|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ISOLADOS
Assédio institucional ganha força quando a empresa é omissa
Apesar de tentativas para coibir a prática, violência é replicada nas firmas e compõe perfil generalizado
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A empresa responde pela reparação dos atos de seus empregados no exercício do trabalho, segundo o Código Civil.
Entretanto, dizem especialistas, quando o tema é assédio
moral, muitas não têm canais
eficazes para combatê-lo.
Isso, aliado a políticas mais
agressivas de gestão, pode, algumas vezes, reforçar a prática
do terror psicológico. Neste caso, surge o assédio moral institucional, no qual todos os funcionários podem ser considerados vítimas. "É uma co-autoria
de assediadores", explica a advogada e mestra em direito do
trabalho Adriana Calvo.
"Ele é oriundo de uma política empresarial truculenta e ultrapassada", diz Jorge Luiz de
Oliveira da Silva, professor de
criminologia da Universidade
Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Como exemplo, ele cita um
caso ocorrido em uma grande
fábrica de roupas íntimas.
"Os funcionários -na maioria, mulheres- eram vigiados
por câmeras até nos vestiários
e, no fim do expediente, passavam por revista íntima, para verificar se não roubavam peças."
Após denúncias, a firma foi
forçada a alterar a prática. Para
Silva, os empregados poderiam
entrar com uma ação coletiva
contra o empregador. Mas o assédio institucional ainda é um
conceito inédito na jurisprudência brasileira.
"Até o assédio individual, que
não tem lei na esfera privada, é
embrionário. O institucional é
vanguarda", avalia Calvo.
Para coibir a prática de assédio e auxiliar os assediados,
empresas têm aderido a manuais de conduta, ouvidorias e
ombudsmans. A eficácia deles,
porém, é controversa.
Para a professora da Faap
(Fundação Armando Álvares
Penteado) Maria Aparecida
Rhein Schirato, nunca se teve
tanto assédio moral no ambiente de trabalho quanto hoje.
"Não tenho visto atitudes de
empresas para combatê-lo. Pelo contrário: elas o reforçam."
Para Schirato, as empresas
que mais sofrem com assédio
são as que trabalham por metas
e as que têm de responder ao
mercado com rapidez. Já as que
trabalham com projetos tendem a dar mais tempo à maturação de idéias do funcionário.
Willian Bull, consultor da
Mercer, é mais otimista: "Aumentaram os questionamentos
das lideranças. Isso encoraja as
empresas a tomar mais consciência", avalia.
(AR e MI)
Texto Anterior: "Cheguei a recolher 3 kg de pedras" Próximo Texto: Avaliação do dano varia de caso a caso Índice
|