São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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Capitalização ameaça trabalhador cotista de fundos FGTS-Petrobras

DA SUCURSAL DO RIO

A capitalização da Petrobras, estudada pelo governo para levantar dinheiro para os investimentos no pré-sal, representa ameaça aos 55 mil cotistas do fundo FTGS-Petrobras. O processo deverá reduzir sua fatia na empresa e, de quebra, diminuirá seus dividendos.
Para preservar seus direitos, o governo teria de criar mecanismos para que os trabalhadores pudessem investir mais recursos do FGTS e, assim, acompanhar o investimento que o governo fará -mas nem isso garante que consigam manter a fatia na empresa.
A capitalização é um processo pelo qual uma empresa emite ações novas para levantar recursos para investimentos. Os acionistas da empresa têm prioridade na compra das novas ações e podem comprar até o limite da participação que têm no capital da empresa.
Assim, o governo, que tem 32,21% do capital da Petrobras, poderá comprar tantas ações quantas forem possíveis para manter a mesma participação. Isso vale para todos os acionistas, inclusive para o fundo FGTS-Petrobras, que tem 2,11% do capital da empresa.
Ainda em estudo, a capitalização pode chegar a R$ 100 bilhões. O valor de mercado da Petrobras é R$ 312 bilhões.
Quem não participar da oferta mantém as ações que tinha. Mas, como o número de ações em circulação aumenta, sua participação acaba diluída.
As ações não compradas pelo acionista são ofertadas ao mercado. Para o governo, a "sobra" de ações é a chance de aumentar a participação na Petrobras -de preferência, sobre os investidores estrangeiros.
"Para que o FGTS-Petrobras acompanhasse a proposta, o governo precisaria autorizar os trabalhadores a usarem parte de seu saldo para que o fundo compre mais ações", diz Haroldo Vale Mota, professor de finanças da Fundação Dom Cabral.
Pelas regras atuais, não é mais possível destinar dinheiro do FGTS para comprar ações.
Se a capitalização for de R$ 100 bilhões, o FGTS-Petrobras teria que investir mais R$ 2,1 bilhões para manter sua participação atual no capital da empresa. Hoje, o patrimônio do fundo é de R$ 3,65 bilhões, todo aplicado em Petrobras.
"O problema é que alguns cotistas podem não ter mais recursos porque sacaram seu dinheiro para comprar casa própria, porque suas contas estão inativas ou porque não querem", afirma o professor de finanças do Ibmec-RJ Nelson de Souza. "A participação deles deve cair."
E é a participação de um acionista que determina sua fatia no bolo dos dividendos (parte do lucro distribuída aos acionistas). Quem tem a participação diluída recebe, portanto, menos dividendos.

Maior produção
"Os investimentos a serem feitos com o dinheiro pela empresa aumentarão seus lucros no futuro. Quem continuar como cotista verá os dividendos crescerem. Mas, como o fundo FGTS-Petrobras deverá ser diluído, no curto prazo receberá menos dividendos", diz Vale.
A previsão é que a produção no pré-sal comece a crescer em 2013. Em 2020, a atual produção da Petrobras, de 2 milhões de barris diários, duplicará com o pré-sal.
Em 2008, a Petrobras distribuiu R$ 10 bilhões em dividendos, ou 27% de seu lucro de R$ 36,5 bilhões.
Sobre a fatia de ações não compradas pelos cotistas do FGTS, avançariam o governo e investidores privados -nacionais ou estrangeiros, quem vier com mais apetite.
Segundo Vale, pelo menos os cotistas do FGTS-Petrobras já embolsaram ganhos com a valorização das ações depois da descoberta do pré-sal.
O fundo FGTS-Petrobras foi criado em agosto de 2000, permitindo que os trabalhadores investissem até 50% do FGTS em ações da Petrobras.
A oportunidade não se repetiu. Desde a criação, acumulou ganhos em torno de 1.100%, 42% apenas neste ano.


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