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Governo capitaliza fundo soberano com R$ 14 bilhões
União emitiu títulos sem oferecê-los ao mercado
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal emitiu ontem R$ 14,244 bilhões de títulos públicos para a criação do
Fundo Soberano do Brasil. O
valor foi contabilizado nas contas públicas como uma despesa. Mas enquanto o dinheiro
não for gasto para financiar
empresas, o governo federal terá uma poupança do mesmo valor, depositada no Banco do
Brasil. Isso porque o próprio
governo ficou com os títulos
emitidos, que não foram oferecidos ao mercado.
Por causa dessa poupança do
mesmo valor da despesa, chamada no jargão orçamentário
de reserva primária, o secretário do Tesouro Nacional, Arno
Augustin, explicou que não há
impacto fiscal nas contas públicas, ao menos por enquanto.
O impacto virá quando o governo começar a vender os títulos no mercado e usar os recursos para emprestar a empresas
ou para aumentar o orçamento
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social).
"No curto prazo, essa é uma
reserva primária. Tem impacto
quando é feita a aplicação", disse o secretário do Tesouro.
Augustin afirmou que, apesar da queda do superávit primário (economia depois do pagamento das despesas do governo) no fim do ano, o governo
teve dinheiro para fazer o fundo soberano e ainda cumprir a
meta fiscal, de 3,8% do PIB
(Produto Interno Bruto).
Como a divulgação das contas públicas é feita com quase
um mês de atraso, só será conhecido em janeiro o superávit
primário do acumulado do ano.
Falta de transparência
Augustin disse que o dinheiro do fundo soberano não será
gasto "no curto prazo", mas evitou informar quando o governo
pretende começar a usar essa
reserva. Como o Banco do Brasil administra o fundo, não há
garantias de que o governo vai
divulgar quando usar o dinheiro e onde ele será aplicado.
A lei que regulamenta o Fundo Soberano foi aprovada pelo
Congresso antes do recesso
parlamentar. Mas, no mesmo
dia da aprovação, a Comissão
de Orçamento deixou de votar
a autorização para que recursos
fossem transferidos para o fundo. Por isso, o Ministério da Fazenda elaborou uma engenharia financeira que garantiu os
recursos com a emissão dos títulos públicos.
A edição da MP na virada do
ano provocou uma reação negativa da oposição. Ontem, ao
explicar a regulamentação, o
secretário do Tesouro classificou como normal a ação do governo. "É usual ter um projeto
sancionado e eventuais mudanças virem junto", argumentou Augustin.
A regulamentação da MP
saiu ontem no "Diário Oficial"
da União, em um decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No decreto, ficou definida a
criação do FFIE (Fundo Fiscal
de Investimento e Estabilização), um fundo de investimento administrado pelo Banco do
Brasil, onde os títulos públicos
estarão depositados. A União,
por meio do fundo soberano,
será o único investidor ou quotista desse fundo.
Os títulos emitidos foram os
mesmos que o Tesouro costuma oferecer ao mercado financeiro. São prefixados, indexados pela taxa básica de juros
(Selic) e remunerados pela variação da inflação medida pelo
IPCA.
O secretário do Tesouro afirmou que, quando os recursos
do fundo começarem a ser usados, esse dinheiro poderá financiar empresas no Brasil e
no exterior. O principal objetivo do governo é que as operações passem pelo BNDES.
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