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Nacionalização abalou confiança, diz Petrobras Bolívia
Falta de segurança do consumidor brasileiro pode atrapalhar planos de estatal de retomar investimentos no país andino
Executivo da Petrobras afirma que estatal "reavalia sua posições", mas não descarta investimentos em território boliviano
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Petrobras
Bolívia, José Fernando de Freitas, disse à Folha que há a disposição de aumentar investimentos no país depois que os
novos contratos de exploração
e produção asseguraram a rentabilidade dos negócios.
Afirmou, porém, que existe
um receio do consumidor brasileiro quanto à garantia do suprimento depois da nacionalização dos ativos da estatal, em
maio deste ano.
"Há a percepção de que houve um tremor nessa confiança
[do suprimento do gás]", afirmou o executivo, que conduziu
todo o processo de negociação
com a Bolívia.
Diante das condições atuais,
Freitas avalia que dificilmente
sairá do papel o projeto de ampliar a capacidade do gasoduto
Bolívia-Brasil de 30 milhões de
metros cúbicos para 45 milhões de metros cúbicos.
"Acho difícil que tenhamos
um acréscimo tão grande de
volume [de transporte de gás].
Isso porque houve uma turbulência muito grande. E a palavra final é do consumidor brasileiro, que vai decidir se quer
ou não aumentar o volume."
Freitas ressalta ainda que todo "aumento de produção tem
de corresponder a um novo
mercado" consumidor para o
gás boliviano, que ainda não está assegurado.
A Petrobras tem um contrato
de fornecimento de gás assinado com a Bolívia que expira em
2019. Nele, existe a previsão de
suprimento de até 30 milhões
de metros cúbicos/dia.
Na Bolívia, a estatal produz
24 milhões de metros cúbicos
com suas sócias Total e Repsol.
Exporta para o Brasil 26 milhões de metros cúbicos, dos
quais 72% são supridos por
produção própria e o restante é
comprado de terceiros.
Diante da expansão do consumo no Brasil e da necessidade de abastecer especialmente
as termelétricas e afastar um
eventual risco de apagão, a Petrobras estudava ampliar a importação de gás boliviano.
Para tal, foi lançado um concurso aberto para ampliar a capacidade do gasoduto, controlado pela Petrobras no lado
brasileiro por meio da companhia TBG. Com a nacionalização das reservas de gás e a incerteza que se instalou desde
então, o projeto foi engavetado.
Freitas condicionou uma retomada dos projetos de ampliação de produção de gás em
solo boliviano à resposta do
mercado brasileiro. "Para produzir mais gás, tem de haver
um mercado de destino e esse
mercado tem de ser avaliado
enquanto suas condições comerciais e de preço."
Em nenhum momento, porém, ele descartou novos investimentos da Petrobras na Bolívia. "Depois de fechados os
contratos, temos agora condições piores do que existiam antes [da nacionalização], mas
mantemos a nossa rentabilidade e a solvência do negócio."
Passada a fase de revisão dos
contratos, diz, a Petrobras está
"reavaliando suas posições" e
estudando a possibilidade de
retomar investimentos. "Naquela situação que havia antes,
não tinha como investir. Nos
termos do decreto [de nacionalização de 1º de maio], era impossível investir", afirmou.
Preço do gás e refinarias
Sobre a questão do preço do
gás, Freitas disse que nas últimas reuniões houve um avanço. Embora a Petrobras mantenha sua posição de que não há
necessidade de reajuste e a
YPFB e o governo boliviano
pleiteiem uma correção, passou-se a negociar em outras bases, diz. Uma das alternativas
que passaram a ser consideradas é ampliar os volumes importados como contrapartida
ao não-reajuste de preços.
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