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Rosely Sayão
O estresse dos pais
Outro dia, um pai
apontou uma questão bem interessante. Ele assinalou o estresse dos adultos com os filhos
e no exercício da autoridade
educativa que lhes cabe.
É verdade: os pais, atualmente, se estressam muito por causa dos filhos. Aliás, boa parte
desse estresse diz respeito à
maneira como são vivenciados
os papéis de pai e mãe -muito
mais do que ao comportamento
dos filhos. E, em geral, são estes
que costumam receber todos os
créditos do estado permanente
de tensão em que vivem os
adultos responsáveis por eles.
Vamos, só para reflexão, partir da premissa de que não são
os filhos os únicos responsáveis
pelo estresse dos pais. Para tanto, precisamos deixar de considerar que as crianças e os adolescentes de hoje sejam mais
exigentes e críticos e tenham
menos limites e menor tendência a acatar a autoridade. Vamos refazer a pergunta: por que
os pais são tão estressados?
Primeiramente, porque, de
acordo com a cultura a que estamos submetidos, vive-se
muito mais para si do que para
os outros. E os filhos são alguns
desses outros: são próximos,
estão ali por desejo dos pais,
mas ainda assim continuam na
condição de outros. E são outros que exigem bastante de
seus responsáveis, mesmo que
não sejam crianças com demandas infindas.
Sabemos que as crianças não
nascem sabendo obedecer e
que durante todo o processo
educativo vão provocar as autoridades, transgredir e tentar
burlar as regras.
Sabemos também que, enquanto não assumem a própria
vida, é comum que deixem os
deveres para os responsáveis
por eles. Por isso é preciso lembrar aos filhos do banho, da escovação de dentes, da lição de
casa etc. E essas tarefas atrapalham a vida dos adultos que
querem viver para si.
Além disso, vivemos numa
sociedade que tem como ideal a
manutenção da juventude eterna, o que leva à busca da aparência jovem e a um estilo de vida característico. E, vamos convir, é difícil conciliar juventude
com a maturidade necessária
para aplicar paciência e persistência no trato com os filhos.
Finalmente, precisamos reconhecer que o amor dos pais é
sempre marcado pela idealização. Hoje, os pais planejam os
filhos que querem e imaginam
que serão extremamente felizes. Mas a felicidade só poderá
ser contabilizada após o árduo
trabalho educativo -e é aí que a
coisa encrenca. Os pais anseiam pela felicidade imediata,
pela satisfação no presente, e,
como nem sempre os filhos
proporcionam esses momentos, o que sobra é o estresse.
Se quem tem filhos, por mais
espevitados que sejam, entender que não residem só neles os
motivos de seu estresse, conseguirá ter mais paciência, mais
firmeza para ocupar o lugar de
autoridade e, desse modo, diminuir a pressão e até tornar o
processo educativo e a convivência com os filhos algo mais
equilibrado, mais tranqüilo e
mais efetivo.
Criança não precisa ser barulhenta, desobedecer sempre,
ser agitada; criança pode ser
tranqüila. Aliás, essa é a melhor
condição para elas viverem plenamente a infância.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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