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Capitalização ameaça trabalhador cotista de fundos FGTS-Petrobras
DA SUCURSAL DO RIO
A capitalização da Petrobras,
estudada pelo governo para levantar dinheiro para os investimentos no pré-sal, representa
ameaça aos 55 mil cotistas do
fundo FTGS-Petrobras. O processo deverá reduzir sua fatia
na empresa e, de quebra, diminuirá seus dividendos.
Para preservar seus direitos,
o governo teria de criar mecanismos para que os trabalhadores pudessem investir mais recursos do FGTS e, assim, acompanhar o investimento que o
governo fará -mas nem isso
garante que consigam manter a
fatia na empresa.
A capitalização é um processo pelo qual uma empresa emite ações novas para levantar recursos para investimentos. Os
acionistas da empresa têm
prioridade na compra das novas ações e podem comprar até
o limite da participação que
têm no capital da empresa.
Assim, o governo, que tem
32,21% do capital da Petrobras,
poderá comprar tantas ações
quantas forem possíveis para
manter a mesma participação.
Isso vale para todos os acionistas, inclusive para o fundo
FGTS-Petrobras, que tem
2,11% do capital da empresa.
Ainda em estudo, a capitalização pode chegar a R$ 100 bilhões. O valor de mercado da
Petrobras é R$ 312 bilhões.
Quem não participar da oferta mantém as ações que tinha.
Mas, como o número de ações
em circulação aumenta, sua
participação acaba diluída.
As ações não compradas pelo
acionista são ofertadas ao mercado. Para o governo, a "sobra"
de ações é a chance de aumentar a participação na Petrobras
-de preferência, sobre os investidores estrangeiros.
"Para que o FGTS-Petrobras
acompanhasse a proposta, o
governo precisaria autorizar os
trabalhadores a usarem parte
de seu saldo para que o fundo
compre mais ações", diz Haroldo Vale Mota, professor de finanças da Fundação Dom Cabral.
Pelas regras atuais, não é
mais possível destinar dinheiro
do FGTS para comprar ações.
Se a capitalização for de R$
100 bilhões, o FGTS-Petrobras
teria que investir mais R$ 2,1
bilhões para manter sua participação atual no capital da empresa. Hoje, o patrimônio do
fundo é de R$ 3,65 bilhões, todo
aplicado em Petrobras.
"O problema é que alguns cotistas podem não ter mais recursos porque sacaram seu dinheiro para comprar casa própria, porque suas contas estão
inativas ou porque não querem", afirma o professor de finanças do Ibmec-RJ Nelson de
Souza. "A participação deles
deve cair."
E é a participação de um acionista que determina sua fatia
no bolo dos dividendos (parte
do lucro distribuída aos acionistas). Quem tem a participação diluída recebe, portanto,
menos dividendos.
Maior produção
"Os investimentos a serem
feitos com o dinheiro pela empresa aumentarão seus lucros
no futuro. Quem continuar como cotista verá os dividendos
crescerem. Mas, como o fundo
FGTS-Petrobras deverá ser diluído, no curto prazo receberá
menos dividendos", diz Vale.
A previsão é que a produção
no pré-sal comece a crescer em
2013. Em 2020, a atual produção da Petrobras, de 2 milhões
de barris diários, duplicará com
o pré-sal.
Em 2008, a Petrobras distribuiu R$ 10 bilhões em dividendos, ou 27% de seu lucro de
R$ 36,5 bilhões.
Sobre a fatia de ações não
compradas pelos cotistas do
FGTS, avançariam o governo e
investidores privados -nacionais ou estrangeiros, quem vier
com mais apetite.
Segundo Vale, pelo menos os
cotistas do FGTS-Petrobras já
embolsaram ganhos com a valorização das ações depois da
descoberta do pré-sal.
O fundo FGTS-Petrobras foi
criado em agosto de 2000, permitindo que os trabalhadores
investissem até 50% do FGTS
em ações da Petrobras.
A oportunidade não se repetiu. Desde a criação, acumulou
ganhos em torno de 1.100%,
42% apenas neste ano.
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