São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2007

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A CAMINHO DE ANGOLA

País atrai mão-de-obra brasileira

"Importação" de profissionais acontece para postos diversos, de vendedores a engenheiros

Felipe Varanda/Folha Imagem
Rogério Garcia da Silva, que retornou antes do fim do contrato


ANDRESSA ROVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

De exportador de escravos séculos atrás a anfitrião de mão-de-obra qualificada, Angola, na África, é hoje um país em busca de trabalhadores.
Em fase de reconstrução com o término, em 2002, de 27 anos de guerra civil, a nação angolana, antes socialista, avança agora rumo à economia de mercado. Um dos indícios da volta por cima é a alta do PIB em 2005: 20,6% -entre as maiores do mundo naquele ano.
"Angola tem o problema crônico -que não é de agora- de não ter mão-de-obra. Além disso, há muita gente machucada e amputada como saldo da guerra", explica o professor Solival Menezes, autor do livro "Mamma Angola" (Edusp). "Mesmo os que não estão nessas condições receberam formação inferior à necessária para se inserir nessa economia de mercado."

Eldorado africano
Por isso, para brasileiros com qualificação focada em áreas estruturais, Angola é hoje uma espécie de eldorado africano.
"É grande, sim [o número de trabalhadores brasileiros em Angola]", confirma Afonso Nery, conselheiro da Embaixada do Brasil em Luanda.
"Em meus dois anos aqui, posso dizer que tenho encontrado muitos brasileiros: é o garçom, o vendedor, o funcionário do hotel. O brasileiro é tido como excelente trabalhador. Ele vem, ganha dinheiro e volta [ao Brasil]", comenta Nery.
O analista de infra-estrutura M.A.S., 33, é um dos que se deixaram encantar pelas perspectivas oferecidas por aquele país. Ele tenta uma vaga em uma empresa brasileira que presta serviços ao governo angolano.
"Achei a proposta interessante pela questão cultural, pela possibilidade de ter uma experiência internacional e pela estrutura que me foi oferecida", conta o analista. Como espera o resultado da seleção, preferiu não se identificar.
Segundo Afonso Nery, os três vôos semanais da angolana Taag na rota Brasil-Angola-Brasil "vão e voltam lotados".
"Há um espaço a ser ocupado. O país precisa dessa mão-de-obra e vai continuar absorvendo [trabalhadores]", confirma Solival Menezes.
Apesar de serem estimados em 3.500 os brasileiros presentes naquele país, a embaixada desconhece o número de trabalhadores atualmente por lá. "Eles só nos procuram quando têm problemas", aponta Nery.

Expansão de vagas
Um exemplo da boa fase são as estatísticas divulgadas pelo Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social angolano. Segundo a instituição, o país pretende criar, por exemplo, 71 mil empregos nos setores de construção civil e obras públicas entre 2006 e 2007, e, no setor de pesca, estimam-se 217 mil novos postos até dezembro de 2008.
"Comparando com o Brasil, [o salário] compensa: lá, um técnico em instalações elétricas ganha [o equivalente a] R$ 5.000. Aqui, nunca chegaria a isso", exemplifica Nery.
É justamente a remuneração o principal chamariz das ofertas na África, tanto por empresas brasileiras -que, aos poucos, ampliam a participação no mercado angolano-, como pelo governo e por companhias locais ou de outros países.


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