São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

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Baixa renda atrai interesse de mexicanos

Banco Azteca começa a operar em março com foco no crédito para trabalhadores informais, que não comprovam renda

Locais com bancarização reduzida, como Recife, Fortaleza e Belém, serão os primeiros; grupo Finsol estreou no Brasil em 2006

DA REPORTAGEM LOCAL

Desprezado pelos bancos nacionais, o microcrédito brasileiro despertou o interesse de instituições estrangeiras, como os mexicanos da Finsol, que iniciou suas atividades em 2006, e o Banco Azteca, braço financeiro do terceiro maior grupo mexicano, que prepara para março sua estréia no país.
O Banco Azteca iniciará suas operações em Recife, praça escolhida por ter baixo índice de bancarização. Serão abertas seis agências em 2008.
Luis Niño de Rivera, vice-presidente do Banco Azteca, disse à Folha que o banco chega com o desafio de revolucionar a forma como o setor bancário trata a baixa renda no país. "O Banco Azteca oferecerá produtos desenhados especificamente para os consumidores de baixa renda. Vamos oferecer crédito com taxas competitivas, além de poupança e investimentos específicos para esse público, muitos deles pessoas do setor informal, que não freqüentam bancos tradicionais. No México, nossas poupanças pagam os rendimentos mais altos do país para montantes acima de 5.000 pesos (cerca de US$ 500). No lado do crédito, temos taxas muito competitivas", disse.
Criado em 2002, o Banco Azteca afirma ter know-how para emprestar dinheiro para trabalhadores informais, como diaristas e vendedores ambulantes, que possuem receita, mas não têm como comprovar rendimentos. Também trabalha com grupos indígenas e famílias de imigrantes ilegais nos EUA. Para isso, os consultores do bancos se dispõem a ir até a casa do cliente e a falar com os vizinhos para saber se a pessoa é idônea, trabalhadora e paga suas contas em dia. O banco promete dar uma resposta em até 24 horas para cada pedido.
Além da financeira, o Azteca vai trazer para o Brasil a rede de lojas de eletrodomésticos Elektra, a maior do México, que chegou a cogitar a compra de grandes redes do varejo brasileiro no passado. Em Recife, serão abertas quatro lojas. Após se estabelecer em Pernambuco, o Azteca pretende abrir agências em Fortaleza e depois em Belém. Em três anos, a expectativa é chegar a dez cidades brasileiras.
Os mexicanos já estão contratando no Nordeste. Os profissionais requisitados têm experiência com microfinanças e no varejo de baixa renda. "As agências ficarão em zonas com alta concentração demográfica e pouco acesso a mercadorias de crédito. O Nordeste tem 52 milhões de habitantes, praticamente a metade da população mexicana. As expectativas de crescimento da economia brasileira são altas e a proporção das classes C e D no total da população é alta", disse Rivera.
Segundo Luiz Edson Feltrim, chefe do departamento de Organização do Sistema Financeiro, a possibilidade de entrar no microcrédito brasileiro já motivou consultas de instituições da Bolívia, Peru, Colômbia, Índia e Suíça. "Em comum, todas elas têm experiência no microcrédito. Só entra nesse ramo quem conhece."
O mexicano Finsol tem hoje sete filiais no Nordeste, 75 funcionários e já soma uma carteira de 8.500 clientes no valor de US$ 4,5 milhões. O grupo ainda atua no Brasil como uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, uma espécie de ONG), mas deve ganhar o status de instituição financeira de microcrédito com o BC. "Queremos vender planos de saúde e seguro de vida, com auxílio-funeral. Nosso público é humilde. São pessoas que não têm dinheiro nem para o enterro", disse Marcello Melo Pinto, presidente do Finsol no Brasil. (TONI SCIARRETTA)


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