São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DÁ IBOPE?

Benefício inovador nem sempre emplaca

DA REDAÇÃO

Evitar as expressões de aborrecimento da equipe durante um treinamento na selva ou que a academia interna superequipada fique às moscas não depende exclusivamente de ter funcionários com senso de humor ou que adorem a prática de exercícios.
"Comunicação é a palavra-chave para que a empreitada tenha sucesso. Se os organizadores não divulgarem, explicarem o sentido do que foi proposto e estimularem o uso, correm o risco de ver o investimento correndo pelo ralo."
O alerta vem de Paulo Paixão Gomes, 38, líder da área de comunicação estratégica da Mercer Human Resources, consultoria especializada em benefícios.
Uma das orientações dadas aos clientes com interesse em implantar novidades "criativas" é que o benefício esteja associado à estratégia de negócios da empresa.
"Não adianta seguir tendências de recursos humanos se o volume de utilização não compensa os gastos. Além da felicidade do empregado, é preciso pelo menos manter a produtividade."
E, dependendo do projeto, os custos não são baixos. A Locaweb, por exemplo, investiu R$ 25 mil para montar seu espaço de convivência. "Criamos um ambiente especificamente voltado para o lazer, pois acreditamos que a qualidade do trabalho depende de funcionários tranquilos," explica Cristian Alejandro Gallegos Vasquez, 27, assistente de marketing.
"Mas ficamos preocupados agora com a Copa, pois os jogos podem desviar a atenção, e nós não queremos ter nosso atendimento prejudicado", completa.

Entre pavões
A cultura da empresa também não deve ser esquecida. Geralmente as companhias que dão benefícios para "consumo" no local de trabalho são as que valorizam a produção de resultados em vez do cumprimento de horários.
"Como nossa preocupação não é quanto tempo o colaborador fica sentado trabalhando, os novos contratados têm de passar por um processo de aculturação para utilizar bem essa liberdade", diz Rosimarilane Yonamine, 42, gerente de RH da Merck Sharp & Dohme, do ramo farmacêutico, que oferece academia e massagem.
"Essas inovações são uma forma de compensar as longas jornadas e a necessidade de trabalhar até em finais de semana", acredita Decio Vaz, 23, assistente de comunicação corporativa da agência de propaganda J. Walter Thompson. A agência tem, na entrada do prédio, um jardim com dez pavões verdadeiros e bancos para que os funcionários relaxem.

Fila para o shiatsu
Empresas tradicionais também podem ter essas opções. "Isso é válido desde que fique claro para a equipe quais são as regras de uso e os valores da organização", avalia Adriana Gomes, da Catho.
"O problema é que aprendemos que é preciso trabalhar o tempo todo. Faz parte da nossa cultura", diz Frederico Fialho, 34, coordenador da Sara Lee Cafés do Brasil.
Há seis meses, a empresa contratou um massoterapeuta e instituiu o shiatsu para todos os funcionários, e ele conta que teve dificuldade na adaptação.
"No início me sentia constrangido, não estava acostumado a essas regalias. Pensar que você pode parar o que está fazendo e relaxar é complicado. Você não se sente muito à vontade", conta.
Pelo lado do empregador, também surgiram dúvidas. Elizabeth Grossman, diretora de RH da companhia, conta que houve temor quanto ao uso do benefício.
"Tive receio de uma sub ou de uma superutilização do shiatsu. No começo, tivemos de estimular os funcionários por meio dos médicos do ambulatório. Depois, até houve dias com fila, mas chegamos a um ponto de equilíbrio."


Texto Anterior: Ações incluem rapel e aula de samba
Próximo Texto: Limitar horário é opção para não provocar dilema
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.