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Baixa renda atrai interesse de mexicanos
Banco Azteca começa a operar em março com foco no crédito para trabalhadores informais, que não comprovam renda
Locais com bancarização reduzida, como Recife, Fortaleza e Belém, serão os primeiros; grupo Finsol estreou no Brasil em 2006
DA REPORTAGEM LOCAL
Desprezado pelos bancos nacionais, o microcrédito brasileiro despertou o interesse de
instituições estrangeiras, como
os mexicanos da Finsol, que
iniciou suas atividades em
2006, e o Banco Azteca, braço
financeiro do terceiro maior
grupo mexicano, que prepara
para março sua estréia no país.
O Banco Azteca iniciará suas
operações em Recife, praça escolhida por ter baixo índice de
bancarização. Serão abertas
seis agências em 2008.
Luis Niño de Rivera, vice-presidente do Banco Azteca,
disse à Folha que o banco chega com o desafio de revolucionar a forma como o setor bancário trata a baixa renda no
país. "O Banco Azteca oferecerá produtos desenhados especificamente para os consumidores de baixa renda. Vamos
oferecer crédito com taxas
competitivas, além de poupança e investimentos específicos
para esse público, muitos deles
pessoas do setor informal, que
não freqüentam bancos tradicionais. No México, nossas
poupanças pagam os rendimentos mais altos do país para
montantes acima de 5.000 pesos (cerca de US$ 500). No lado
do crédito, temos taxas muito
competitivas", disse.
Criado em 2002, o Banco Azteca afirma ter know-how para
emprestar dinheiro para trabalhadores informais, como diaristas e vendedores ambulantes, que possuem receita, mas
não têm como comprovar rendimentos. Também trabalha
com grupos indígenas e famílias de imigrantes ilegais nos
EUA. Para isso, os consultores
do bancos se dispõem a ir até a
casa do cliente e a falar com os
vizinhos para saber se a pessoa
é idônea, trabalhadora e paga
suas contas em dia. O banco
promete dar uma resposta em
até 24 horas para cada pedido.
Além da financeira, o Azteca
vai trazer para o Brasil a rede
de lojas de eletrodomésticos
Elektra, a maior do México,
que chegou a cogitar a compra
de grandes redes do varejo brasileiro no passado. Em Recife,
serão abertas quatro lojas.
Após se estabelecer em Pernambuco, o Azteca pretende
abrir agências em Fortaleza e
depois em Belém. Em três
anos, a expectativa é chegar a
dez cidades brasileiras.
Os mexicanos já estão contratando no Nordeste. Os profissionais requisitados têm experiência com microfinanças e
no varejo de baixa renda. "As
agências ficarão em zonas com
alta concentração demográfica
e pouco acesso a mercadorias
de crédito. O Nordeste tem 52
milhões de habitantes, praticamente a metade da população
mexicana. As expectativas de
crescimento da economia brasileira são altas e a proporção
das classes C e D no total da população é alta", disse Rivera.
Segundo Luiz Edson Feltrim, chefe do departamento
de Organização do Sistema Financeiro, a possibilidade de entrar no microcrédito brasileiro
já motivou consultas de instituições da Bolívia, Peru, Colômbia, Índia e Suíça. "Em comum, todas elas têm experiência no microcrédito. Só entra
nesse ramo quem conhece."
O mexicano Finsol tem hoje
sete filiais no Nordeste, 75 funcionários e já soma uma carteira de 8.500 clientes no valor de
US$ 4,5 milhões. O grupo ainda
atua no Brasil como uma Oscip
(Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, uma
espécie de ONG), mas deve ganhar o status de instituição financeira de microcrédito com
o BC. "Queremos vender planos de saúde e seguro de vida,
com auxílio-funeral. Nosso público é humilde. São pessoas
que não têm dinheiro nem para
o enterro", disse Marcello Melo Pinto, presidente do Finsol
no Brasil.
(TONI SCIARRETTA)
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