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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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PRESSA DE APRENDER

Sem opinião formada sobre candidato que faz superior rápido, recrutadores questionam a validade da iniciativa

Entrevistador não sabe ainda avaliar "aluno sequencial"

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quem tem curso sequencial no currículo dificilmente consegue escapar de uma pergunta nas entrevistas de emprego: por quê? Explicar a opção pela formação mais enxuta em detrimento da graduação tradicional tornou-se tema constante nas seleções.
Sem opinião definida sobre a qualidade dos sequenciais, que são novidade para muitos profissionais de recursos humanos, o mercado, de forma geral, prefere ouvir o que os candidatos têm a dizer. "São variáveis que não conhecemos completamente", afirma Elaine Saad, sócia-diretora da consultoria RightSaadFellipelli.
"O tema é novo, ainda existe muita dúvida e subjetividade", declara a coordenadora de consultoria da Manager Assessoria em Recursos Humanos, Neli Barboza. "O mercado não sabe o que leva o profissional a fazer isso. É a necessidade de rapidez ou simplesmente acomodação?"
Por essa razão, entender os motivos que determinaram a escolha do curso é essencial para formar o perfil do candidato, explicam consultores. Na entrevista, o mais importante é mostrar que há uma estratégia traçada para a carreira.
Fábio Bombardi, 23, que está desempregado, conta que tem de explicar em todas as entrevistas de emprego a razão de fazer um sequencial de administração de recursos humanos. "É um curso mais prático. Como já sei o que quero, estou satisfeito", justifica.
Se vale responder que o curso específico foi escolhido porque o profissional já sabia exatamente com o que pretendia trabalhar, também é válido contar que a opção foi feita porque era a mais rápida ou a mais barata. O conselho é simples: dizer a verdade.
Mas não basta dizer que não tinha dinheiro, ensina Saad. Sobretudo quando o curso não era exatamente o que o profissional queria, é preciso demonstrar interesse e disposição para continuar se aperfeiçoando. "O mercado valoriza quem fez, com esforço próprio, um curso, mesmo um reduzido", declara a consultora.

Resistência
"Como ocorre com toda novidade, é natural que haja resistência, causada pelo desconhecimento, por parte das empresas, do conteúdo desses cursos", diz Angelo Palmisano, responsável pelos 18 cursos de curta duração da Uninove, entre eles gestão de importação e exportação, análise gerencial, planejamento estratégico empresarial (procurado sobretudo por pequenos empresários) e finanças corporativas.
Ele ressalta que o aluno precisa estar certo do que quer, pois o sequencial está longe de ser um caminho mais fácil. "É um curso focado, não um supletivo. A idéia não é fazer em dois anos o que deveria ser feito em quatro. Também não é um pedaço de uma graduação. O curso faz um recorte, trata de uma área específica."
Para Cristiane Alperstedk, da Universidade Anhembi Morumbi -que oferece sequenciais "in company", como o de serviços de atendimento ao consumidor, que satisfaz demandas específicas das empresas-, o modelo enfrentou problemas, mas, desde 2002, a situação está se revertendo.
Anderson Pereira Xavier, 25, que termina neste ano um curso de dois anos de criação e produção publicitária, conta que teve dificuldade para encontrar emprego porque não tinha experiência. "Se você entra sem saber nada, é difícil concorrer com outras pessoas na área." Ele diz, no entanto, que hoje está empregado graças a contatos feitos no curso.

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