São Paulo, domingo, 18 de junho de 2006

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NA SOMBRA DAS DROGAS

Profissionais temem sofrer preconceito no trabalho

Usuários tentam camuflar mau humor, ansiedade e desmotivação

DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo protegidos pela confidencialidade das informações médicas, alguns profissionais não recorrem ao tratamento gratuito das empresas -temem que possam ser identificados.
Esse medo é multiplicado quando o profissional atua em firmas que não contam com campanhas de esclarecimento.
"Não diria para o meu chefe, mas acho que, se ele soubesse, seria demitida", avalia a produtora de eventos A.P., 34, sobre o uso de maconha e anfetamina.
O jornalista T.A.R., 21, também preferiu omitir o uso diário de cocaína aos colegas. Porém, foi seu próprio delator.
Há três anos, quando era estagiário no departamento de marketing em uma empresa, usou a droga pela primeira vez. Nos seis meses seguintes, diz ele, nenhum colega notou alteração em seu comportamento.
Só começaram a desconfiar quando passou a ter tremedeiras constantes no trabalho. Nesse período, fazia uso da cocaína no banheiro da empresa.
"Utilizava cocaína para trabalhar, pois passava a noite toda usando e depois tinha que ter pique para agüentar o dia sem ter dormido", recorda.
O rendimento no trabalho, lembra ele, caiu: passou a ter dificuldades para realizar os afazeres, não conseguia mais esconder a ansiedade e ficava nervoso ao tomar decisões.
O indício mais forte de que algo estava acontecendo foi durante uma reunião. Por causa dos efeitos da droga, seu nariz começou a sangrar. "Muitos me falaram para procurar um médico, mas não sei se todos eles sabiam que o sangramento era causado pela cocaína", afirma.
Foi demitido em fevereiro do ano passado. Era o pontapé que faltava para deixar a cocaína. Quatro meses depois, já fazia parte do quadro de funcionários de outra empresa.
"Havia espaço para efetivação na outra firma, mas não tinha motivação", assinala.
A falta de estímulo foi um dos argumentos do superior de Roberto Gonçalves, 28, para dispensá-lo da farmácia em que trabalhava havia sete meses.
No entanto, havia outros motivos, na opinião de Gonçalves: além da impaciência, da ansiedade, do mau humor e dos atrasos, alguns remédios começaram a "sumir" das prateleiras.
O segundo emprego veio meses depois: foi contratado como contínuo por uma empresa de pisos e forros. "Ficava na rua, ninguém percebia", lembra.
Quatro meses depois, foi remanejado. Passou a ajudar o motorista do caminhão com o transporte das mercadorias.
"Ele também cheirava cocaína. Roubamos produtos, sumimos com o caminhão por um dia e fomos demitidos", conta.
Ele diz que não omitiria a informação após ser contratado. "Hoje [depois de ter abandonado o vício,] sou outra pessoa", analisa, acrescentando que quer terminar o curso superior de química e conseguir um emprego em uma firma de tintas.


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