São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2006

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Nacionalização abalou confiança, diz Petrobras Bolívia

Falta de segurança do consumidor brasileiro pode atrapalhar planos de estatal de retomar investimentos no país andino

Executivo da Petrobras afirma que estatal "reavalia sua posições", mas não descarta investimentos em território boliviano


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Petrobras Bolívia, José Fernando de Freitas, disse à Folha que há a disposição de aumentar investimentos no país depois que os novos contratos de exploração e produção asseguraram a rentabilidade dos negócios.
Afirmou, porém, que existe um receio do consumidor brasileiro quanto à garantia do suprimento depois da nacionalização dos ativos da estatal, em maio deste ano.
"Há a percepção de que houve um tremor nessa confiança [do suprimento do gás]", afirmou o executivo, que conduziu todo o processo de negociação com a Bolívia.
Diante das condições atuais, Freitas avalia que dificilmente sairá do papel o projeto de ampliar a capacidade do gasoduto Bolívia-Brasil de 30 milhões de metros cúbicos para 45 milhões de metros cúbicos.
"Acho difícil que tenhamos um acréscimo tão grande de volume [de transporte de gás]. Isso porque houve uma turbulência muito grande. E a palavra final é do consumidor brasileiro, que vai decidir se quer ou não aumentar o volume."
Freitas ressalta ainda que todo "aumento de produção tem de corresponder a um novo mercado" consumidor para o gás boliviano, que ainda não está assegurado.
A Petrobras tem um contrato de fornecimento de gás assinado com a Bolívia que expira em 2019. Nele, existe a previsão de suprimento de até 30 milhões de metros cúbicos/dia.
Na Bolívia, a estatal produz 24 milhões de metros cúbicos com suas sócias Total e Repsol. Exporta para o Brasil 26 milhões de metros cúbicos, dos quais 72% são supridos por produção própria e o restante é comprado de terceiros.
Diante da expansão do consumo no Brasil e da necessidade de abastecer especialmente as termelétricas e afastar um eventual risco de apagão, a Petrobras estudava ampliar a importação de gás boliviano.
Para tal, foi lançado um concurso aberto para ampliar a capacidade do gasoduto, controlado pela Petrobras no lado brasileiro por meio da companhia TBG. Com a nacionalização das reservas de gás e a incerteza que se instalou desde então, o projeto foi engavetado.
Freitas condicionou uma retomada dos projetos de ampliação de produção de gás em solo boliviano à resposta do mercado brasileiro. "Para produzir mais gás, tem de haver um mercado de destino e esse mercado tem de ser avaliado enquanto suas condições comerciais e de preço."
Em nenhum momento, porém, ele descartou novos investimentos da Petrobras na Bolívia. "Depois de fechados os contratos, temos agora condições piores do que existiam antes [da nacionalização], mas mantemos a nossa rentabilidade e a solvência do negócio."
Passada a fase de revisão dos contratos, diz, a Petrobras está "reavaliando suas posições" e estudando a possibilidade de retomar investimentos. "Naquela situação que havia antes, não tinha como investir. Nos termos do decreto [de nacionalização de 1º de maio], era impossível investir", afirmou.

Preço do gás e refinarias
Sobre a questão do preço do gás, Freitas disse que nas últimas reuniões houve um avanço. Embora a Petrobras mantenha sua posição de que não há necessidade de reajuste e a YPFB e o governo boliviano pleiteiem uma correção, passou-se a negociar em outras bases, diz. Uma das alternativas que passaram a ser consideradas é ampliar os volumes importados como contrapartida ao não-reajuste de preços.


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