São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2006

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País cumpre metas de superávit com ajuste de má qualidade, diz economista

FOLHA - Uma das discussões do segundo mandato é como acelerar o crescimento e conter a despesa pública para liberar investimentos estatais. O sr. crê em progressos?
RAMÓN ARACENA -
O ponto mais importante deve ser a redução e a simplificação da carga tributária no Brasil. Isso exige uma redução dos gastos públicos.
Nos últimos anos, todo o ajuste fiscal sacrificou investimentos e só aumentou a carga tributária. Apesar de o Brasil ter cumprido as metas de superávits primários (economia para pagar juros), a qualidade desse ajuste não é boa.
O maior desafio do segundo governo Lula é a redução, mesmo que gradativa, do gasto primário como proporção do PIB. Essa pode ser uma política de longo prazo, para os próximos dez ou 15 anos, mas ela tem de oferecer as condições e dar uma perspectiva para que haja expansão dos investimento públicos e privados. No mundo inteiro, o motor do crescimento é o investimento privado. Quanto menor a carga tributária e menos complicada, maior será o apetite para o investimento.

FOLHA - Qual será o impacto da redução dos juros nesses processo? Pois haverá uma redução da despesa com esse gasto.
ARACENA -
Na maioria dos casos, os preços das coisas costumam refletir a realidade. Se os juros ainda são relativamente altos no Brasil, é porque os problemas estruturais também são relativamente grandes. Como disse, o ponto mais importante é enviar um sinal bastante claro ao mercado de que o governo está colocando em ação um plano fiscal crível, mesmo que de longo prazo, que convença a todos do compromisso de redução da carga tributária. Isso faria toda a diferença nesse processo de redução de juros, pois haveria uma redução na necessidade de financiamento do setor público.

FOLHA - Como bancos e investidores nos EUA e em outros países avaliam o Brasil hoje?
ARACENA -
Como sempre, eles vêem o Brasil com imensas possibilidades e oportunidades. Mas oportunidades passam, e não se pode esperar muito quando elas ocorrem. Há muita expectativa positiva, mas ao mesmo tempo todos sabem das dificuldades políticas que existem no Brasil. Ninguém espera nada espetacular, mas apenas bons sinais, como foi a Lei de Responsabilidade Fiscal no passado. É o tipo de medida em que investidores podem "ancorar" suas expectativas. Hoje, o que o mercado espera é um mecanismo de redução do gasto primário do setor público como proporção do PIB.


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