundo Pires, as duas refinarias
privadas -Manguinhos e Ipiranga- e as centrais petroquímicas
(que também produzem gasolina) poderiam, se quisessem, fazer
uma queixa contra a estatal nos
órgãos de defesa econômica.
Pires reconhece, porém, que o
mercado de câmbio e o de petróleo vivem um momento excepcional. A situação justifica, diz, estabelecer um limite máximo de
repasse do câmbio e do petróleo,
fixando, por exemplo, o óleo a
US$ 25 o barril e o dólar a R$ 2,90.
Com a possibilidade de os EUA
invadirem o Iraque, o petróleo
bateu em US$ 30 o barril, embutindo, segundo especialista "um
prêmio de guerra" de US$ 5.
Apesar de os preços dos combustíveis estarem liberados desde
janeiro, o fator eleição pesou na
política do governo. Na prática, a
liberação durou só até agosto,
quando o governo, após reclamações de seu candidato à Presidência, José Serra, decidiu intervir.
O CNPE (Conselho Nacional de
Política Energética) determinou,
então, que a ANP (Agência Nacional do Petróleo) pudesse fixar
preços. Uma semana depois, a
agência determinou redução de
12,4% no preço do GLP vendido
na refinaria pela Petrobras.
Apesar de oficialmente não ter
havido intervenção no preço dos
demais combustíveis, o ministro
Francisco Gomide (Minas e Energia) disse que a resolução do
CNPE vale para todos os derivados do petróleo e disse confiar no
"discernimento" da Petrobras.
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