São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Mudanças na economia


Presidente reeleito passou o dia a se irritar com sugestões de assessores e ministros de que virão mudanças radicais

URNAS FECHADAS , a especulação agora é sobre ministeriáveis e condestáveis do Congresso.
No governo, por ora há apenas disputa pública entre os que fazem campanha pelo "pé no acelerador desenvolvimentista", por mais crescimento, sem atenção "neurótica" a inflação e gastos, e entre "técnicos" que desde agosto já pensavam em como tornar menos fictício o Orçamento de 2007.
O "acabou a era Palocci", slogan que Tarso Genro lançou com as urnas ainda quentes, em si não significa nada, nem em termos de conteúdo sobre o que foi a gestão do ex-ministro da Fazenda nem sobre planos de futuro. Lula passou o dia de ontem a desautorizar esses "radicalismos" e a se irritar com quem fala em mudanças antes que ele mesmo se manifeste sobre o assunto.
As poucas mudanças em estudo que dependem de reformas constitucionais serão apresentadas quando o governo souber melhor com o que pode contar no futuro Congresso (por exemplo, reduzir em parte as vinculações que carimbam o destino de certos gastos do governo, como em saúde e educação).
A única diretriz clara, por ora, é aquela definida pelo ciclo eleitoral: em 2007 e 2008 não haverá os aumentos de gastos com servidores e Previdência vistos em 2006. O resto depende das composições políticas fora e dentro do governo: depende da política de Lula da Silva. Lula gostaria de ter "nomões" no governo. Exemplo: um outro empresário como o ministro Luiz Fernando Furlan. O rumor agora é sobre Jorge Gerdau, o líder empresarial mais influente e discreto fora da área financeira. Mas para onde iria Gerdau?
Decerto os próximos de Lula apóiam a linha pé no acelerador: Dilma Rousseff (porém bem pragmática) e Guido Mantega, seguidos pelo mais neutro Gilberto Carvalho e depois por Tarso Genro e Marco Aurélio Garcia. Do outro lado, Henrique Meirelles, o Banco Central e parte dos "técnicos", o segundo escalão econômico, que produz as mágicas e os milagres que dão algum sentido aos planos políticos.
Lula disse no discurso da vitória que a política fiscal será "dura", mas não vai sacrificar o "povo" com "ajustes pesados": a solução é arrecadar mais com mais crescimento. Na opinião do pessoal do "pé no acelerador", mais crescimento depende de mexidas no BC. Há argumentos razoáveis para mexer no BC.
Mas o que quer dizer "mexer"? Há diretores já bem irritados com o chumbo que levaram nos últimos três anos. Querem sair, alguns até estimulados por motivos pessoais.
Mas fulminar sem mais alguns diretores conservadores, ou mesmo Meirelles, é imprudência. "Mexer" no BC é como fazer cirurgia neurológica em pacientes frágeis, caso da economia brasileira. É delicado e pode acabar em danos graves e imprevistos. Se o "mercado" considerar que, em vez de neurologistas, vão tratar o doente com curandeiros, o caldo engrossa e os juros sobem. A mudança teria de ser gradual.
Mais importante seriam modificações institucionais, de médio prazo, no sistema de metas e medidas de inflação e nas regras da composição do comitê de política monetária. Mas este governo vai ser capaz de promover alguma mudança institucional, mesmo as microeconômicas?

vinit@uol.com.br

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