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"Você aprende a se defender do preconceito"
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Thompson Toledo, 22, começou a desconfiar que tinha
algum problema aos sete anos,
no início da vida escolar. Notou
que, diferentemente dos colegas, ia ao médico e tomava remédios com muita frequência.
Foi um funcionário da instituição para crianças com HIV onde morou dos sete aos 18 anos
que contou-lhe o problema.
O menino havia sido criado
pela tia até então -mudou-se
para um orfanato e depois para
a instituição por dificuldades
financeiras. Sua mãe viveu até
ele completar 16 anos, mas foi
morar no Rio quando ele era
muito pequeno. Tinha quatro
anos quando o pai morreu.
A mãe chegou a levá-lo duas
vezes ao médico, mas ela própria não queria se cuidar. "Eu
falava para ela tomar remédios,
mas ela dizia que já tinha vivido
a vida dela. Faleceu aos 37." Os
vizinhos diziam à tia do garoto
que deveria separar os objetos
dos seus outros filhos, mas ela
não dava importância. "Ela
sempre me tratou igual."
Mas ele não teve tanta sorte
na escola, um colégio católico
particular ao lado da casa de
apoio. Foi discriminado pelos
colegas. "Não queriam fazer
trabalho comigo. Separaram
um banheiro e um bebedouro
para mim. Me chamavam de aidético, as mães não deixavam
que eles falassem comigo. Foi
um rótulo muito pesado."
Com o tempo, aprendeu a lidar com o preconceito. "Você
aprende a se defender. Eu explicava que não era assim, mostrava as formas de contágio.
Ganhei amigos de verdade."
Foram alguns desses amigos
que o ajudaram quando passou
por momentos difíceis. Depois
que deixou a casa de apoio, aos
18, teve problemas familiares e
saiu de casa. Morou por cinco
meses na rua e inventava que
estava com dor para conseguir
comida no hospital. Parou de se
tratar. "Perdi vários amigos que
tinham Aids. Isso me balançou,
foi me desmotivando."
O descuido deixou sua saúde
mais frágil. Só neste ano, foi internado três vezes. Mas voltou
a se tratar. "Meus amigos ficavam no pé, falavam que gostavam de mim, que minha vida
era valiosa", lembra.
Thompson ainda considera o
preconceito grande. Mesmo já
tendo falado sobre o tema em
palestras em escolas, confessa
que hesitou em dar esta entrevista. "Decidi falar porque, querendo ou não, você acaba se tornando uma referência para falar de Aids, de juventude."
Foi depois de dar uma palestra no Hospital Emílio Ribas,
onde se trata, que conheceu a
atual namorada, de 20 anos,
que não tem o vírus. A maioria
de suas ex era portadora do
HIV. No caso de a menina não
ter o vírus, ele nem sempre
contava sobre a doença.
Thompson diz que há três tipos de pessoa para namorar:
"Aquela que se separa depois
que você conta que tem Aids,
aquela que finge que aceita e
dois meses depois some e aquela que realmente aceita."
Hoje, ele trabalha em duas
entidades ligadas ao HIV. Pensa em estudar psicologia, adora
cinema, samba e toca instrumentos de percussão. Quando
pode, vai aos jogos do seu time
-é corintiano "roxo".
Diz que, com a rotina que leva, não tem tempo de pensar
em coisas ruins. "Estou sempre
fazendo algo. Deixa que a morte, quando quiser, chegue sem
avisar. Porque, se ela avisar, eu
mando embora."
(FM)
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