São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

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MUNDO ACADÊMICO

Pós-graduandos estrangeiros possuem as mesmas regalias que os locais, como seguros e auxílio-moradia

França seduz acadêmicos com benefícios

Renato Stockler/Folha Imagem
O professor Danilo Almeida, que ficou em Paris por quatro anos


RENATO ESSENFELDER
ENVIADO ESPECIAL À FRANÇA

Mais do que com grifes como Sciences Po, HEC e Sorbonne, a França conta com sua sólida tradição de Estado de bem-estar social para seduzir os pós-graduandos estrangeiros. Para os alunos, o conceito se traduz em universidades públicas (anualidades de 150 a 500), auxílio-moradia, seguros e praticamente todos os direitos dos franceses natos.
"Não conheço outro país em que o estudante estrangeiro tenha todos os direitos dos nativos", diz Mathilde Mallet, da Edufrance, agência de divulgação do ensino superior francês no mundo.
De fato, quem vem de fora tem prerrogativas como matricular seus filhos no sistema público de ensino, pedir auxílio-moradia e até trabalhar meio período (por salário médio de 600). Diferenciais que impulsionam a demanda por uma vaga no país.

Co-tutela
A mais reluzente isca para atrair estrangeiros ao país é o sistema de co-tutela de tese, pouco difundido por aqui. "O aluno tem um orientador na instituição de origem e outro na França, onde faz pelo menos um estágio de um ano. No fim do curso, recebe dois diplomas ou um diploma conjunto", explica Françoise Boursin, do Serviço Comum Universitário de Informação e Orientação da Universidade Paris 4 (Sorbonne).
Nesse sistema, o aluno não precisa se preocupar com o reconhecimento de seu diploma pelo MEC, já que será titulado por uma universidade local. Também não precisa redigir a tese em dois idiomas, basta um "resumo longo" (cerca de 30 páginas) na segunda língua. É diferente do diploma do "doutorado-sanduíche", emitido em nome da instituição brasileira.
Para as universidades, a co-tutela facilita a internacionalização e impulsiona pesquisas. "Outra vantagem é obter financiamento para intercâmbio de professores com mais facilidade", corrobora Annick Weiner, vice-reitora de relações internacionais da Universidade Paris-Sul 11.
Especialmente forte em áreas técnicas, a co-tutela é uma das armas do governo francês para mostrar que a França não entende só de ciências humanas e sociais.
"É perigoso que o mundo tenha somente uma força transversal, como os Estados Unidos, a influenciá-lo", raciocina o reitor da Universidade Paris 3 (Sorbonne Nouvelle), Bernard Bosredon.
A imagem de um país extravagante, pouco receptivo e que só tem tradição no campo filosófico é, aliás, o pesadelo de acadêmicos. "Temos que acabar com esse mito de que a França é um país que só produz conhecimento em humanas: temos centros de excelência em engenharia e medicina", argumenta Daniel Ollivier, diretor do gabinete do reitor da Sorbonne.

Frieza
Já os humores dos franceses (e mais especificamente dos parisienses) exigem certa adaptação. "Os franceses são muito ásperos", pondera Danilo Almeida, 46, doutor em filosofia pela Universidade Paris 10, que ficou por quatro anos no país. "Paris é ainda menos receptiva", arremata Beatriz Ávila, 21, aluna de relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília) que faz intercâmbio na Sciences Po.
Acadêmicos desaconselham a estada em Paris porque: 1) A cidade é cara; 2) alojamento é escasso; 3) parisienses são pouco amistosos. Mesmo assim, 80% dos alunos brasileiros ficam na capital, segundo a Edufrance. "Nas cidades pequenas, às 20h, fecha tudo. Prefiro morar em Paris", justifica Marcos Antônio Soares, 27, doutorando em fitopatologia na Universidade Paris-Sul 11.
Mas quem abre mão da vida noturna encontra no interior ótimas opções: "Aqui moro em uma casa ampla. Em Paris, pagaria o mesmo [ 440/mês] por um quarto de 20 m2", conta a cearense Andrea Linhares, 29, doutoranda em informática na Universidade de Avignon, vizinha ao Mediterrâneo e aos Alpes suíços.

O jornalista viajou a convite da Edufrance

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