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Estrangeiras já operam 73% dos vôos internacionais
Crise da Varig diminui presença brasileira no setor; em janeiro, nacionais respondiam por 53% desse mercado
Para pesquisadora do Ipea, domínio das estrangeiras nessas rotas não é estrutural e pode haver mudanças significativas no mercado
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
As companhias estrangeiras
já respondem por 73% dos vôos
internacionais realizados no
país, segundo levantamento
realizado pela consultoria Bain
& Company. A crise da Varig
mudou o cenário dos vôos internacionais e achatou a presença das empresas brasileiras
nesse setor.
Em janeiro deste ano, as
companhias nacionais respondiam por 53% desses vôos. Em
setembro (último dado disponível), a participação delas recuou para 27%.
De acordo com a avaliação da
consultoria, o avanço da TAM
em rotas de grande disputa, como Nova York, Paris e Miami,
impediu que houvesse uma total apropriação dos vôos pelas
estrangeiras. A empresa também passou, a partir de outubro, a operar vôos para Londres, mas os efeitos ainda não
estão computados nas estatísticas do estudo.
Entrada de estrangeiras
Algumas rotas que eram realizadas apenas pela Varig no
passado (entre as companhias
nacionais) passaram a ser realizadas somente por empresas
estrangeiras. A portuguesa
TAP absorveu todos os vôos de
São Paulo a Lisboa, e a espanhola Iberia ficou com os vôos
de São Paulo a Madri.
Nas rotas de maior atratividade, como a de São Paulo a
Nova York, a TAM ganhou espaço, no entanto a saída da Varig coincidiu com a entrada da
Delta, de modo que nenhuma
companhia ultrapassa os 30%
de participação.
O mesmo ocorre com a rota
São Paulo/Buenos Aires. A Varig manteve as operações para
esse destino, mas viu a sua participação cair. Outras empresas
conseguiram ganhar mercado.
A rota é realizada por TAM,
Gol, Aerolíneas Argentinas,
British Airways e Lufthansa.
Parte desse novo arranjo nas
rotas internacionais foi determinada pela leitura da nova lei
de falências. A Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil) pretendia inicialmente distribuir
as rotas da Varig que não estivessem em operação logo após
a venda da empresa.
Com a interferência da 1ª Vara Empresarial do Rio, responsável pelo processo de recuperação da companhia, foi determinado que ela teria direito aos
prazos estipulados na portaria
569 da Anac, de 180 dias para
retomada dos vôos internacionais a partir da concessão das
linhas. A Varig agora corre contra o tempo para aumentar sua
presença nesse segmento.
Mercado dinâmico
Segundo Lúcia Helena Salgado, pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), o domínio das estrangeiras neste setor não é estrutural. "Esse mercado é muito dinâmico. Se a Varig conseguir retomar rotas ou outras
empresas decidirem focar mais
nesse segmento, pode haver
mudança significativa", afirmou Salgado.
A pesquisadora destaca que a
grande barreira desse segmento não é econômica, mas regulatória. Empresas que decidem
focar sua atuação no exterior
dependem de autorização da
Anac e do fechamento de acordos bilaterais.
"Do ponto de vista do consumidor, a concentração dos vôos
nas estrangeiras representa
uma redução no número de opções, o que logicamente traz
efeito sobre os preços. Sem
concorrência, não há estímulo
para descontos, promoções e
vantagens", disse.
Ela destaca ainda a saída de
divisas do país e o efeito na geração de empregos. "Com a ausência de brasileiras em destinos, não há entrada de recursos
para o país nem estímulo para a
contratação de brasileiros."
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