São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007

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recursos humanos

Playback propõe maior integração

Modalidade de teatro começa a ser utilizada como fonte de reflexão crítica nas empresas

DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Visto com ressalvas por alguns atores profissionais, o teatro playback está saindo das coxias e conquistando não só palcos mas também empresas.
Por meio de uma técnica que foge do consagrado método Stanislavski -em que o ator, ao incorporar o personagem, causa sensação de realidade no espectador-, o teatro playback faz uso de relatos pessoais e de experiências do ambiente da empresa para criar, de improviso, pequenas apresentações. Quando aplicado ao ambiente corporativo, pode gerar bons resultados na integração e no desempenho dos funcionários.
É o que afirma a doutora em teatro aplicado Rea Dennis, 46, que esteve no Brasil em outubro para realizar workshops. Rea, que é australiana, falou sobre a técnica de playback, com a qual trabalha há 15 anos, em entrevista à Folha.

 

FOLHA - De que forma o teatro playback pode auxiliar a empresa e seus funcionários?
REA DENNIS
- É uma ferramenta para analisar necessidades, fazer avaliações e refletir sobre projetos recém-finalizados. Perguntamos, por exemplo, "como foi trabalhar no projeto?" ou "o que não funcionou?" e então iniciamos uma conversa. Cada vez que alguém diz algo, os atores fazem teatro com isso. É bastante empolgante.
É como um presente que a empresa dá à equipe. Como se dissesse que o grupo fez um bom trabalho e oferecesse essa nova experiência em troca. O que fazemos em cada caso é conhecer a empresa e depois fazer uma proposta de como o playback poderá ajudá-la.
Trabalhei, por exemplo, com uma firma em que um funcionário havia cometido suicídio. Foi uma época muito difícil e as pessoas estavam muito infelizes. Não ficou claro se o suicídio tinha tido relação com esse momento. Foram cinco meses de trabalho. O suicídio foi, durante esse tempo, explorado como um símbolo de angústia.

FOLHA - Os empregados não são resistentes a essa experiência?
REA
- São absolutamente abertos. Parte do meu trabalho é convidar, mas não há pressão. O que acontece é que, logo que o condutor da apresentação explica o método de playback, alguém na platéia se dispõe a contar alguma coisa.
E, se alguém não quiser participar, tudo bem. As pessoas precisam estar confortáveis. É importante avaliar quanto cada um quer e pode participar. Todo grupo tem um "contrato" de quanto é possível dividir.

FOLHA - Em que época as empresas mais contratam teatro playback?
REA
- No fim do ano. Os empresários nos procuram e dizem que tiveram um ano difícil, pedem para irmos à festa de Natal e nos solicitam uma apresentação. O teatro playback não tem a ver especificamente com treinamento de funcionários, mas com celebração.

FOLHA - As pessoas costumam encarar negócios e artes como coisas completamente separadas. Como misturá-los?
REA
- A Revolução Industrial modificou as pessoas. Tornamo-nos funções de uma máquina. No capitalismo, o homem é encarado apenas como uma função da moeda, do dólar.
No teatro, por se tratar de pessoas em um palco, há o diferencial de o encontro ser com outro ser humano, não com um objeto. Assim a arte constrói valores de humanidade.
As pessoas se projetam nos palcos. O espectador vê um ator, pensa que é forte e quer ser como ele, por exemplo. Quer lidar com os problemas como o personagem da peça lida. Ou enxerga um novo mundo -assiste a uma apresentação sobre competição, por exemplo, e fica feliz em vê-la visível, porque a competição no mundo dos negócios é velada.


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