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"Sem-mesa" têm vínculo diminuído
Distância da empresa-mãe impõe sensação de deslocamento e exclusão
DE SÃO PAULO
Para driblar a falta de uma
mesa de trabalho, os consultores passam a ser econômicos nos objetos do dia a dia.
Levam as fotos da família
no computador e carregam
na mochila um miniescritório móvel, com bloco, caneta,
calculadora e notebook.
A tática não supre, porém,
a ausência de estrutura fixa.
O consultor Fabiano Moraes,
32, por exemplo, se diz adaptado à situação, mas sonha
com uma mesa própria.
"Era gostoso ter fotos da família", lembra, em menção à
época em que tinha o móvel.
Também consultor, André
Moura, 30, concorda. "Não
tenho ramal e me acostumei
a não contar com gaveta."
A situação se agrava nas
viagens -rotineiras na vida
desses profissionais. Nesses
casos, deixam montado um
kit básico de vestuário para
passar a semana no cliente.
Potencializam, com isso, a
sensação de perda de identidade, conforme aponta um
dos entrevistados do estudo
de Diana Johnson, feito no
Instituto Coppead, da UFRJ.
"[Só há] criatividade no
começo da semana, para
montar o kit; o resto é automático", atesta o consultor.
FORA DO NINHO
A relação com objetos pessoais não é a única que muda
no caso dos terceirizados.
O vínculo com a empresa-mãe também é enfraquecido,
ressalta Johnson.
"O profissional sente-se
mais parte do cliente, onde
está todos os dias."
Luciana Mourão, da
SBPOT (sociedade de psicologia do trabalho), explica
que a identificação com a
empresa é um componente
de satisfação -por isso a importância de ter vínculos. "Se
as empresas tiverem culturas
similares, o problema não é
grande. Senão, o consultor
pode entrar em conflito."
A fim de minimizar o desencontro, as organizações
mantêm consultores atualizados do dia a dia do escritório por meio de e-mails.
Mesmo assim, a sensação
de estranhamento permanece. "Quando volto ao escritório depois de um tempo fora,
não identifico muitos rostos", destaca André Moura.
Na Asyst International,
treinamentos a cada seis meses são a saída para agrupar
os colaboradores dispersos.
"É o tempo para fazer relacionamento", diz Michelle
Cheonlin, 28, coordenadora
em um cliente da empresa.
SOLITÁRIOS
Em alguns casos, os consultores não se afastam apenas do cotidiano da empresa-matriz -também se isolam
da empresa-cliente.
Essa é a realidade do auditor Raphael, 30, que pediu à
Folha para não se identificar. Em razão de seu trabalho, precisa manter distância
para conseguir ser imparcial.
Ele revela, porém, que gostaria de estar presente em alguns momentos da empresa.
"Sou fã de esportes e a empresa sempre promove eventos aos quais não posso ir."
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