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País cumpre metas de superávit com ajuste de má qualidade, diz economista
FOLHA - Uma das discussões do segundo mandato é como acelerar o
crescimento e conter a despesa pública para liberar investimentos estatais. O sr. crê em progressos?
RAMÓN ARACENA - O ponto mais
importante deve ser a redução
e a simplificação da carga tributária no Brasil. Isso exige uma
redução dos gastos públicos.
Nos últimos anos, todo o ajuste
fiscal sacrificou investimentos
e só aumentou a carga tributária. Apesar de o Brasil ter cumprido as metas de superávits
primários (economia para pagar juros), a qualidade desse
ajuste não é boa.
O maior desafio do segundo
governo Lula é a redução, mesmo que gradativa, do gasto primário como proporção do PIB.
Essa pode ser uma política de
longo prazo, para os próximos
dez ou 15 anos, mas ela tem de
oferecer as condições e dar
uma perspectiva para que haja
expansão dos investimento públicos e privados. No mundo inteiro, o motor do crescimento é
o investimento privado. Quanto menor a carga tributária e
menos complicada, maior será
o apetite para o investimento.
FOLHA - Qual será o impacto da redução dos juros nesses processo?
Pois haverá uma redução da despesa com esse gasto.
ARACENA - Na maioria dos casos, os preços das coisas costumam refletir a realidade. Se os
juros ainda são relativamente
altos no Brasil, é porque os problemas estruturais também são
relativamente grandes.
Como disse, o ponto mais importante é enviar um sinal bastante claro ao mercado de que o
governo está colocando em
ação um plano fiscal crível,
mesmo que de longo prazo, que
convença a todos do compromisso de redução da carga tributária. Isso faria toda a diferença nesse processo de redução de juros, pois haveria uma
redução na necessidade de financiamento do setor público.
FOLHA - Como bancos e investidores nos EUA e em outros países avaliam o Brasil hoje?
ARACENA - Como sempre, eles
vêem o Brasil com imensas
possibilidades e oportunidades. Mas oportunidades passam, e não se pode esperar muito quando elas ocorrem. Há
muita expectativa positiva, mas
ao mesmo tempo todos sabem
das dificuldades políticas que
existem no Brasil. Ninguém espera nada espetacular, mas
apenas bons sinais, como foi a
Lei de Responsabilidade Fiscal
no passado. É o tipo de medida
em que investidores podem
"ancorar" suas expectativas.
Hoje, o que o mercado espera é
um mecanismo de redução do
gasto primário do setor público
como proporção do PIB.
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