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recursos humanos
Playback propõe maior integração
Modalidade de teatro começa a ser utilizada como fonte de reflexão crítica nas empresas
DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Visto com ressalvas por alguns atores profissionais, o teatro playback está saindo das coxias e conquistando não só palcos mas também empresas.
Por meio de uma técnica que
foge do consagrado método
Stanislavski -em que o ator, ao
incorporar o personagem, causa sensação de realidade no espectador-, o teatro playback
faz uso de relatos pessoais e de
experiências do ambiente da
empresa para criar, de improviso, pequenas apresentações.
Quando aplicado ao ambiente corporativo, pode gerar bons
resultados na integração e no
desempenho dos funcionários.
É o que afirma a doutora em
teatro aplicado Rea Dennis, 46,
que esteve no Brasil em outubro para realizar workshops.
Rea, que é australiana, falou
sobre a técnica de playback,
com a qual trabalha há 15 anos,
em entrevista à Folha.
FOLHA - De que forma o teatro
playback pode auxiliar a empresa e
seus funcionários?
REA DENNIS - É uma ferramenta
para analisar necessidades, fazer avaliações e refletir sobre
projetos recém-finalizados.
Perguntamos, por exemplo,
"como foi trabalhar no projeto?" ou "o que não funcionou?"
e então iniciamos uma conversa. Cada vez que alguém diz algo, os atores fazem teatro com
isso. É bastante empolgante.
É como um presente que a
empresa dá à equipe. Como se
dissesse que o grupo fez um
bom trabalho e oferecesse essa
nova experiência em troca.
O que fazemos em cada caso
é conhecer a empresa e depois
fazer uma proposta de como o
playback poderá ajudá-la.
Trabalhei, por exemplo, com
uma firma em que um funcionário havia cometido suicídio.
Foi uma época muito difícil e as
pessoas estavam muito infelizes. Não ficou claro se o suicídio tinha tido relação com esse
momento. Foram cinco meses
de trabalho. O suicídio foi, durante esse tempo, explorado
como um símbolo de angústia.
FOLHA - Os empregados não são
resistentes a essa experiência?
REA - São absolutamente abertos. Parte do meu trabalho é
convidar, mas não há pressão.
O que acontece é que, logo
que o condutor da apresentação explica o método de playback, alguém na platéia se dispõe a contar alguma coisa.
E, se alguém não quiser participar, tudo bem. As pessoas
precisam estar confortáveis.
É importante avaliar quanto
cada um quer e pode participar.
Todo grupo tem um "contrato"
de quanto é possível dividir.
FOLHA - Em que época as empresas
mais contratam teatro playback?
REA - No fim do ano. Os empresários nos procuram e dizem que tiveram um ano difícil,
pedem para irmos à festa de
Natal e nos solicitam uma apresentação. O teatro playback
não tem a ver especificamente
com treinamento de funcionários, mas com celebração.
FOLHA - As pessoas costumam encarar negócios e artes como coisas
completamente separadas. Como
misturá-los?
REA - A Revolução Industrial
modificou as pessoas. Tornamo-nos funções de uma máquina. No capitalismo, o homem é
encarado apenas como uma
função da moeda, do dólar.
No teatro, por se tratar de
pessoas em um palco, há o diferencial de o encontro ser com
outro ser humano, não com um
objeto. Assim a arte constrói
valores de humanidade.
As pessoas se projetam nos
palcos. O espectador vê um
ator, pensa que é forte e quer
ser como ele, por exemplo.
Quer lidar com os problemas
como o personagem da peça lida. Ou enxerga um novo mundo -assiste a uma apresentação sobre competição, por exemplo, e fica feliz em vê-la visível, porque a competição no
mundo dos negócios é velada.
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