São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009
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INSPIRE RESPIRE TRANSPIRE

Quanto mais quente, melhor

Praticada em salas aquecidas a até 43ºC, a ioga quente de Bikram é a nova febre de malhação zen na Europa

MARIANNE PIEMONTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

Não há quem discorde: os lugares mais quentes do verão inglês foram os estúdios de Bikram ioga, em Londres.
Não porque as aulas são frequentadas por gente como Madonna, a cantora Lily Allen e o tenista número dois do mundo, Andy Murray -que, no torneio de Wimbledon, em julho, se exibiu numa acrobática pose de cobra e atribuiu o bom rendimento a esse tipo de ioga-, mas sim porque a sequência criada pelo indiano Bikram Choudhury, 63, é praticada em salas com temperaturas que superam 40ºC.
Durante 90 minutos, os alunos, diante de um espelho, são guiados a fazer 26 posturas, além dos exercícios de respiração. Os tradicionais ásanas da ioga, como as poses da águia, do cachorro e do guerreiro, são repetidos duas vezes, enquanto dois incessantes ventiladores cospem o calor na sala. Suar não é opcional. Partes improváveis do corpo, como a canela, o farão a valer.
Bikram diz que descobriu os benefícios do calor quando dava aulas na Índia, em Mumbai, no início dos anos 70. "Eu tinha quebrado o joelho e, para me restabelecer, estava praticando na sala com janelas e portas fechadas", disse em entrevista por telefone à Folha.
"Então percebi que o calor ajudava a ter mais flexibilidade."
Outro benefício que pode incentivar a aguentar 90 minutos de sauna é, segundo ele, o atributo desintoxicante da técnica. Tamanha desintoxicação fez com que a repórter pernoitasse no banheiro com vômito e diarreia, após o primeiro dia de prática no estúdio de Fulham, sudoeste de Londres. Esses efeitos colaterais estão bem descritos num imenso folheto, que quase ninguém lê, distribuído assim que se paga a aula.
"Expire e mande embora todas as tensões do dia, tudo o que há de ruim no corpo. Alongue ao máximo, sem cutucar o colega da frente", pedia a professora. Difícil, numa sala com cerca de 60 alunos, onde o espaço entre um tapete e outro era inexistente.
A administradora sul-africana Yvete Dupeez, 35, que descobriu a modalidade por uma reportagem na televisão, está em um dos tapetes e diz que não consegue se ver mais longe do calor. "Me sinto limpa e energizada depois das aulas. Levei umas três aulas para começar a curtir e ainda não gosto muito durante o verão", diz.
A londrina Rachael Harrys, 29, chegou ao estúdio por indicação de uma amiga australiana e conta que abandonou as pílulas para dormir há um ano, quando começou a praticar.
Depoimentos entusiasmados incluem perda de peso, aumento de autoestima e até cura do diabetes. Talvez por esses motivos, hoje Bikram ostente a marca de 4.000 estúdios pelo mundo e uma fortuna estimada pelo "Wall Street Journal" em US$ 7 milhões.
Bikram mora em Los Angeles (EUA), em Beverly Hills, aonde diz ter chegado a convite da amiga e atriz Shirley Mac- Laine, para quem deu aulas na Índia. "Foi ela quem me emprestou dinheiro para abrir o primeiro estúdio e me obrigou a cobrar para espantar os hippies sujos das aulas", diz.
Segundo o iogue, o ex-presidente americano Richard Nixon lhe deu pessoalmente o visto de permanência nos EUA. "Eu o curei de uma trombose, em Honolulu, em 1972. Se não fosse eu, ele teria tido que amputar as pernas", diz.
O estilo falastrão de Bikram, que parou a entrevista para dizer que o astro de "Quem Quer Ser um Milionário", Dev Patel, havia irrompido em sua sala, também chama a atenção. Sua frota de 44 Rolls-Royces e Bentleys e sua paixão por relógios são tão conhecidas quanto a modalidade de ioga que criou.
Mas esse luxo todo condiz com os fundamentos da ioga? Bikram diz que sim, que não existe um pedaço do mundo especial criado para iogues e que ele faz parte da sociedade em que vive. "Se médicos e cientistas bem-sucedidos vivem assim, por que os iogues não podem?" Ele afirma que trabalha duro, cura pessoas que sofrem do coração, salva casamentos e ajuda quem tem problemas na espinha. "Qual é a contradição em viver bem?"
Bikram também ostenta, aos 63 anos, um corpinho de 20, que, segundo ele, foi esculpido com a prática, muita meditação, poucas horas de sono e quase nenhuma comida. Apenas alguma proteína à noite.
Nos planos dele de dominação do mundo, o Brasil também está na mira, mas é preciso acertar um detalhe. "Tenho muitas professoras brasileiras aqui nos Estados Unidos, mas nem elas nem as russas querem voltar para os seus países." A Folha não encontrou escolas que ofereçam as aulas no país.


[...]AS AULAS SÃO FREQUENTADAS POR GENTE COMO MADONNA, A CANTORA LILY ALLEN E O TENISTA NÚMERO DOIS DO MUNDO, ANDY MURRAY



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