São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2006

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Queda dos juros deve aumentar espaço para os investimentos, afirma ex-FMI

Susan Walsh - 12.abr.00/Associated Press
Michael Mussa, ex-economista-chefe do FMI e hoje no IIE


FOLHA - O sr. acredita em crescimento a taxas mais rápidas no segundo mandato de Lula?
MICHAEL MUSSA -
É importante compreender que o ambiente econômico do Brasil está em um patamar bem mais favorável hoje. A inflação está sob controle, e a credibilidade do Banco Central está bem estabelecida. Isso dá ao país condições de reduzir ainda mais os juros, mas desde que não se adote uma posição muito agressiva. As taxas de juro elevadas foram um impeditivo ao crescimento mais forte no primeiro mandato de Lula. Isso não deve se repetir no segundo. Há ainda o câmbio. O real se recuperou firmemente da situação pré-primeiro mandato, e essa apreciação, até por conta dos juros elevados, acabou brecando o fôlego do setor exportador. Não creio que essa apreciação continue nos próximos meses, especialmente se os juros continuarem caindo. Portanto, juros menores e um real menos valorizado devem ser fatores positivos em termos de crescimento no segundo mandato.

FOLHA - Como o sr. avalia a discussão sobre a necessidade de cortar gastos para elevar o investimento público?
MUSSA -
Há mais espaço fiscal hoje do que havia há quatro anos, especialmente por conta dos juros, que vêm caindo de maneira consistente há alguns meses. Os gastos com juros são parte importante do Orçamento. Como estão em queda, haverá mais espaço para investimentos do setor público. O importante é que o governo não fique muito empolgado com isso e acabe criando um problema de desconfiança no mercado.

FOLHA - O sr. parece estar otimista com o Brasil. Não há o risco de uma desaceleração nos EUA, que cause impactos aqui embaixo?
MUSSA -
Há alguns fatores negativos. Creio que essa desaceleração nos EUA, que deve ocorrer, terá um forte impacto sobre o México, que deve crescer 4,5% neste ano, mas não tanto sobre o Brasil. Creio que o Brasil vá crescer mais em 2007 do que em 2006. O Brasil tem uma economia ainda relativamente fechada e não excepcionalmente dependente no mercado americano ou do desempenho do setor externo.
Outro ponto a favor é a atual situação das contas externas, que está muito boa. Acredito que o crescimento mundial vai estar um pouco menos favorável do que nos últimos três anos, mas nada que chegue a comprometer demais.


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