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INSPIRE RESPIRE TRANSPIRE
Quanto mais quente, melhor
Praticada em salas aquecidas a até 43ºC, a ioga quente de Bikram é a nova febre de malhação zen na Europa
MARIANNE PIEMONTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM LONDRES
Não há quem discorde: os lugares mais
quentes do
verão inglês foram os
estúdios de Bikram
ioga, em Londres.
Não porque as aulas
são frequentadas por
gente como Madonna, a cantora Lily
Allen e o tenista número dois do mundo, Andy
Murray -que, no torneio
de Wimbledon, em julho, se
exibiu numa acrobática pose de
cobra e atribuiu o bom rendimento a esse tipo de ioga-, mas
sim porque a sequência criada
pelo indiano Bikram Choudhury, 63, é praticada em salas
com temperaturas que superam 40ºC.
Durante 90 minutos, os alunos, diante de um espelho, são
guiados a fazer 26 posturas,
além dos exercícios de respiração. Os tradicionais ásanas da
ioga, como as poses da águia, do
cachorro e do guerreiro, são repetidos duas vezes, enquanto
dois incessantes ventiladores
cospem o calor na sala. Suar
não é opcional. Partes improváveis do corpo, como a canela, o
farão a valer.
Bikram diz que descobriu os
benefícios do calor quando dava aulas na Índia, em Mumbai,
no início dos anos 70. "Eu tinha
quebrado o joelho e, para me
restabelecer, estava praticando
na sala com janelas e portas fechadas", disse em entrevista
por telefone à Folha.
"Então percebi que o calor
ajudava a ter mais flexibilidade."
Outro benefício que pode incentivar a aguentar 90 minutos
de sauna é, segundo ele, o atributo desintoxicante da técnica.
Tamanha desintoxicação fez
com que a repórter pernoitasse
no banheiro com vômito e diarreia, após o primeiro dia de
prática no estúdio de Fulham,
sudoeste de Londres. Esses
efeitos colaterais estão bem
descritos num imenso folheto,
que quase ninguém lê, distribuído assim que se paga a aula.
"Expire e mande embora todas as tensões do dia, tudo o
que há de ruim no corpo. Alongue ao máximo, sem cutucar o
colega da frente", pedia a professora. Difícil, numa sala com
cerca de 60 alunos, onde o espaço entre um tapete e outro
era inexistente.
A administradora sul-africana Yvete Dupeez, 35, que descobriu a modalidade por uma
reportagem na televisão, está
em um dos tapetes e diz que
não consegue se ver mais longe
do calor. "Me sinto limpa e
energizada depois das aulas.
Levei umas três aulas para começar a curtir e ainda não gosto muito durante o verão", diz.
A londrina Rachael Harrys,
29, chegou ao estúdio por indicação de uma amiga australiana e conta que abandonou as
pílulas para dormir há um ano,
quando começou a praticar.
Depoimentos entusiasmados incluem perda de peso, aumento de autoestima e até cura
do diabetes. Talvez por esses
motivos, hoje Bikram ostente a
marca de 4.000 estúdios pelo
mundo e uma fortuna estimada pelo "Wall Street Journal"
em US$ 7 milhões.
Bikram mora em Los Angeles (EUA), em Beverly Hills,
aonde diz ter chegado a convite
da amiga e atriz Shirley Mac-
Laine, para quem deu aulas na
Índia. "Foi ela quem me emprestou dinheiro para abrir o
primeiro estúdio e me obrigou
a cobrar para espantar os hippies sujos das aulas", diz.
Segundo o iogue, o ex-presidente americano Richard Nixon lhe deu pessoalmente o
visto de permanência nos EUA.
"Eu o curei de uma trombose,
em Honolulu, em 1972. Se não
fosse eu, ele teria tido que amputar as pernas", diz.
O estilo falastrão de Bikram,
que parou a entrevista para dizer que o astro de "Quem Quer
Ser um Milionário", Dev Patel,
havia irrompido em sua sala,
também chama a atenção. Sua
frota de 44 Rolls-Royces e Bentleys e sua paixão por relógios
são tão conhecidas quanto a
modalidade de ioga que criou.
Mas esse luxo todo condiz
com os fundamentos da ioga?
Bikram diz que sim, que não
existe um pedaço do mundo especial criado para iogues e que
ele faz parte da sociedade em
que vive. "Se médicos e cientistas bem-sucedidos vivem assim, por que os iogues não podem?" Ele afirma que trabalha
duro, cura pessoas que sofrem
do coração, salva casamentos e
ajuda quem tem problemas na
espinha. "Qual é a contradição
em viver bem?"
Bikram também ostenta, aos
63 anos, um corpinho de 20,
que, segundo ele, foi esculpido
com a prática, muita meditação, poucas horas de sono e
quase nenhuma comida. Apenas alguma proteína à noite.
Nos planos dele de dominação do mundo, o Brasil também está na mira, mas é preciso acertar um detalhe. "Tenho
muitas professoras brasileiras
aqui nos Estados Unidos, mas
nem elas nem as russas querem
voltar para os seus países." A
Folha não encontrou escolas
que ofereçam as aulas no país.
[...]AS AULAS SÃO FREQUENTADAS POR GENTE COMO MADONNA, A CANTORA LILY ALLEN E O TENISTA NÚMERO DOIS DO MUNDO, ANDY MURRAY
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