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Adolescência
Estudo mostra que relógio biológico de adolescentes não condiz com aulas antes das 8h; pesquisador chama a diferença de "jet lag social"
Relógio descompassado
ANDREA MURTA
THIAGO MOMM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Mariana de Freitas
Barreiro, 19, está
fora do seu fuso
horário. Aluna do
cursinho Anglo, ela às vezes cochila em sala e, quando o sono
persiste, tenta compensá-lo
nos intervalos de dez minutos
entre as aulas: "Em segundos,
eu durmo profundamente e
chego a sonhar".
Alessandra Weinmann, 17,
acorda às 5h e chega ao mesmo
cursinho, com o mesmo sono,
às 7h. À tarde, fica na sala de estudos porque, se for para casa,
acaba dormindo.
A dificuldade para ficar acordado pela manhã é comum aos
adolescentes, segundo o pesquisador Till Roenneberg, da
Universidade Ludwig-Maximilians, em Munique, Alemanha.
Roenneberg, que estuda o relógio biológico, defende horários
mais flexíveis e afirma que nenhum colégio deveria começar
suas atividades antes das 8h.
"Aulas mais tarde levariam os
adolescentes a uma melhora de
aprendizado, memória e desempenho", afirmou o cronobiologista à Folha.
A defesa de que a rotina deve
se adaptar à necessidade de sono da população, e não o contrário, faz parte de um estudo
coordenado por Roenneberg
com 40 mil voluntários, publicado neste ano na revista científica "Chronobiology International". Segundo a pesquisa,
50% das pessoas sofrem de "jet
lag social" -como se estivessem permanentemente sob os
efeitos de uma mudança brusca de fuso horário.
Corujas e cotovias
O "jet lag social" se deve ao
descompasso entre o relógio
biológico e os horários dos
compromissos sociais. Segundo especialistas ouvidos pela
Folha, adolescentes têm mais
necessidade de sono. Nesse
grupo, que tem também maior
dificuldade para dormir e acordar cedo, o desajuste é pior:
acordar às 6h equivale a sair da
cama à meia-noite, afirma
Roenneberg. Biologicamente, é
como se os alunos estivessem
estudando de madrugada.
Adolescentes são o que o
pesquisador chama de "corujas": pessoas que naturalmente
sentem sono mais tarde que as
outras, geralmente entre meia-noite e 4h. Em tese, deveriam
também acordar mais tarde.
No outro extremo, estão as "cotovias", pessoas propensas a
dormir por volta das 20h e
acordar em torno das 4h.
Segundo Roenneberg, para
evitar que as "corujas" sofram,
horários devem ser adaptados
de acordo com a faixa etária.
Quem tem menos de 14 anos
deve começar as aulas às 8h.
Quem tem entre 14 e 17 anos
deve iniciar às 9h. Para jovens
de 18 a 21 anos, o horário ideal é
entre 9h30 e 10h.
Ele cita o exemplo de uma
experiência na cidade de Minneapolis (EUA). Estudantes de
sete escolas públicas de segundo grau foram acompanhados
antes e depois da mudança do
horário escolar, em 1997
-quando o início das aulas passou de 7h15 para 8h40.
Os alunos relataram diminuição na sensação de depressão, menos sono e aumento da
freqüência às aulas. Agora, o
exemplo está sendo seguido
em pelo menos duas escolas, na
Suíça e na Alemanha.
Adultos
Adultos também sofrem do
"jet lag social". De acordo com o
neurologista Flávio Alóe, do laboratório de sono do Instituto
de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas da USP, os efeitos começam a ser sentidos, especialmente com tarefas que exigem
criatividade, a partir de três
dias com uma hora de sono a
menos do que o necessário.
Para mitigar esses efeitos, especialistas recomendam a exposição à luz do sol pela manhã,
ainda que seja no trajeto casa-trabalho. A luz do ambiente natural é de 50 a 1.000 vezes mais
clara do que a luz interna dos
escritórios e escolas.
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Segundo a pesquisa, 50% das pessoas sofrem de "jet lag social" permanentemente
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