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depoimento
Após 15 anos, uma surpresa
BEATRIZ PERES
EDITORA DO EQUILÍBRIO
Na primeira metade dos
anos 1990, as crianças
contaminadas no parto se
dividiam em dois grupos:
os bebês, que tinham resultados positivos para o
vírus, mas poderiam ter
apenas os anticorpos anti-HIV da mãe, e as um pouco mais velhas, que não
conseguiriam mais obter
um exame negativo.
Os voluntários que trabalhávamos na casa de
apoio a crianças soropositivas recebemos Thompson já no segundo grupo.
Aos sete anos, convivia
com um diagnóstico que
projetava um futuro incerto e enfrentava um mundo
de preconceito do qual não
podíamos protegê-lo.
O que dizer a um menino que volta da escola reclamando do bebedouro
exclusivo que os colegas
lhe haviam reservado? E o
que responder quando ele
contava que os outros não
queriam tocá-lo, apesar de
seus argumentos sobre a
impossibilidade de transmitir o vírus pelo abraço?
Entre os vários remédios administrados diariamente e as idas constantes
ao hospital por conta das
doenças oportunistas, tentávamos estabelecer uma
rotina possível: ir à escola,
fazer as tarefas, ouvir e
contar histórias, jogar bola, empinar pipa, conhecer
o circo e celebrar os aniversários com festinhas.
E eu evitava pensar no
que aconteceria nos anos
seguintes -porque nem as
minhas expectativas mais
otimistas incluíam a surpresa de, após 15 anos sem
nenhum contato, ver
Thompson adulto entrando na Redação do jornal,
para contar à repórter em
busca de um personagem
tudo o que já fez e o que
ainda pretende realizar.
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