São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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ASSÉDIO MORAL

Um risco invisível no trabalho

MARGARIDA BARRETO
MARIE FRANCE HIRIGOYEN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Assediar moralmente envolve atos e comportamentos cruéis e perversos perpetrados frequentemente por um superior hierárquico contra uma pessoa, com o objetivo de desqualificá-la, desmoralizá-la profissionalmente e desestabilizá-la emocionalmente. O ambiente de trabalho torna-se insuportável e hostil, e a vítima sente-se forçada a pedir demissão.
Observe se sofre assédio, se há exposição prolongada e repetitiva a situações vexatórias, constrangedoras, antiéticas, desumanas e humilhantes no ambiente em que a relação do subordinado com o chefe é de submissão e sujeição, uma assimetria de poder.
Assédio moral não resulta do mau humor do chefe, em que se resolve a "contenda" com diálogo ou pedido de desculpas. No assédio moral existe um claro objetivo de prejudicar uma determinada pessoa e de se livrar dela.
Os atos são repetitivos e podem ser sutis, é o dito e o não-dito, o oculto e o não-verbalizado, que vai esmagando o outro. A estratégia de quem pratica esse assédio é isolar, ignorar, atingir a sensibilidade do outro. Constitui uma experiência subjetiva que interfere nos sentimentos e nas emoções, altera o comportamento. Agrava doenças ou desencadeia novas.
É fundamental dar visibilidade ao que está sendo velado e ocultado. Aborde o agressor e procure conversar e dialogar calmamente e preferencialmente com uma testemunha. Faça um dossiê do que vem sofrendo. A vítima deve procurar ajuda visando se fortalecer e não se sentir culpada.
Conte a colegas. Isso alivia a dor e reforça os laços de amizade, pois a erradicação do assédio passa pelo apoio e pela solidariedade. As estratégias são variadas; exigem ações preventivas que envolvam diferentes atores, sem excluir, em qualquer de suas manifestações, a responsabilidade da instituição.


Margarida Barreto, 54, é médica do trabalho e pesquisadora do Neixn (Núcleo de Estudos Psicossociais da Dialética Exclusão/Inclusão Social); Marie France Hirigoyen, 52, é psiquiatra, psicanalista, psicoterapeuta, com especialização em vitimologia nos Estados Unidos e na França e autora do livro "Harcèlement Moral" (Assédio Moral)



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