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Informação de ficha que hóspede
preenche em hotel não é usada
Cadastro criado na ditadura se perde antes de chegar ao Ministério do Turismo
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Criadas durante a ditadura
militar para controlar o fluxo
de pessoas no país, as fichas que
os hóspedes preenchem quando chegam aos hotéis sobrevivem até hoje, mas as informações reunidas no documento se
perdem antes de chegar ao Ministério do Turismo.
A Ficha Nacional de Registro
de Hóspedes combina informações como meio de transporte
usado, motivo da viagem, última cidade visitada e próximo
destino. A responsabilidade de
tabular as informações é das secretarias estaduais de Turismo,
mas só Paraná, Pará e Amazonas repassam regularmente dados atualizados ao ministério.
A maioria dos outros Estados
só informa a taxa de ocupação
do hotel e quantas noites os
hóspedes passaram no estabelecimento, reunidas em outro
relatório, chamado de BOH
(Boletim de Ocupação Hoteleira). Segundo a Embratur, ligada
ao Ministério do Turismo, 24
das 27 unidades federativas repassam esses números.
Mesmo as informações que
estão disponíveis ainda não são
analisadas . A Embratur começou a preparar uma série histórica da taxa de ocupação, em
parceria com a Fundação Getulio Vargas, que deve ser divulgada no início do ano que vem.
José Francisco de Salles Lopes, diretor de estudos e pesquisas da Embratur, diz que o
órgão já monitora informações
sobre perfil, gastos e origem
dos turistas em pesquisas bianuais. Lopes diz que a ficha de
registro dos hóspedes será analisada em uma segunda fase do
trabalho. A Embratur descarta,
por enquanto, o fim da ficha ou
mudanças no formato.
"Queremos que as fichas sejam preenchidas eletronicamente, mas isso depende de lei
e não se faz de uma hora para
outra", afirma Lopes.
Atualmente, os hotéis encaminham uma cópia do documento aos órgãos competentes
e mantêm outra nos estabelecimentos para que a Polícia Civil
possa consultá-las. Até cerca de
dez anos atrás, os registros
eram copiados em um livro,
que era encaminhado à polícia.
Políticas públicas
O tratamento científico dos
dados poderia fundamentar
políticas públicas para o setor.
"É um dado simples, que as
pessoas não valorizam, mas poderia mostrar os fluxos turísticos dentro do país", diz Alexandre Panosso Netto, professor
do curso de lazer e turismo da
Universidade de São Paulo.
Segundo a Abih (Associação
Brasileira da Indústria de Hotéis), alguns Estados preferem
nem receber as fichas porque
falta espaço para armazená-las.
Outro problema é que nem
todos preenchem a ficha. Pousadas e hotéis de pequeno porte
não pedem as informações aos
hóspedes. "Não nos interessa
saber só sobre o turista que fica
em hospedagens caras. Queremos informações sobre os que
têm poucos recursos e viajam
no país, que é a maioria da população", diz o professor.
O número de hotéis e pousadas também é controverso. No
Estado de São Paulo, a estimativa é que existam cerca de
5.920 meios de hospedagem
-nesse total, entretanto, são
contabilizados até estabelecimentos que funcionam, de fato,
como casas de prostituição.
A confusão ocorre, segundo
Alexandre Sampaio, diretor financeiro da Abih, porque o número é definido a partir da
CNAE (Classificação Nacional
de Atividades Econômicas),
que identifica as unidades produtivas no Brasil. "Por essa
identificação, é possível ter um
número maior de estabelecimentos que se declaram como
meio de hospedagem, mas que
não estão no Cadastur, do Ministério do Turismo, porque
não preenchem os requisitos."
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