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NA SOMBRA DAS DROGAS
Profissionais temem sofrer preconceito no trabalho
Usuários tentam camuflar mau humor, ansiedade e desmotivação
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo protegidos pela confidencialidade das informações
médicas, alguns profissionais
não recorrem ao tratamento
gratuito das empresas -temem
que possam ser identificados.
Esse medo é multiplicado
quando o profissional atua em
firmas que não contam com
campanhas de esclarecimento.
"Não diria para o meu chefe,
mas acho que, se ele soubesse,
seria demitida", avalia a produtora de eventos A.P., 34, sobre o
uso de maconha e anfetamina.
O jornalista T.A.R., 21, também preferiu omitir o uso diário de cocaína aos colegas. Porém, foi seu próprio delator.
Há três anos, quando era estagiário no departamento de
marketing em uma empresa,
usou a droga pela primeira vez.
Nos seis meses seguintes, diz
ele, nenhum colega notou alteração em seu comportamento.
Só começaram a desconfiar
quando passou a ter tremedeiras constantes no trabalho.
Nesse período, fazia uso da cocaína no banheiro da empresa.
"Utilizava cocaína para trabalhar, pois passava a noite toda usando e depois tinha que
ter pique para agüentar o dia
sem ter dormido", recorda.
O rendimento no trabalho,
lembra ele, caiu: passou a ter dificuldades para realizar os afazeres, não conseguia mais esconder a ansiedade e ficava
nervoso ao tomar decisões.
O indício mais forte de que
algo estava acontecendo foi durante uma reunião. Por causa
dos efeitos da droga, seu nariz
começou a sangrar. "Muitos me
falaram para procurar um médico, mas não sei se todos eles
sabiam que o sangramento era
causado pela cocaína", afirma.
Foi demitido em fevereiro do
ano passado. Era o pontapé que
faltava para deixar a cocaína.
Quatro meses depois, já fazia
parte do quadro de funcionários de outra empresa.
"Havia espaço para efetivação na outra firma, mas não tinha motivação", assinala.
A falta de estímulo foi um dos
argumentos do superior de Roberto Gonçalves, 28, para dispensá-lo da farmácia em que
trabalhava havia sete meses.
No entanto, havia outros motivos, na opinião de Gonçalves:
além da impaciência, da ansiedade, do mau humor e dos atrasos, alguns remédios começaram a "sumir" das prateleiras.
O segundo emprego veio meses depois: foi contratado como
contínuo por uma empresa de
pisos e forros. "Ficava na rua,
ninguém percebia", lembra.
Quatro meses depois, foi remanejado. Passou a ajudar o
motorista do caminhão com o
transporte das mercadorias.
"Ele também cheirava cocaína. Roubamos produtos, sumimos com o caminhão por um
dia e fomos demitidos", conta.
Ele diz que não omitiria a informação após ser contratado.
"Hoje [depois de ter abandonado o vício,] sou outra pessoa",
analisa, acrescentando que
quer terminar o curso superior
de química e conseguir um emprego em uma firma de tintas.
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