São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

[+]CORRIDA

Rodolfo Lucena

O que é ser corredor

Dias desses, num encontro casual, acabei me tornando audiência de um debate sobre o universo dos corredores brasileiros.
"Quantos somos?", perguntava o analista de forma retórica. E respondia, contabilizando qualquer um que tivesse participado de qualquer corrida, em qualquer distância, nos últimos 12 meses. Chegava à conclusão de que há meros 600 mil corredores no Brasil. Era uma resposta a contabilidades mais entusiasmadas, que estimam em 6 milhões o número de praticantes no país.
Cá com meus quilômetros, não sei exatamente qual é a importância desses cálculos, a não ser para quem queira lançar um produto, prospectar mercado. Mas é fato que o tema suscita polêmica em publicações e fóruns de corredores.
No terreno internético, já li definições que excluem de nosso universo quem corra de bermudão e camiseta de time de futebol... No caso dos maratonistas, há quem considera como meros diletantes os que cumprem o percurso em mais de quatro horas ou caminham partes do trecho.
Pois o tema também me intriga. Para fazer meu cálculo, no entanto, preciso definir o que é ser corredor. Ou, bisbilhotando mais fundo, o que é correr.
"Deslocar-se, numa sequência de impulsos, repousando o corpo ora sobre uma, ora sobre outra perna, e num andamento em geral mais veloz que a marcha", responde o "Aurélio". A definição não me basta, pois esquece tudo o que envolve e precede o ato: a decisão, o combate à preguiça, a mudança que provoca em nossas vidas.
Correr, já disse aqui, não é só corrida. Uma das grandes atletas que conheço nunca percorreu os 42.195 metros.
Mas é recordista mundial de presença em maratonas: do alto de seus mais de 70 anos e duas cirurgias de coração, já esteve em mais de 330 provas, torcendo pelo marido, um entomologista aposentado que, hoje com 80 anos, espera chegar a 2012 com 500 maratonas no currículo.
Correr, para mim, já virou metáfora da vida. De nossos esforços, quedas e conquistas. De dores e sofrimentos silenciosos, das alegrias explosivas, do êxtase apaixonado. Donde se conclui que somos todos atletas, todos corredores. E somos bilhões.


RODOLFO LUCENA , 52, é editor de Informática da Folha, ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record)

rodolfolucena.folha@uol.com.br

LIÇÕES DOS QUILÔMETROS
Ele devora quilômetros como se fossem chocolate ao leite, suporta a dor e o cansaço como temperos picantes no molho de tomate do macarrão. É Valmir Nunes, o maior ultramaratonista brasileiro, bicampeão mundial de corridas de cem quilômetros e recordista das Américas em provas de 24 horas -durante um dia inteiro rodando em uma pista de 400 m em Taiwan, ele correu 273,8 km. Nunes acaba de lançar o livro "Segredos de um Ultramaratonista" (ed. Hemus), em que conta suas experiências nessas corridas ultralongas. E diz quase em segredo para o leitor: "A gente está sempre aprendendo".


Texto Anterior: Inspire Respire Transpire: Quanto mais quente, melhor
Próximo Texto: Rugas na fala
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.