São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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Demora para reagir leva a moléstias

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A competitividade no mercado de trabalho é vista como uma das principais causas da passividade da vítima diante do assediador. "Ela suporta a situação, pois tem a ilusão de que aquele inferno vai passar em breve. Porém isso não acontece", afirma a médica do trabalho Margarida Barreto.
Para Roberto Heloani, professor de psicologia do trabalho e saúde do trabalhador, a incapacidade de reagir está diretamente relacionada à falta de percepção. "Algumas pessoas pensam que se trata apenas de uma informalidade sem grandes conseqüências."
Aos poucos, contudo, a humilhação vai minando as forças mentais e físicas do trabalhador. Foi o que ocorreu com a costureira Elisabeth Pittman, 47, "torturada moralmente" pela encarregada do setor em que trabalhava.
"Ela me espionava no banheiro, me ameaçava e me humilhava na frente das colegas", lembra. Depois de um ano de assédio, durante uma discussão com a supervisora, Pittman sofreu um infarto.
Tal incidente mostra que o terror psicológico não deixa apenas seqüelas emocionais. Os primeiros indícios físicos são palpitações, sudorese, transtornos digestivos, dores no corpo e distúrbios do sono. Logo depois, aparecem as moléstias propriamente ditas.
De acordo com Heloani, alterações hormonais e cefálicas estão mais presentes entre as mulheres. Já nos homens, são freqüentes os problemas cardíacos e respiratórios, bem como a disfunção erétil.
Segundo especialistas, a recuperação do assediado é possível, mas leva tempo. "É preciso interferir na causa e nas conseqüências ao mesmo tempo, pois as enfermidades psicossomáticas sempre têm sua raiz numa doença emocional", explica Luiz Carlos Morrone, professor de medicina social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.


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