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VINICIUS TORRES FREIRE
O que sobrou do pacote Lula 2
Depois dos acordos sociais de Lula, pacote fica mais para
2009; governo ainda discute superávit primário menor
A MINISTRA DILMA Rousseff fechou o ano a anunciar metas
para 2007: superávit fiscal em
4,25% do PIB, crescimento da economia de 5%. Mas economistas de
Lula dizem que o superávit fiscal
cairia, sim, um pouco, a fim de acomodar mais investimentos do governo federal, e que não se trabalha
com crescimento maior que 4% no
ano que vem. O PIB quase a Deus
pertence, mas mais estranha é a divergência sobre o superávit.
Depois dos acordos e das orientações de Lula a respeito de salário mínimo, Previdência, gastos com salários de servidores e com saúde, economistas de Lula acreditam que a situação fiscal estará apertada em
2007 e 2008. Não haverá quase espaço algum para reduções significativas de impostos sobre investimentos. A partir de 2009, calculam, em
um cenário de crescimento de 3%-4% do PIB, haveria espaço suficiente no Orçamento para mais investimento federal e isenções.
Até lá, o investimento público adicional viria, em primeiro lugar, por
uma discreta e crescente redução do
superávit primário, que poderia cair
para 4% no ano que vem, a fim de
acomodar as despesas do PPI (Programa Piloto de Investimentos).
O PPI é um programa especial de
investimentos, em tese projetados
de maneira a serem "rentáveis" para
o setor público, recurso criado em
um acordo com o FMI a fim de permitir reduções "produtivas" do superávit primário.
Fora do Orçamento, o governo
discute ainda como colocar na rua o
fundo de investimento em infra-estrutura a ser bancado com recursos
"sobrantes" no caixa do FGTS, verba
que poderia chegar a R$ 16 bilhões.
Não se decidiu ainda o valor do fundo nem quem vai gerenciar a aplicação desse investimento com recursos do trabalhador.
A Eletrobrás, a estatal que produz
60% da energia elétrica, será reformada, mas isso leva algum tempo.
Vai vender ações, vai se adaptar aos
critérios de gestão mais exigentes da
Bovespa e vai tomar dinheiro emprestado a fim de investir, como minoritária, em novos negócios privados de produção de energia.
De resto, virá uma redução de impostos para investimento em construção civil, isenção para fundos privados de investimento em infra-estrutura e pouco mais. A "intensidade" do programa de Lula 2 cresceria
ao longo do segundo mandato, com
mais força a partir de 2009, calculam economistas de Lula.
O governo vai começar a discutir
uma reforma tributária, com o objetivo de acabar com o ICMS e criar
um imposto sobre valor agregado,
um IVA, federal. Mas, como isso implicaria transferir renda de Estados
para a União, que a redistribuiria,
além de causar perdas a Estados como São Paulo, tal reforma, se vier,
começaria a ser implementada no final do governo Lula. As reformas
trabalhista e da Previdência serão
"discutidas" ao longo do segundo
mandato petista. Isto é, nada será
implementado até 2010.
Enfim, o que sobra do que se
anunciava como o programa econômico de Lula 2 é aquilo que caberá
no Orçamento depois de Lula ter engessado a despesa pública com pesadas indexações. Se não vier nenhuma catástrofe externa, o devagar e
sempre devagar é a nossa perspectiva até o final da década.
vinit@uol.com.br
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