São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2006 |
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Esporte Modalidade estréia na Olimpíada de Pequim, abre o Pan-Americano no Rio e tem cada vez mais praticantes Em águas profundas
SYLVIA COLOMBO
competições no rio Tietê, em São Paulo, nas primeiras décadas do século 20? Mas quem pensa que o fôlego para nadar 1 km na piscina é o mesmo para 1 km no mar está muito enganado. As variantes e os imprevistos são muitos. Há que se enfrentar o frio, calcular o esforço e o ritmo de acordo com a dificuldade de cada trecho e concentrar-se nas bóias que fazem a marcação do percurso para não se perder. E também tomar cuidado para não começar a ficar paranóico. Sim, porque bastam alguns minutos consigo mesmo para você ser invadido por algumas neuras irracionais (bom, nem todas...), na linha: "vou ter cãibras agora", "me perdi, estou totalmente isolado do resto dos nadadores e vou morrer como aquele cara do filme "Mar Aberto'" ou "o que foi isso, um pingo de chuva?". O treinamento também é diferente daquele de quem compete em piscina. Menos técnico, mais voltado à força e ao ritmo. O estilo é o nado crawl, só que os braços são mantidos para fora d'água de maneira um pouco mais estendida. Para passar dos treinos de natação convencionais para os de águas abertas, é preciso ganhar resistência e conformar-se com o fato de que o crawl será o estilo que você mais terá de usar e praticar a partir de agora. Antes de tudo, porém, recomenda-se buscar orientação adequada a cada tipo de atleta. Canal da Mancha No cenário internacional, existem diversas travessias, mas o desafio mais importante para um nadador desse gênero ainda é a do canal da Mancha, que separa a França da Inglaterra. O primeiro a atravessá-lo foi o capitão da Marinha inglesa Mattew Webb, em 1875, que levou mais de 20 horas para chegar até o outro lado. O percurso tem 32 km, mas pouca gente consegue atravessá-lo em linha reta por causa das fortes correntes, o que causa aumentos na quilometragem e, conseqüentemente, no tempo do nadador. Hoje, o recorde mundial está abaixo de oito horas, mas nem por isso a travessia ficou mais fácil.
A temperatura da água é muito baixa, o que faz com que a prova só possa ser feita no verão -e não são permitidas roupas especiais para se proteger do frio. As dificuldades fazem com que, até hoje, apenas 10% dos que tentaram conseguiram terminar o percurso. O Brasil tem dois nomes de destaque na galeria dos campeões do canal. Um deles é Abílio Couto, que o atravessou duas vezes, em 1958 e 1959, batendo o recorde mundial da época. O outro é Igor de Souza, que, em 1997, tornou-se um dos cinco nadadores do mundo a fazer o percurso de ida e volta. Bom. Todo esse blablablá não responderá à pergunta do meu amigo, que certamente preferirá um bom DVD e o calor de uma manta na frente da televisão. Mas, tem louco pra tudo, não é? Sylvia Colombo, 34, é jornalista, mas passou a vida se sentindo um peixe fora d'água Texto Anterior: Adolescência: Relógio descompassado Próximo Texto: Nadador tenta vaga em Pequim Índice |
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