São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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ORIENTE NO TRABALHO

Profissional é visto como analítico e reservado

Perfil preconcebido de descendente de japoneses pesa a favor ou contra

CÁSSIO AOQUI
EDITOR-ASSISTENTE DE EMPREGOS E CARREIRAS

Já existem no Brasil descendentes de imigrantes japoneses de sexta geração -os chamados "rokuseis"-, bem distantes da cultura ancestral nipônica. Ainda assim, por bem ou por mal, a imagem dos chamados nikkeis no mercado de trabalho é exemplo de marca registrada.
Impera, nesse caso, o perfil de profissional analítico, tecnicista e de pouca conversa.
"Não se trata de uma percepção da área de recursos humanos. É uma questão cultural, parte verdade, parte carimbo", afirma a presidente da ABRH-SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional São Paulo), Elaine Saad.
A descrição dos nikkeis no ambiente de trabalho quase sempre resvala em pessoas mais fechadas, bastante capazes individualmente, perspicazes, inteligentes, pouco conflituosas, tímidas e contidas.
Muitas vezes, esse perfil se mostra uma vantagem competitiva para os candidatos de ascendência oriental. Foi o que aconteceu com o personal trainer Rodrigo Fabri, 28, que é mestiço e neto de japoneses.
"O entrevistador do meu atual emprego, em uma academia, disse que me contrataria porque acredita que os japoneses são mais comprometidos e responsáveis no trabalho", diz.
O fator que lhe rendeu pontos, porém, não consta necessariamente do que destacaria entre seus maiores atributos. "Sou muito pouco japonês. Fui criado com a cultura italiana."

Cada um na sua
Outro fato que é realidade no meio profissional é a alocação dos nikkeis de forma concentrada por área de atuação.
"Levam vantagem em áreas industriais e técnicas, como finanças, contabilidade e tecnologia. Já em setores como vendas, marketing e recursos humanos, estão em clara desvantagem", observa o consultor Renato Yukio Nishimura.
"Mas essa distinção é mais pelo estereótipo do que pela competência em si", avalia.
Na fábrica japonesa de zíperes YKK, 50% da força de trabalho é composta de nikkeis ou expatriados vindos do Japão. "Em criação e marketing, eles são poucos", atesta Fabíola Rosa, do setor de marketing.
Muitos que "ousam" enveredar por áreas não técnicas costumam encontrar obstáculos.
Marcelo Miyashita, 36, consultor da Miyashita Consulting, diz ter enfrentado preconceito no início de sua carreira. "Quando decidi estudar propaganda, ouvi muito frases como "você é japonês, tem de fazer engenharia no ITA [Instituto Tecnológico da Aeronáutica]"."


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