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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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"PEGADINHA" PROFISSIONAL
Consultores contestam a utilidade das "brincadeiras"

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Perguntas com jeito de brincadeira podem servir para medir raciocínio, lógica aplicada, capacidade de adaptação, agilidade? Para muitos consultores de recursos humanos, não. Eles resumem a sua ideologia em uma frase: "Pegadinhas não provam nada, são só piadas de mau gosto".
O CEO ("chief executive officer", principal executivo) da Curriculum, Marcelo Abrileri, identifica duas correntes que divergem sobre o tema. "Há os psicólogos que inovam e colocam as pessoas à prova de diferentes maneiras, criando "pegadinhas", e há os que focam o processo na entrevista, na relação com o entrevistador."
O diretor do portal Jobshopping (www.jobshopping.com.br) Alessandro Cordeiro faz uma analogia: "Um experto em palavras-cruzadas pode obter sucesso em "pegadinhas", independentemente de sua formação". Ou seja, não seria um método seguro.
Do lado dos defensores, os benefícios apontados são afunilar rapidamente os processos seletivos e mostrar a "verdadeira face" dos candidatos ao emprego.
"Não queremos gente que decore jornal e revista, que "force" a entrevista respondendo aquilo que o selecionador quer ouvir", rebate a consultora Adriana Andrade, da Adecco. Segundo ela, ao surpreender os candidatos na seleção, seria possível descobrir reais traços de suas personalidades.
"Pode até ser interessante, mas só se tiver peso limitado na análise global", contesta a psicóloga Patrícia Parron, do Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios). "É melhor passar um tempo maior com o candidato para conhecê-lo do que usar uma "pegadinha"."
"Válidas, porém questionáveis" é como a consultora de recursos humanos Carla Fabiana dos Santos, do Grupo Catho, caracteriza as charadas nas seleções. "A empresa corre o risco de descartar bons candidatos ou de procurar por competências que não serão importantes para o cargo", diz.
Se a "pegadinha" não for etapa decisiva na contratação, é defendida pelo diretor da Towsend, Márcio Miranda. "É um momento lúdico na entrevista, relaxa o candidato e nos dá mais "pistas" sobre como ele se comportaria no ambiente profissional."

"Efeito funil"
Quando há um grande contingente de candidatos para um universo reduzido de vagas -fato comum no Brasil-, as "pegadinhas" viram recurso comum para afunilar o processo.
Foi assim com o estudante Marcelo de Souza, 18, que cursa nível técnico em administração. Aos 16 anos, ele entrou no primeiro emprego passando por uma prova simples, mas na qual 90% dos candidatos foram reprovados.
A tarefa era ler um texto em tópicos, cujo primeiro mandamento dizia "leia até o final antes de começar". No meio da folha havia várias ordens do tipo "conte até dez em voz alta" ou "grite o próprio nome", mas, no fim do texto, o último tópico dizia para não seguir nenhuma das instruções dadas até então, mas apenas a primeira e a última.
Como a primeira "missão" era ler até o fim sem fazer nada, dava-se melhor o candidato que ficava quietinho o tempo todo.


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